segunda-feira, 16 de março de 2015

UM CORAL DE ANJOS

As festas que aconteciam no Esperança de Oliveira eram famosíssimas. Muito bem preparadas pelos seus professores. Onde quer que acontecessem, eram sempre prestigiadas, aliás, a escola tinha uma responsabilidade muito grande nas apresentações, pois o público já sabia que seriam sensacionais. As apresentações em desfiles roubavam a cena. O mesmo acontecia com as confraternizações de final de ano, quando delas só se excluíam os alunos. As aposentadorias sempre foram motivo de festas e homenagens. Lembro-me de uma, a que foi preparada para a aposentadoria da Cidinha Montoro. Nesta tive oportunidade de entrar com uma participação especial, envolvendo os alunos das duas quartas séries do período da manhã. Juntamos os meus alunos e os da Alice, aliás, uma das raras vezes que a vi dando aula para outra série que não fosse o primeiro ano. Preparamos um coral. Embora minha voz fosse muito mais para uma locutora de rádio, sempre me saí muito bem cantando com meus alunos. Pois bem. Era final de ano. Como sempre, até hoje, o clima de Natal começa a entrar em minha casa pela música. Guardo até hoje um LP dos Canarinhos Liceanos, do Rio de Janeiro, com as mais belas canções de Natal. Estas canções fazem parte da vida de minha família. Todo Natal começava a ser preparado através delas. O LP é tão antigo e tão atual, que ele foi atravessando os tempos e suas músicas foram se adaptando às formas mais modernas de reprodução . Do Long Play de vinil para a fita cassete, da fita cassete para o CD, sempre produzindo o efeito mágico da época de Natal. Ouvi as músicas. Selecionei as que fariam parte da apresentação. Ensaiamos. Os recursos que eu tinha nas mãos eram um rádio e a fita cassete. O rádio era portátil, daqueles que a gente ia buscar no Paraguai. Levava para a escola todo dia. De portátil não tinha nada, mas tinha um som! Fui educando o ouvido das crianças fazendo-as ouvir as músicas que iriam aprender a cantar. A cada ensaio do nosso coral, eu ficava mais encantada com os resultados. Mas faltava um detalhe: coral que se preza tem que estar uniformizado. Eram mais de setenta crianças. Aí tive uma idéia.  Gostaria que as crianças estivessem todas de branco. O tempo era curto. Não podia nem pensar em pedir para os pais uma veste só para a apresentação de uma noite. Foi então que me lembrei das vestes brancas de Primeira Comunhão. Corri para Tia Yolanda, contei o que estava fazendo e do que estava precisando. Zelosa como era com as coisas da Igreja, prontamente me atendeu, não sem antes fazer uma série de recomendações. Chegou o grande dia. As crianças enfileiradas no corredor central do Esperança de Oliveira, todas de branco, portando nas mãos uma vela acesa. As luzes se apagaram, tendo início a apresentação. Até o tablado do Paulo Zillo havíamos emprestado. Num cantinho ao lado, bem ao meu alcance, meu rádio portátil, ele daria o tom e faria a parte instrumental de acompanhamento. A apresentação causou uma emoção indescritível. Foi o momento mais lindo da festa, que continuou depois com um jantar. No dia seguinte, cuidei de atender as recomendações de tia Yolanda, sempre tão generosa. Lavei pessoalmente as mais de setenta vestes. Os varais de minha casa pareciam da rouparia do céu. Todo branco com as vestes dos anjos! Entreguei todas passadinhas para tia Yolanda, que as guardou para a próxima festa de Primeira Comunhão. Um agradecimento especial a todos os alunos que participaram. Gostaria de lembrar o nome de todos para homenageá-los. Quem sabe algum deles ao ler esta página, hoje adulto, possa compartilhar da mesma emoção!

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