Quando fiz a primeira série, a maioria dos meus professores vinha de
fora, poucos moravam aqui. Todos deixaram lembranças que guardo com muito
carinho. Eu gostava muito do seu João, professor de matemática. Era de São
Manuel. Certa vez, lançou um desafio. Era um problema de raciocínio. Foi
chamando os alunos pela ordem de chamada para ver quem daria a solução. Rodou a
classe toda e eu torcendo para chegar a minha vez. Que glória! Eu fui para a
lousa e resolvi o mesmo. Era um problema baseado em uma das propriedades da
subtração. Seu João era legal. Aluno distraído era alvo certo de sua pontaria
com tocos de giz. Gostava de pescar e vinha sempre na fábrica de farinha do meu
pai comprar quirela para usar como isca. Tenho certeza que não foi a matemática
que me reprovou na primeira série. Eu sempre gostei muito da matéria.
Dona Edméia, professora de Educação Física, também era de São Manuel.
Baixinha, gordinha, impecável no seu uniforme branco, era a responsável por
todas as apresentações do Virgílio Capoani na cidade e fora. Na época do
ginásio, apresentamos muitas demonstrações de Educação Física. Os desfiles
cívicos eram maravilhosos. Lembro que o branco era a cor que predominava nos
uniformes. Branco da cabeça aos pés. Havia uma recomendação especial, nada de
pulseira, relógio ou qualquer outro adorno. Tínhamos muito orgulho de passar
desfilando pela Rua 15 de Novembro. Passar pelo palanque das autoridades, ser
aplaudido pela multidão, enchia o nosso coração de alegria. Quantas vezes nosso
time de voleibol foi jogar em São Manuel, sua cidade. Dona Edméia amava o que
fazia e nós correspondíamos.
Dona Julieta, Professora de Trabalhos Manuais, vinha de Botucatu.
Desconheço outra professora que seja tão prendada nas artes manuais quanto ela.
Foi a verdadeira mãe em sala de aula. Era alta, magra, de traços delicados, impecavelmente
vestida, cabelos sempre bem cuidados e penteados, unhas bem feitas, tudo nela
era gracioso. Tinha mãos de fada. Com muito carinho e sabedoria, nos ensinou a
arte de ser uma mulher prendada. Quem passou pelas suas mãos, aprendeu desde
pregar botão, até fazer aplicação em ponto paris, tricô, crochê, frivolité,
nhanduti, richelieu, rendas, macramê, ponto cruz, ponto cheio e muitas coisas
mais. Enquanto ensinava, conversava, e muitas noções introduzia.
De Agudos, vieram dois professores, Seu Santana, de Geografia, e Seu
Osvaldo, de História. Seu Santana era uma figura paternal. Muito amoroso,
calmo, enchia a lousa de gráficos. Eu não estava amadurecida para assimilar
todo aquele conteúdo da primeira série do ginásio. Lembro-me de Nicolau
Copérnico, do Sistema Solar, dos Planetas, das Eclipses, da figura do
professor carinhoso, que respeitava as nossas limitações. Ele eu abraçaria como
um pai.
Seu Osvaldo, Professor de História, alto, magro, sério, era o oposto do
Seu Santana. Nenhum professor de História conseguiu a façanha de me fazer
gostar da matéria. Não sei de onde vem tamanha aversão. Nunca entendi a tal
linha do tempo. Primeiro nos ensinaram a História do Brasil, depois a Historia
Geral, mas afinal de contas, o que vem antes, o que vem depois? Tudo foi
ensinado muito fragmentado e o rolo foi aumentando com o passar do tempo. Sem
falar que muitas vezes o conteúdo não era vencido.
Apesar de tudo, meus
professores marcaram positivamente a minha vida. Sou grata a todos. Esta é uma
página longa. Quero escrevê-la sem pressa. Até!
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