Quando fiz o curso primário, o Esperança de Oliveira ocupava
a mesma área que ocupa hoje. A sua área livre, onde brincávamos na hora do
recreio, foi diminuída pela necessidade de ampliar o número de salas de aula,
banheiro para professores, laboratório, etc.
No meu tempo de criança, o banheiro dos professores era
junto com o dos alunos. Havia um na ala masculina, outro na ala feminina,
separado, para uso exclusivo deles. A entrada, saída, lavatório era comum. Porém,
nenhum aluno se atrevia a entrar no que era reservado para eles.
A circulação pelo pátio e pelo galpão obedecia regras rígidas.
Há um dito popular que dizia: “Homem com homem, mulher com mulher, faca sem
ponta, galinha sem pé”! Traduzindo: meninos de um lado, meninas do outro. Na fila,
as meninas iam à frente e os meninos atrás. As classes eram muitas.
Mas voltemos a falar dos arredores do Grupo Escolar
Esperança de Oliveira.
Na mesma quadra do Esperança, descendo a Antonio Tedesco (na
época Floriano Peixoto), havia um armazém, um barbeiro, a casa do avô do meu
marido, seu Ricieri Cavassutti, fanático torcedor do Palmeiras, mais uma casa,
na época ocupada pelo Sr. Miguel Palombo, famoso barbeiro. Na esquina, lado a
lado com o Esperança, o popular Bar São Paulo e, um pouco acima, a loja de
Armarinhos da D. Cristina, isto sem falar do açougue do S. Joaquim.
Do Bar São Paulo, as poucas crianças que tinham dinheiro, na
época, moedas, voltavam com as mãos cheias de guloseimas: suspiros,
pé-de-moleque, doce de leite, pirulitos, dadinhos de chocolate, balas, etc. Uma
moeda de “dois cruzeiros”era uma fortuna.
Minha casa ficava na quadra de cima do Esperança. Ocupava uma
área muito grande. Ao lado da casa, ficava a fábrica de farinha de milho do meu
pai. Ali, o milho era trazido com casca, debulhado, canjicado, transformado em fubá,
quirela, farelo, farinha de milho e comercializado.
O farelo, que era o produto mais barato do milho, meu pai
nos deixava pegar e levar para as pessoas que criavam galinhas, porco, no
quintal de suas casas. Com isso, nós ganhávamos uma moedinha que se
transformava em guloseimas.
Na mesma quadra da escola, agora ao lado da Pedro Natálio
Lorenzetti (na época era Marechal Deodoro da Fonseca), na esquina oposta ao Posto
de Gasolina, ficava e ali está hoje, a primeira Igreja Presbiteriana de Lençóis
Paulista.
Lembro que entrava muito ali, pois bons e queridos amigos
eram filhos do zelador da Igreja e ali moravam. (Peres Pires de Camargo, já
falecido, e Geszer Pires de Camargo, hoje residente em São Paulo, casado com
uma grande amiga, Odila Moreira de Souza.
Na esquina hoje ocupada pelo Posto de Gasolina, não lembro o
que havia, mas me lembro da casa ocupada pela saudosa Nair Maganha, professora
do Esperança de Oliveira.
De costas para o Esperança, ficava a Igreja Matriz Nossa
Senhora da Piedade. Padre Salústio Rodrigues Machado era o nome que mais ouvia
na boca dos meus pais, meus sogros, avós. Há estórias engraçadas sobre a forma
como cativava seus fiéis. Lembro que na sala de jantar da tia Angélica Cicconi
havia um porta-retrato com a sua foto. Todos que ali entravam, não tinham como
escapar do seu olhar amigo.
Lembro-me, e quem não se lembra, da figura simpática do
barbeiro da Floriano Peixoto, S. Alcides, pai da Neusa Góes. Todos os dias
passava pela sua porta para ir à escola. Sempre tinha uma palavra de estímulo
para mim. Lembro-me da época do Curso de Admissão, quando ia à escola às
12h30min e voltava às 18h. Ele não se cansava de elogiar o meu esforço para
continuar os estudos.
Vi a Igreja Nossa Senhora da Piedade (antiga) ir ao chão e dar
lugar à nova e imponente. Lembro-me do trabalho que deu para levantar os sinos
até a sua torre. Lembro-me da multidão que se juntou nas escadarias para a inauguração.
Lembro-me, quando criança, de ter subido a escadaria para o lugar destinado ao
coral e, pasmem, junto com outras crianças, ter subido a escada que leva aos
pisos mais altos. Queríamos chegar ao topo. E depois dizem que ninguém pode com
as crianças de hoje!
Hoje, para bater o sino, é só apertar um botão, tudo é
regulado com botões. Naquela época, era na força, havia três cordas, uma para
cada sino. Era preciso muita força para fazê-los badalar. Nas festividades, o
bimbalhar alegre dos sinos; nos funerais, o toque triste. O sino sempre nos
avisava quando alguém tinha morrido.
A Casa de Deus acolhia o corpo da pessoa falecida, havia o
ritual feito pelo Padre e o cortejo seguia à pé, sob o som triste dos sinos da
Igreja Matriz. O caixão era carregado pelos amigos e familiares.
O médico Dr. Antonio Tedesco, habitante mais ilustre de nossa rua, foi vizinho
do Esperança de Oliveira. Veio muito jovem para Lençóis Paulista.
Minha mãe conta que quando tive sarampo, foram buscá-lo de
madrugada. Ele se levantou, colocou a sua impecável roupa branca, andou uma
quadra e meia, embaixo de uma chuva torrencial. Naquela época, não havia
calçamento. Chegou de lama até os joelhos.
Dr. Tedesco, como ficou conhecido, salvou a minha vida. O sarampo,
com suas complicações, matava.
Este médico jamais será esquecido. Meu pai, em
agradecimento, levava para ele, todo Natal, uma leitoa.
Quem não se lembra de suas filhas Marilene, Mariluce e seu
filho Tedesquinho? Saudades. Mariluce era uma das frequentadoras do Bar São
Paulo. Voltava com as mãos cheias de doces, balas e distribuía para todos os
coleguinhas.