segunda-feira, 31 de março de 2014

Davi Baptistella

Quem não se lembra do S. Davi? Homem forte, chamava atenção por seu porte, sua voz, seus passos.
Na época em que começou a trabalhar no Esperança de Oliveira, era um servente, mas suas atribuições correspondem hoje às de um Inspetor Escolar.
Cuidava com muito carinho dos meninos. Lembro-me dele circulando por todo o espaço do Esperança de Oliveira, dentro e fora do prédio.
Hora de abastecer os tinteiros. Lá vinha o seu Davi, pedia licença, entrava na sala de aula e ia, de carteira em carteira, abastecendo os mesmos. Servia a todos com muita presteza.
Hora do recreio. Seus braços vigorosos batiam repetidas vezes o sino. Seu som se espalhava por toda a escola e arredores. Tenho saudades do sino do Esperança de Oliveira.
“Não encontrou o S. Davi?” Procure-o no porão. Com certeza estará lá. O porão, porém, era o lugar mais amedrontador da escola. Corriam conversas assustadoras sobre um esqueleto que havia lá. Ninguém olhava nem pelas janelinhas de ventilação. Nem a Diretoria para onde os alunos tinham medo de ir, caso fizessem alguma malandragem, era tão temida.
Conversando com o S. Tonico Placa, pai do meu genro, construtor de renome em Lençóis, ouvi uma história interessante do seu tempo de criança. Frequentou o Esperança de Oliveira de 1939 a 1944, quando se diplomou. Repetiu um ano porque ficou muito doente. Morava no sítio, próximo ao Rio da Prata, mais ou menos onde é hoje o Village.
Seu Tonico vinha à pé e descalço. Quando chegava à escola, já havia caminhado um longo trecho. Era só mato. Quando chovia, chegava de barro até o joelho. Como entrar na escola daquele jeito? Era, então, que surgia a figura do S. Davi. De mangueira na mão, lavava os pés das crianças antes de entrar na sala de aula, porque se o barro secasse, iria esfarelar e sujar todo o assoalho. Imaginem depois, a dificuldade para limpar.
Que bom se pudéssemos incutir, hoje, em nossos alunos, o amor, o respeito, o carinho devido às nossas escolas e à sua História.
Ao S. Davi nossa homenagem no ano em que sua escola comemora 100 anos.

domingo, 30 de março de 2014

30 de Março de 2.014- DOMINGO

Enquanto escrevo esta página, os sinos do Santuário Nossa Senhora da Piedade batem vigorosamente, chamando os paroquianos para a missa das nove horas, a missa das crianças.
Voltando ao meu tempo de criança, lembrei que era da mesma forma que ele chamava.
Domingo, Dia do Senhor, dia de colocar a melhor roupa e participar da Santa Missa. Roupa nova era para ser estreada na Igreja, para ir à Santa Missa. Primeiro Deus, depois vinham as outras coisas.
Com sete anos fiz a primeira comunhão. Recebi a Primeira Eucaristia no prédio da Ferragens São Carlos, onde nossa Igreja estava funcionando, provisoriamente. Por que isto aconteceu? Porque o Santuário, tal como o conhecemos hoje, estava em construção. Lembro-me de detalhes da obra, até do pedreiro que despencou lá do alto e morreu. Porém, fiquei encantada com o que descobri ontem, conversando com o S. Tonico Placa, pai do meu genro José Benedito. Ele me disse que a nossa Igreja foi projetada com o formato de uma grande cruz. Na ponta de cima da cruz, o altar central, onde aconteceriam as grandes celebrações, nos braços da cruz, os altares dedicados a S. José e ao Sagrado Coração de Jesus. Seguindo o traçado da cruz, em direção à sua parte inferior, o local destinado à assembleia. Bem na base da cruz, seria erguida a torre que acomodaria o coral, os sinos, o relógio, etc.
A primeira Igreja não caiu de imediato. A construção começou atrás dela. Quando grande parte da Igreja nova ficou pronta, chegando muito próximo da velha, esta foi demolida. Foi por esse motivo que recebi a Primeira Comunhão no prédio ocupado pela Ferragens São Carlos até  há pouco tempo.
Como era tradição na época, guardávamos jejum absoluto antes de receber Jesus na Eucaristia. Após a missa, uma grande festa nos esperava. Tinha bolo, doces, refrigerantes, etc.
Segundo S. Tonico, nossa Igreja ia ficar maior ainda, mas por motivos que fogem ao nosso conhecimento, ela ficou do tamanho que a conhecemos.
Com o passar dos anos, nossa Igreja sofreu alterações significativas, mas até hoje é muito bem cuidada e é um dos pontos turísticos de Lençóis Paulista. Recebi minha primeira comunhão no dia 17 de outubro de 1.952, pelas mãos do Pe. Ademar Serafim. Guardo com muito carinho a Lembrança da Primeira Comunhão.     
   

sábado, 29 de março de 2014

O Ipê Amarelo (Homenagem à Professora Vera Braga Franco Giacomini)

Quem não se lembra do ipê amarelo do Esperança de Oliveira? Ficava no pátio que dá para a rua Dr. Antonio Tedesco, próximo à esquina. Seus galhos se derramavam sobre o muro, alcançando a calçada da rua. Na época da florada, era uma festa para os olhos.
Todas as pessoas que subiam e desciam pela rua Dr. Antonio Tedesco contemplavam, embevecidas, a sua florada.
Mas o que aconteceu com o majestoso ipê amarelo? Hoje ele não existe mais. A necessidade de uma quadra de esportes para a prática de Educação Física o colocou no chão. A cidade inteira sentiu, mas uma pessoa, de modo especial, ficou na minha lembrança como a mais ferrenha defensora do ipê amarelo, Vera Braga Franco Giacomini, uma das melhores professoras de português que Lençóis já teve.
D. Vera veio muito jovem para Lençóis. Casou-se com o Sr. Gerson Giacomini, irmão das também professoras Juraci e Marisa. Seus filhos nasceram em Lençóis. Morava também muito próximo do Esperança, mas lecionou a vida toda no Virgílio Capoani.
Saudades da D. Vera e que privilégio ter sido sua aluna. Suas aulas nos marcavam profundamente. Partindo de um texto, ela englobava todas as noções que queria nos transmitir. Quando falava do autor, era como entrar no túnel do tempo. Passávamos a viver de acordo com a época do escritor. Sua didática era completamente diferente dos demais professores. Era muito abrangente. Quando terminava a aula, o quadro estava completamente tomado. D. Vera riscava, escrevia, parecia que queria representar tudo que nos transmitia. Os grandes escritores desfilavam aos nossos olhos com a maior competência da mestra. Da literatura nacional à literatura mundial. Olavo Bilac, Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Machado de Assis, Rui Barbosa, Castro Alves, Camões e tantos outros preenchiam suas aulas. Tive a sorte de tê-la como professora nos quatro anos de ginásio.
Temos em Lençóis o bairro da Cecap, cujas ruas recebem o nome de escritores famosos e, é lá, que D. Vera foi homenageada, dando nome a uma escola.
O Professor Célio Pinheiro deu continuidade ao trabalho de D. Vera, no Curso Normal, já direcionado para Literatura Infantil, público alvo da nossa formação.      

sexta-feira, 28 de março de 2014

O acesso às salas de aula

O básico em uma planta de Grupo Escolar, na época, eram as salas de aula, a diretoria e a sala dos professores.
No Esperança, tínhamos oito salas de aula. No centro, quatro salas e, em cada lateral, duas. Eram ligadas por corredores.
Em uma lateral, além das duas salas, a diretoria. Na outra, a sala dos professores. Tudo era funcional, ou estratégico. O olhar do diretor tinha que dominar tudo.
Duas escadarias davam acesso ao prédio. Pela da direita entravam os professores. Pela da esquerda, o diretor.
Em cada extremidade do corredor central havia uma pia, com sabonete e toalha de mão, onde os professores faziam a higiene das mãos quando saíam da sala de aula.
Sobre a pia do corredor onde ficava a diretoria, havia um crucifixo, presença obrigatória em todos os estabelecimentos públicos. No lado oposto, sobre a pia estava a figura, ou melhor, retrato do Esperança de Oliveira, professor que deu nome à escola. Lembro-me vagamente de sua biografia. Não me atrevo a escrever sobre ele, mas prometo pesquisar e contar um pouco de sua vida.
Outro detalhe que ficou em minha lembrança era um mapa do Brasil em madeira, com fotografias do Diretor da época, Corpo Docente e uma Turma de Formandos. Com as  sucessivas reformas que o Esperança de Oliveira sofreu e com o passar dos anos, ele sofreu as consequências. Hoje ele ainda permanece na parede. Para mim, uma preciosa relíquia. Também foi restaurado um dos relógios que fazia parte do mobiliário de toda sala de aula. Encontra-se na Diretoria. No pátio, até há pouco tempo, chumbada no chão, algumas carteiras antigas: estrutura de ferro e também de madeira. Havia duplas e depois individuais.
O assoalho da escola inteira era de madeira. Hoje foi substituído pelo piso frio.
As enormes janelas das salas de aula, com duas folhas que abriam e deixavam tudo claro, arejado, foram substituídas por vitrôs.
Nas férias, a escola permanecia aberta. Era feita a faxina geral. Nós, alunos que morávamos nos arredores, podíamos entrar e sair à vontade, até brincar na lousa.
Os Grupos Escolares construídos na época seguiam um padrão. É possível encontrar nos municípios mais antigos, a mesma disposição de salas, diretoria, sala dos professores, etc. era o que havia dentro das escolas.
As demais dependências foram surgindo acompanhando as exigências de cada época

quinta-feira, 27 de março de 2014

Tarefas, tarefas, tarefas...

Fui alfabetizada pela Cartilha Sodré. Depois dela, havia a coleção de livros Seleta Escolar, um para cada ano do curso primário.
Seleta Escolar, uma seleção de histórias (fábulas, contos, etc) e poesias. Tudo da mais fina literatura. Foi através dos livros desta coleção que entramos em contato com a poesia de Olavo Bilac, Casemiro de Abreu e outros.
Quem não se lembra da fábula de Esopo: “A raposa e as uvas”? Se não me falha a memória, era a primeira lição do Seleta Escolar do segundo ano. Lembro-me tão bem da lição de moral que vinha no final: “As uvas estão verdes”.
Assim íamos aprendendo e fixando os conceitos morais.
Estudar os sinônimos, trocar na leitura corrente as palavras assinaladas pelos seus sinônimos, interpretar, copiar um trecho da leitura, eram os exercícios que fazíamos.
Uma professora de tornou famosa no Esperança de Oliveira por sua braveza, pela quantidade de tarefa que passava e, principalmente, porque foi excelente professora. Trata-se de D. Antonieta Grassi Malatrasi. Morava a uma quadra e meia do Esperança. Era casada com um dos enfermeiros mais populares de Lençóis, conhecido de todos, Sr. Winter. Teve duas filhas: Glória e Miriam. De todas as professoras de que me lembro, D. Antonieta era a mais rigorosa, a mais temida.
Tínhamos férias de trinta dias em julho. Para cada dia de férias, havia uma lição do livro Seleta Escolar para copiar. Eu me lembro de ter passado um apuro danado por ter deixado de fazer uma cópia por dia. Os dias de férias foram acabando, a tarefa estava acumulada e o castigo seria grande se não desse conta do meu dever. Foi difícil, mas não voltei para a escola sem cumprir a minha obrigação.
Dona Antonieta Grassi Malatrasi dá nome hoje a uma escola situada na Vila Mamedina. Justa homenagem a quem honrou e ajudou a formar gerações  e gerações de lençoenses!

quarta-feira, 26 de março de 2014

O armário do professor

No fundo da sala ficava o imponente armário do professor. Era muito alto, de madeira, com portas de vidro. Metade era do professor que dava aula de manhã e metade era do professor da tarde. Ali ficavam nossos cadernos e o material do professor.
Hoje me lembrei da forma como o professor distribuía e recolhia nossos cadernos, pois eles não eram levados diariamente para casa, somente ia ao final da aula, o caderno de tarefa. 
A professora ia até o fundo da sala e trazia para a sua mesa, por exemplo, os cadernos de caligrafia. Eles eram guardados em montinhos. Cada montinho era de uma fileira de alunos. Colocava cada montinho na sua fileira correspondente. O aluno que estava à frente tirava o seu, passava o restante para trás e, assim, sucessivamente, até o último aluno da fileira.
Na hora de recolher, os alunos passavam no sentido contrário, vinham de trás para frente, cada aluno ia acrescentando o seu.
Quando a professora recolhia os montinhos de cadernos de cada fileira, fazia uma pilha grande, porém, desencontrando os montinhos para facilitar a distribuição. Era divertido, mas um trabalho que ajudava o professor.
Citei o caderno de “caligrafia” porque tínhamos, obrigatoriamente, duas aulas por semana. A professora riscava na lousa, com sua régua grande de madeira, a pauta. Nela, fazíamos os exercícios. Lembro-me muito bem das aulas de caligrafia. O traçado das letras maiúsculas, minúsculas, o escrever as palavras sem tirar o lápis do lugar, acentuar e pingar somente depois de escrever a palavra inteira, etc. Eram regras que seguíamos rigorosamente. Naquela época, cada aula levava uma nota. O professor saía carregado de cadernos para corrigir em casa. As notas iam de 0 a 100. Usava-se a caneta vermelha para assinalar os erros e destacar tudo o que o professor queria. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Amarelinho... como ouro

Estava no terceiro ano do curso primário. Nossa professora era a Dona Maria da Conceição Viegas Garbino, esposa do Diretor Elzo Terra Garbino. Excelente professora. No meu coração, na minha memória, ocupa um lugar muito especial. Lembro que em Geografia estudávamos o Estado de São Paulo, ficando o estudo do Brasil, para o quarto ano. Tínhamos um caderno de cartografia. Nele desenhávamos o mapa, coloríamos e colocávamos o que estávamos estudando: relevo, hidrografia, limites, enfim, tudo que nos era ensinado.
Lembro-me dos colegas do terceiro ano, mas me lembro de um de modo especial: o José Henrique. Não era daqui, mas morou com uma tia na rua Geraldo Pereira de Barros. Era loiro, não lembro se tinha olhos azuis, mas era um menino muito bonito, inteligente, aplicado. O que ele sabia fazer como ninguém, era pintar os mapas, preenchendo o seu interior com uma uniformidade, que por mais que eu tentasse fazer igual, não conseguia.
Os mapas do Estado de São Paulo pintados por ele ficavam amarelinhos, amarelinhos, brilhavam como ouro!
Por onde andará o José Henrique?
Lembro-me da técnica que usávamos quando não tínhamos o dom de colorir deslizando o lápis de cor. Usávamos a gilete e, com muito cuidado, fazíamos um pozinho sobre o papel, como se estivéssemos afinando a ponta do lápis. Depois, com um algodãozinho, esfregávamos aquele pozinho sobre toda a superfície a colorir. Azul para o oceano, verde para as matas e assim íamos dando cores aos desenhos.
Dona Maria teve quatro filhos: Leda, José Antonio, Lia e Elzinho. Quando o casal veio para Lençóis, morou em uma casa alugada na rua 9 de julho, próximo à padaria do Mário. Com o tempo, construíram na rua Virgílio Rocha, bem próximo à minha casa e do Esperança de Oliveira. Tanto para ir trabalhar no Esperança como professora,  como no Paulo Zillo já como diretora, passavam obrigatoriamente pela porta de minha casa. Vi seus filhos crescerem. Fui professora da Lia e depois do Elzinho. Para a Lia, dei aula o ano todo. Para o Elzinho, apenas iniciei o ano, pois fiquei comissionada para fazer o Curso de Formação de Administradores Escolares.
Tenho contato com família da Dona Maria até hoje, através do Elzinho, que reside em um sítio em Lençóis.

segunda-feira, 24 de março de 2014

"Suspense" na aula de religião

Toda sexta-feira tínhamos aula de religião. Este fato aconteceu justamente em uma sexta-feira, quando o nosso professor faltou e veio um substituto efetivo para cobrir a falta.
A “História de Abraão” era o tema da aula que iríamos ter.
Com a Bíblia na mão, ou a História Sagrada, não sei, ele começou a leitura. Eu lembro que estava maravilhada com a narrativa.
Resumindo: Deus queria provar a fé de Abraão. Para isso, pediu o sacrifício de seu único filho: Isaac. Abraão não hesitou. Chamou o menino e, sem que ele percebesse, o levou para ajudar a preparar onde ofereceria o sacrifício. Isaac ajudou o pai, mas estranhou não ver por ali nenhum animal para sacrificar. Perguntou então, onde estava o animal que seria sacrificado e Abraão o tranquilizou dizendo: “Não se preocupe, Isaac, na hora Deus proverá”.
À medida que o professor substituto avançava na leitura, a nossa ansiedade aumentava, pois queríamos saber o desfecho da história. Foram momentos intermináveis até Abraão levantar o braço, pronto para desferir o golpe, com o qual ofereceria a vida do próprio filho, em obediência ao pedido de Deus.
Nesse momento, o professor, para decepção geral, interrompeu a história, prometendo continuar na próxima aula.
Não preciso dizer, que tanto a história de Abraão, como o professor que causou esse suspense, ficaram para sempre na minha lembrança.
Edo Jesus Coneglian, o jovem professor substituto, estava iniciando a sua carreira. Conheço a sua história desde o começo. Tornei-me muito amiga de sua esposa, a Nancy. Edo e Nancy percorreram um longo caminho fora de Lençóis. Quando voltaram, ele como Diretor do Antonieta Grassi Malatrasi, ela como professora efetiva do 2o Grupo Escolar de Lençóis Paulista aconteceu o reencontro da menininha do segundo ano com o professor substituto, eu, já como professora efetiva, e ele, como diretor de escola.
O Esperança de Oliveira foi berço de grandes figuras da educação no município: Edo Jesus Coneglian, Adolfo Ranzani, Edvaldo Roque Bianchini, Renato Rossi e muitos outros.
Parabéns!

domingo, 23 de março de 2014

Patronos das salas de aula

Fiz os quatro anos do primário no Grupo Escolar Esperança de Oliveira. Depois, fui para o Colégio Estadual e Escola Normal Virgílio Capoani. Ali fiz os quatro anos de ginásio e os três anos do Curso de Formação de Professores.
Hoje vou narrar um fato que aconteceu quando eu estava fazendo estágio no Grupo Escolar Esperança de Oliveira, na classe da professora Ivone Conti Capoani.
Orientadas pela professora de Prática Escolar, Dona Maria Isabel Jacon, tínhamos que entrar na sala e observar tudo, tomando nota e levando para ela. Foi então, que observando sobre a lousa, o quadro com a figura do patrono da classe, perguntei à Dona Ivone quem era. Ela olhou firme para mim e disse: “Moça, como é que você não reconhece o Marechal Deodoro da Fonseca?” Fiquei morrendo de vergonha. Todos os heróis da História do Brasil eram assim reverenciados. Eu, particularmente, tinha meu herói preferido. Era Duque de Caxias, Patrono do Exército Nacional. Até há pouco tempo, guardava uma página de revista com a sua bela figura. Encantei-me com ele quando conheci a sua história. Era descendente de tradicional família militar e, ainda pequenino, desfilava garboso ao lado dos soldados comandados por seu pai. Era uma mascote do exército. Tinha até uma farda em miniatura confeccionada especialmente para ele. Ele sim era meu herói.
Dona Ivone, mãe da Marta, morava a duas quadras de minha casa. Excelente professora. Casada com um lençoense, da família dos Capoani, só foi embora de Lençóis, quando ficou viúva. Morou algum tempo em Bauru, com sua filha. Hoje reside em Botucatu, com sua irmã, também professora. Ambas em idade avançada, quantas histórias não terão para contar.
Muitos professores da década de 40, 50, 60, receberam a justa homenagem de serem imortalizados, dando nome à escolas de Lençóis. Dona Ivone Conti Capoani foi uma delas. Seria impossível prestar essa homenagem com todos, mas fica a certeza de continuarem vivos em nossas memórias. 

sábado, 22 de março de 2014

Flores para o professor

Um dos gestos mais bonitos para com o professor era levar-lhe flores.
A mesa do professor era muito bem arrumada. Havia, em todas elas, um pequeno vaso onde o professor colocava as flores que recebia. As flores eram colhidas nos jardins das próprias casas. Não havia floricultura.
Os quintais eram grandes. Neles havia hortas, jardins, árvores frutíferas, galinheiro, chiqueiro. Os quintais não eram calçados. Andávamos descalços. Tudo tão diferente de hoje.
Na época certa, nossas mães semeavam as flores que seriam colhidas em “Finados”. Parecia um milagre da natureza. No final de outubro, desabrochavam as palmas, as margaridas, as rainhas margaridas, lírios, que seriam usadas para enfeitar os túmulos. Usavam, também, flores de papel crepom. Lembro-me das coroas muito coloridas depositadas nos túmulos.
Como nas casas, nosso Grupo Escolar Esperança de Oliveira, também tinha um jardim muito bem cuidado. O jardim interno tinha canteiros com um lindo traçado geométrico. Não me lembro de flores neste espaço, mas belas árvores. Na frente, entre as duas escadas que davam acesso ao prédio, também havia canteiros, e neles, belíssimas roseiras.
Falar das roseiras do Esperança de Oliveira é se lembrar, com saudades, do S. Lídio Ferrari. Não sei qual era a sua função, mas uma delas era cuidar do jardim e, isto ele fazia como um mestre.  
No tão temido porão do Esperança de Oliveira, havia uma “oficininha” partilhada pelo S. Lídio e pelo S. Davi. Era onde, também, S. Lídio guardava as ferramentas que usava no jardim. Os dois permanecem vivos em nossas lembranças. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Brincadeiras no recreio

Dona Dissimina, a bondosa inspetora de alunos, morava a meia quadra da escola, era vizinha do Dr. Tedesco. Tinha dois filhos: o Sidney e a Ieda. Tínhamos mais ou menos a mesma idade.
Dona Dissimina circulava o tempo todo entre as meninas no pátio. Até os lápis apontava para nós.
Naquela época, era costume algumas mães levarem o lanche para seus filhos na hora do recreio. As meninas corriam para a grade ao lado do portão principal. Após o lanche, hora de brincar, mas brincar do quê?
Havia a hora do circo. Não lembro bem como funcionava, com certeza eram as alunas do terceiro e quarto ano que trabalhavam no circo e, nós, menores, formávamos a plateia.
Passar anel, pular corda, bater bola, brincar de roda,caracol, tudo isso fazíamos na hora do recreio.
Quem não se lembra: “Ordem, sem lugar, sem rir, sem falar, uma das mãos, outra mão, um dos pés, outro pé, pirueta, bate palmas, braços cruzados” e, assim, a cada ordem, a bola ia e voltava batendo na parede. Quando alguém deixava a bola cair, passava para outra criança.
Brincar de passar anel também era muito gostoso. Brincar de roda com a Dona Dissimina. Ouvir estórias, etc.
Dona Dissimina ficou no meu coração, como deve ter ficado no coração de todas as crianças da época. O tempo passou, crescemos, cada um buscando sua realização profissional. Tornei-me professora, assim como outras colegas do primeiro ano. Já em sala de aula, tive a oportunidade de convidar o filho de D. Dissimina, o Sidney, para entrevistá-lo na “Semana da asa”, no mês de outubro, como piloto de avião. As crianças aprendiam muito com ele e adoravam, porque depois da entrevista sempre havia uma demonstração de aeromodelismo no campo de futebol. Foram várias vezes. Depois, ele foi embora de Lençóis.
Dona Dissimina ficou com a filha Ieda até morrer. Só saiu da rua Dr. Antonio Tedesco bem idosa.


quinta-feira, 20 de março de 2014

O fogão à lenha e o ferro à brasa

Fogão à lenha, ferro à brasa, qual a relação com o Esperança de Oliveira? Para entender isso, precisamos voltar aos anos 50. Como já disse em outras páginas, o que diferenciava os alunos mais novos, dos alunos mais velhos, eram as cores dos laços de cetim que as meninas usavam e a quantidade de listinhas brancas na gravata dos meninos.
Amarelo era a cor do primeiro ano, vermelho do segundo, verde do terceiro e azul do quarto ano. De acordo com o ano que cursavam, os meninos ostentavam na gravata o número de listinhas: uma para o primeiro ano, duas para o segundo, três para o terceiro e quatro para o quarto ano.
O laço era de cetim e amassava muito, daí a necessidade de passá-lo quase que diariamente. É aí que entra o fogão à lenha e o ferro à brasa. Minha mãe, ocupada com os afazeres domésticos, me ensinou um truque. Eu pegava uma colher de sopa, colocava nela uma brasa, o metal aquecia e meu ferro em miniatura estava pronto para deslizar sobre a fita de cetim, alisando-a.
O ferro à brasa, hoje uma peça de museu, me fez lembrar de minha avó materna passando roupa.
Todo dia à noite, com o fogão ainda aceso, ela enchia o ferro de brasa e passava toda a roupa lavada no dia. Era muito caprichosa. Sua roupa era muito limpa, cheirosa, bem passada. Lembro-me do fogão feito com pó de serra e um tacho grande onde ela fervia toda a roupa. Minha avó era muito zelosa com a roupa, com a casa, com tudo.
Com a brasa incandescente, eu fazia meu ferrinho de passar. Quando a brasa se apagava e virava carvão, se transformava no giz que tínhamos para brincar de escolinha. A lousa era uma parede atrás de casa. O apagador, um pedaço de pano enrolado em um toquinho de madeira.
Era assim que nascia uma futura professora! Qual menina da época não sonhou em ser professora como seus mestres?
Com o carvão também riscávamos o chão para brincar de amarelinha.
Minha avó nunca soube o que era cozinhar em um fogão elétrico ou à gás.
Minha mãe também demorou muito para ter um fogão à gás.
Lembro-me de como era gostoso chegar perto dele no inverno, mas também me lembro da fumaça, da fuligem, das panelas pretas e da areia usada para ariá-las.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Os arredores do Grupo Escolar Esperança de Oliveira nas décadas de 50, 60

Quando fiz o curso primário, o Esperança de Oliveira ocupava a mesma área que ocupa hoje. A sua área livre, onde brincávamos na hora do recreio, foi diminuída pela necessidade de ampliar o número de salas de aula, banheiro para professores, laboratório, etc.
No meu tempo de criança, o banheiro dos professores era junto com o dos alunos. Havia um na ala masculina, outro na ala feminina, separado, para uso exclusivo deles. A entrada, saída, lavatório era comum. Porém, nenhum aluno se atrevia a entrar no que era reservado para eles.
A circulação pelo pátio e pelo galpão obedecia regras rígidas. Há um dito popular que dizia: “Homem com homem, mulher com mulher, faca sem ponta, galinha sem pé”! Traduzindo: meninos de um lado, meninas do outro. Na fila, as meninas iam à frente e os meninos atrás. As classes eram muitas.
Mas voltemos a falar dos arredores do Grupo Escolar Esperança de Oliveira.
Na mesma quadra do Esperança, descendo a Antonio Tedesco (na época Floriano Peixoto), havia um armazém, um barbeiro, a casa do avô do meu marido, seu Ricieri Cavassutti, fanático torcedor do Palmeiras, mais uma casa, na época ocupada pelo Sr. Miguel Palombo, famoso barbeiro. Na esquina, lado a lado com o Esperança, o popular Bar São Paulo e, um pouco acima, a loja de Armarinhos da D. Cristina, isto sem falar do açougue do S. Joaquim.
Do Bar São Paulo, as poucas crianças que tinham dinheiro, na época, moedas, voltavam com as mãos cheias de guloseimas: suspiros, pé-de-moleque, doce de leite, pirulitos, dadinhos de chocolate, balas, etc. Uma moeda de “dois cruzeiros”era uma fortuna.
Minha casa ficava na quadra de cima do Esperança. Ocupava uma área muito grande. Ao lado da casa, ficava a fábrica de farinha de milho do meu pai. Ali, o milho era trazido com casca, debulhado, canjicado, transformado em fubá, quirela, farelo, farinha de milho e comercializado.
O farelo, que era o produto mais barato do milho, meu pai nos deixava pegar e levar para as pessoas que criavam galinhas, porco, no quintal de suas casas. Com isso, nós ganhávamos uma moedinha que se transformava em guloseimas.
Na mesma quadra da escola, agora ao lado da Pedro Natálio Lorenzetti (na época era Marechal Deodoro da Fonseca), na esquina oposta ao Posto de Gasolina, ficava e ali está hoje, a primeira Igreja Presbiteriana de Lençóis Paulista.
Lembro que entrava muito ali, pois bons e queridos amigos eram filhos do zelador da Igreja e ali moravam. (Peres Pires de Camargo, já falecido, e Geszer Pires de Camargo, hoje residente em São Paulo, casado com uma grande amiga, Odila Moreira de Souza.
Na esquina hoje ocupada pelo Posto de Gasolina, não lembro o que havia, mas me lembro da casa ocupada pela saudosa Nair Maganha, professora do Esperança de Oliveira.
De costas para o Esperança, ficava a Igreja Matriz Nossa Senhora da Piedade. Padre Salústio Rodrigues Machado era o nome que mais ouvia na boca dos meus pais, meus sogros, avós. Há estórias engraçadas sobre a forma como cativava seus fiéis. Lembro que na sala de jantar da tia Angélica Cicconi havia um porta-retrato com a sua foto. Todos que ali entravam, não tinham como escapar do seu olhar amigo.
Lembro-me, e quem não se lembra, da figura simpática do barbeiro da Floriano Peixoto, S. Alcides, pai da Neusa Góes. Todos os dias passava pela sua porta para ir à escola. Sempre tinha uma palavra de estímulo para mim. Lembro-me da época do Curso de Admissão, quando ia à escola às 12h30min e voltava às 18h. Ele não se cansava de elogiar o meu esforço para continuar os estudos.
Vi a Igreja Nossa Senhora da Piedade (antiga) ir ao chão e dar lugar à nova e imponente. Lembro-me do trabalho que deu para levantar os sinos até a sua torre. Lembro-me da multidão que se juntou nas escadarias para a inauguração. Lembro-me, quando criança, de ter subido a escadaria para o lugar destinado ao coral e, pasmem, junto com outras crianças, ter subido a escada que leva aos pisos mais altos. Queríamos chegar ao topo. E depois dizem que ninguém pode com as crianças de hoje!
Hoje, para bater o sino, é só apertar um botão, tudo é regulado com botões. Naquela época, era na força, havia três cordas, uma para cada sino. Era preciso muita força para fazê-los badalar. Nas festividades, o bimbalhar alegre dos sinos; nos funerais, o toque triste. O sino sempre nos avisava quando alguém tinha morrido.
A Casa de Deus acolhia o corpo da pessoa falecida, havia o ritual feito pelo Padre e o cortejo seguia à pé, sob o som triste dos sinos da Igreja Matriz. O caixão era carregado pelos amigos e familiares.
O médico Dr. Antonio Tedesco,  habitante mais ilustre de nossa rua, foi vizinho do Esperança de Oliveira. Veio muito jovem para Lençóis Paulista.
Minha mãe conta que quando tive sarampo, foram buscá-lo de madrugada. Ele se levantou, colocou a sua impecável roupa branca, andou uma quadra e meia, embaixo de uma chuva torrencial. Naquela época, não havia calçamento. Chegou de lama até os joelhos.
Dr. Tedesco, como ficou conhecido, salvou a minha vida. O sarampo, com suas complicações, matava.
Este médico jamais será esquecido. Meu pai, em agradecimento, levava para ele, todo Natal, uma leitoa.
Quem não se lembra de suas filhas Marilene, Mariluce e seu filho Tedesquinho? Saudades. Mariluce era uma das frequentadoras do Bar São Paulo. Voltava com as mãos cheias de doces, balas e distribuía para todos os coleguinhas. 

segunda-feira, 17 de março de 2014

Tinta, tinteiro, mata-borrão, caneta de pena, paninhos, cera, bombril

No primeiro ano, não se escrevia à tinta. Somente se usava lápis preto.
A partir do segundo ano era introduzida a tinta. Alguns trabalhos eram feitos à lápis e, depois de corrigidos, eram passados à limpo no caderno próprio, à tinta.
Escrever à tinta exigia muito cuidado. Era preciso ter uma boa caneta, a pena certa e dosar a quantidade certa de tinta para não borrar. Mas, às vezes, era difícil, e, para secar a escrita, usávamos mata-borrão. Era um papel grosso, poroso que absorvia o excesso.
Na época, caneta-tinteiro, ou seja, caneta com um reservatório para tinta, que soltava na medida certa, era um luxo.
Para nós, restava a caneta de pena e molhar a pena no tinteiro.
As carteiras eram de madeira e duplas. Em cada carteira havia dois tinteiros de vidro, colocados dentro de um orifício e tampados com uma tampinha de cobre, que corria abrindo e fechando, conforme a necessidade.
Toda aula passava o Inspetor de alunos, na minha época, o seu Davi Baptistella, abastecendo os tinteiros, que eram minúsculos copinhos de vidro. Nós, alunos, cuidávamos da limpeza da carteira, do copinho, da “portinha” de cobre.
Lembro que, sorrateiramente, pegava dos materiais de limpeza da minha mãe, pedacinhos de pano, cera, bombril, para levar à escola. Não havia tempo para malandragem. Quando sobrava tempo, lá estávamos nós polindo, cuidando, zelando pelo nosso material.
Na época, a mais famosa papelaria de Lençóis era dos irmãos Luminatti: Álvaro e Nestor. Quando fazíamos a compra de material escolar, já vinha de brinde o famoso mata-borrão.
No quarto ano, ganhei minha primeira caneta-tinteiro. As marcas famosas na época eram: “Parker” e “Sheaffer”.
Sei que a minha era deliciosa. Escrevia muito macio. A cor de tinta que comprávamos era azul royal e a marca da tinta era “Parker”.
Hoje não tenho mais a primeira caneta tinteiro, mas ela me acompanhou por muitos anos.
Tenho guardado o presente que ganhei dos meus pais de formatura: um reloginho de pulso, e ele ainda funciona!

sábado, 15 de março de 2014

A “Tabuinha”

A disciplina era muito rígida na minha época. Professor era respeitadíssimo. Não me lembro de nenhum colega dando trabalho para o professor.
Professor era um ídolo para nós. Todos queríamos ser professores. Ai de nós se chegasse aos ouvidos de nossos pais alguma reclamação. Era castigo na certa, era surra mesmo.
Pai, mãe, jamais se dirigiam à escola para conversar com o professor sobre o aproveitamento ou o comportamento do filho. Era uma missão perfeita: a família fazendo o seu papel e a escola completando. Lembro-me de um pai dizendo: “Da educação do meu filho, cuido eu, mas da instrução, é a senhora quem deve cuidar”. Velhos tempos!
Ir para a diretoria era a pior ameaça que poderia pairar sobre nossas cabeças. Diretor era a maior autoridade dentro da escola. Ninguém se atrevia a desafiá-la. Lembro-me do S. Elzo. Diretor que veio logo depois do S. Nascimento, quando eu estava no terceiro ano (1953), andando durante o recreio, com um molho de chaves na mão. Tremíamos só de vê-lo. 
S. Elzo Terra Garbino foi diretor do Grupo Escolar "Esperança de Oliveira" de 1953 até a sua aposentadoria.
Quando terminava o recreio, havia três sinais: um para parar feito estátua, outro para formar a fila e o terceiro para entrar.
Bem, comecei esta página para falar da “tabuinha” e estou quase terminando sem falar dela.
O que era a tabuinha? Era um pequeno retângulo de madeira, do tamanho de um apagador, furada em uma extremidade por onde passava um cordão e ficava pendurada na maçaneta da porta da classe. Quando um aluno queria ir ao banheiro, não precisava pedir, era só pegar a tabuinha e sair. A professora olhava para o trinco e pela ausência da tabuinha, sabia que havia algum aluno no banheiro. Não podia demorar, não. Enrolar, jamais. Era tudo muito certo!
Lembrei-me também, que quando alguém chegava na nossa sala, Diretor ou outro professor, nós ficávamos todos em pé. Era a forma de cumprimentar as visitas. Só sentávamos quando recebíamos o consentimento para isso. 

sexta-feira, 14 de março de 2014

A Festa de Formatura: Diploma do quarto ano

Quem era aprovado no final do ano, era diplomado. Isso mesmo, guardo até hoje o meu diploma de Conclusão do Curso Primário, assinado pelo Diretor Elzo Terra Garbino, no dia 14 de dezembro de 1955 e registrado no livro competente, a fls. 11 vs.



Havia uma festa de formatura. Era a famosa sessão solene.
Dona Mariazinha ensaiava os alunos.
Havia apresentações como cantos, declamação de poesias e o famoso discurso pela oradora da turma.
Lembro que a oradora da turma foi a colega Leda.
A festa de formatura coincidia com o exame de admissão ao ginásio. Portanto, para entrar no ginásio, era preciso, além do quarto ano concluído, uma preparação para prestar o dito exame. Era como um vestibular.
Como era feita esta preparação? Eu lembro que, diariamente, após o fim do período, ficávamos na escola e vinha uma professora chamada Edna, filha de um professor de Latim, Seu Marcelino Queirós, e nos dava aula até às 18 horas. Das 16h30 às 18h. Uma hora e meia de aula reforçando a matéria da qual faríamos a prova.
Lembro-me com carinho de D. Edna. Ficávamos no topo da escada lhe esperando. Era jovem, solteira, muito bonita. Morava longe da escola, mais ou menos onde hoje é o estacionamento do Jaú Serve. Ela era alegre, comunicativa e nos tratava com muito carinho. Lembro que ela gostava de nadar no rio Lençóis.
Quem passava no exame de admissão, podia fazer sua matrícula na primeira série do ginásio. Na época era assim para se tornar um professor: Curso Primário (4 anos), Ginásio (4 anos), Curso Normal (3 anos), Aperfeiçoamento (1 ano).
Do primário para o ginásio, um salto gigantesco, muitas matérias, muitos professores, mas esta é uma história para ser contada em outro momento.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Dona Mariazinha – minha professora do quarto ano


O nome lhe caía como uma luva. Era realmente de estatura muito pequena. Vestia-se impecavelmente. Estava sempre de saia justa preta e blusinha branca de cambraia. Usava salto muito alto para compensar sua baixa estatura. Era finíssima, delicadíssima, um “bibelô”.
Morava muito perto da escola. Sua casa foi demolida. No mesmo lugar foi construída a casa onde mora, atualmente, sua filha “Cilinha”, casada com o engenheiro agrônomo Dr. Fábio.
Lembro-me muito bem de sua casa, pois quando criança, ela permitia que eu, a Valda, uma prima, a “Cilinha”, sua filha, e outras crianças brincássemos de casinha no porão.
Era uma casa cuja entrada tinha uma escada e isto me encantava.
Voltemos à Dona Mariazinha. Impecavelmente vestida e penteada, chegava à escola, entrava pela porta da frente, subindo a majestosa escadaria do Esperança.
Quando dava o sinal de entrada, ia nos buscar na porta que dá para o pátio, nos conduzindo para a sala de aula. Havia toda uma rotina estabelecida, como já disse anteriormente, mas a Dona Mariazinha incluía um item. No fundo da sala, ao lado do armário onde ficavam os nossos cadernos e demais materiais do professor, havia sempre um par de sapatilhas de couro, linda, marrom, escura, parecia cromo, que ela trocava todo início de aula pelo sapato de salto alto. Era um ritual. Confortavelmente calçada, iniciava a aula. Tínhamos aula de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Desenho, Caligrafia, Cartografia, Religião, etc.
Era excelente professora. Lembro-me do mapa do Brasil feito à mão livre no canto esquerdo da lousa. Permanecia o ano inteiro lá, mudando apenas o conteúdo, à medida que íamos dominando o assunto. Primeiro aprendíamos a divisão política. Tínhamos que saber de cor os estados e suas capitais, limites, etc. Depois avançávamos. Hidrografia: aprendíamos as principais bacias hidrográficas, localização, o rio principal e seus afluentes, bem como o oceano que banha o Brasil e os países vizinhos. Da hidrografia para o relevo: planície, planalto, serras, etc.
Chamada oral: todos os dias éramos chamados à frente e, com um ponteiro, tínhamos que falar todos os nomes dos acidentes que ela apontava.
Fazia, também, chamada oral de tabuada.
A aula de matemática sempre começava com a resolução de quatro problemas e outras questões. Sempre gostei muito de matemática. Era ótima aluna.
A minha frustração vinha da Língua Portuguesa. Embora lesse corretamente, não conseguia ter grandes ideias no momento da redação.
Naquela época, havia um cavalete e um álbum com lindas estampas, que sugeriam sempre uma estória. Tínhamos que criá-la.
Havia cenas familiares, cenas no campo, enfim, era só colocar a cabeça para funcionar e dar vida àquele cenário. O que me incomodava era o chamado “CADERNO DE OURO”, onde , depois de corrigida a composição, Dona Mariazinha escolhia a melhor e pedia para transcrevê-la nele. Quando ouvia a leitura dos trabalhos escolhidos, ficava inconformada de não possuir esse dom para criar coisas tão lindas.
Apesar de escrever muito bem, sem erros de ortografia, pontuação, faltava aquele “clic” de criação. Mesmo assim, fui brilhante aluna de quarto ano, me formando em primeiro lugar.
Naquela época, o professor tinha uma rotina de trabalho e dela não se afastava, pois era cobrado pelo Diretor da Escola.
Havia o Inspetor Escolar. Por exemplo, no caderno de caligrafia tinha que aparecer duas aulas na semana. No caderno de Língua Portuguesa, a mesma coisa.
Havia um caderno chamado de “Ocupação”. Ali eram lançadas todas as atividades do dia. Começava sempre com Língua Portuguesa (com todas as suas especificidades : leitura, interpretação, vocabulário, cópia, etc.). Depois, passava para Matemática. Havia um intervalo de meia hora para o recreio, e, depois, as demais matérias.
Não me lembro de ficar um dia sem fazer tarefa. Ela consistia em fazer cópias de leituras, estudo de tabuadas e dos assuntos que seriam cobrados na chamada oral. Havia muitos questionários.
Concluir o quarto ano significava receber “Diploma” e enfrentar um novo  desafio, o exame de admissão do ginásio.

terça-feira, 11 de março de 2014

Dona Maria da Conceição Viegas Garbino – minha professora do terceiro ano

Muito jovens vieram para Lençóis. Aqui se estabeleceram, formaram família, criaram raízes e por anos a fio se dedicaram à educação. Ele, Elzo Terra Garbino, Diretor do Esperança de Oliveira até se aposentar. Ela, como professora, e depois, como Diretora do 2o Grupo Escolar de Lençóis Paulista, atual Paulo Zillo.
A sala que ocupei no terceiro ano, era oposta à que ocupei no segundo ano. Enquanto a do segundo dava para rua, o do terceiro dava para o jardim interno.
Era uma sala numerosa, mas D. Maria era excelente professora. Lembro-me da presença constante do S. Elzo em nossa sala. Lembro-me também, dos cuidados dela conosco, não só em relação à aprendizagem, mas também como uma mãe, uma amiga, uma conselheira.
Há um fato pitoresco, acontecido em sala de aula, que ficou gravado na minha memória. Estávamos no final do ano, época de exames. O exame que eu mais temia era de leitura oral e interpretação. O Diretor fazia o exame. A professora permanecia ao lado. Havia vários livros de leitura. Era, então, sorteado o texto. Tínhamos um tempo para passar os olhos nele, estudar o vocabulário, etc. Quando éramos chamados, tínhamos que ler em voz alta e depois contar com as nossas palavras o que tínhamos lido.
Eu tinha tudo que um bom leitor deve ter: pronúncia, entonação, timbre, pontuação, enfim, sempre fui muito boa leitora. Meu problema era interpretação. Eu ficava super apavorada.
À minha frente, com a maior calma do mundo, D. Maria, minha professora, saboreava um pêssego maravilhoso, de dar água na boca.
Isto ficou registrado na minha memória por causa do contraste entre as situações: eu aflitíssima e, ela, deleitando-se com aquele pêssego. Era tanta a minha aflição, que nem fiquei com vontade de dar uma mordida na fruta.
D. Maria era muito educada. Houve uma ocasião em que ela me chamou de lado e fez uma observação sobre um dente da frente. Orientou-me a procurar o dentista. Fiquei morrendo de vergonha, não tínhamos tanto recurso para procurar um dentista particular. Acabei tendo problema sério com ele. Tive que extrair o nervo e ele ficou escuro.

segunda-feira, 10 de março de 2014

A Princesinha Mei Ling: “Rosinha Chinesa”

Uma história que gravei na memória e guardo o livro até hoje, pois foi o prêmio que recebi do diretor do Esperança, seu Nascimento, vencendo o concurso da letra mais bonita do segundo ano.
Seu Nascimento era de Bauru, casado com uma professora que se chamava D. Aidê.
Moravam muito próximo da escola e eram vizinhos de minha avó Josefa.
D. Aidê era uma professora muito dedicada. Ela levava os alunos que tinham dificuldade de aprendizagem para a casa dela e dava aulas particulares.
Este casal me marcou muito pela bondade, humildade, dedicação. Gostaria muito que fossem lembrados nesta festa dos 100 anos do Esperança.
Hoje, assim que amanheceu, depois do café da manhã, fui buscar o livro “ Rosinha Chinesa” na pasta onde guardo lembranças do meu tempo de estudante. Está sem capa, amarelado pelo tempo, até com páginas rasgadas. Ficou surrado de tanto ser manuseado.
O livro conta a história de uma criança chamada Rosinha, uma gentil chinesinha, que voltou da escola chorando porque não queria mais ser chamada de Rosinha, não gostava mais de seu nome. A mãe estranhou e quis saber o porquê. Foi então, que Rosinha lhe contou que as coleguinhas de classe haviam caçoado dela lhe dizendo que a Rosa era uma flor muito feia e má, pois é cercada de espinhos que machucam a mão da gente, que arranham as nossas faces quando queremos lhe sentir o aroma e rasgam as nossas vestes. As outras flores sim, são mimosas, educadas. Vejam a margarida, a violeta, a glicínia, etc.
A mãe carinhosamente enxugou o pranto de Rosinha e lhe convidou para dar uma volta no jardim. Procurou lhe consolar, mostrando que tudo na natureza está bem feito. Depois de muita conversa, lhe sugeriu que fosse ao parque infantil brincar com suas amiguinhas e apreciar as lindas rosas, mesmo com “espinhos”. Porém, a mãe lhe pediu para não atravessar o Bosque do Castelo Misterioso. Para chegar ao parque infantil, o caminho era longo e Rosinha, desobedecendo a mãe, atravessou o Bosque onde se encontrava o lindo Castelo Misterioso, isso tudo para encurtar o caminho. Rosinha ficou encantada. Era todo cercado por uma muralha altíssima de roseiras com rosas brancas como o leite. No meio dessa imensidão de rosas brancas, um tufo de rosas vermelhas como o sangue.
Foi aí que apareceu uma bondosa velhinha, que conversando com a menina, tomou conhecimento do desapontamento com seu nome e disse: - Se você soubesse, bondosa menina, a história deste castelo encantado, haveria de compreender, que graças a “cerca de espinhos”, um príncipe conquistou o coração da linda princesinha. Diante da curiosidade da menina, a velhinha começou a contar...
... Nesse majestoso castelo morava um rei muito bom e corajoso, junto com a rainha, também muito bondosa e querida e uma adorada filha, a linda e meiga princesinha, Mei Ling, que quer dizer, “Vida Bela” e que era a alegria e a felicidade do reino. Quando...
O livro se encontra à disposição para quem quiser entrar no mundo encantado das rainhas, reis, princesas, príncipes, que viveram felizes para sempre!


domingo, 9 de março de 2014

Nossa sala de aula, o pátio, a escadaria...

As salas de aula eram todas iguais. O mesmo mobiliário, a mesma disposição, etc.
Todas possuíam duas lousas, um relógio de parede, um quadro com o patrono da classe, três fileiras de carteiras duplas, a mesa do professor, três janelas amplas, duas portas, uma na frente e outra atrás, na mesma parede. Não lembro se entrávamos por uma e saíamos por outra. Lembro que tanto para levantar, como para sentar, a professora contava 1, 2, 3, e, a cada ordem, correspondia uma posição.
A lousa era negra. A cor de giz mais usada, branca.
No segundo ano ocupei uma sala geminada, que ficava de frente para a Rua Anita Garibaldi. Geminada por quê? Porque eram duas salas normais, mas separadas por uma imponente parede de madeira, toda trabalhada e que no final do ano, era aberta e dava lugar a um grande salão, onde acontecia a exposição dos trabalhos manuais feitos pelas crianças do primeiro ao quarto ano. Eram bordados, trabalhos em madeira, etc.
Lembro que os meninos faziam um trabalho na madeira muito interessante. A professora riscava um desenho, uma paisagem, um animal, e a criança pegava um preguinho e batia, fazendo o contorno do desenho com furinhos. A madeira, ou seja, o quadrinho, era lixado e depois pintado com lápis de cor.
As meninas bordavam: ponto correntinha, ponto atrás. No primeiro ano eu já sabia fazer sapatinho de tricô para bebê.
As exposições aconteciam, portanto, no salão. Hoje, após sucessivas reformas, a divisão em madeira foi substituída pela alvenaria, deixando de existir um espaço tão importante para a escola.
E o galpão do Esperança? Está lá tal qual era na minha infância, com uma diferença, não existe mais a linha no chão que dividia metade para as meninas, metade para os meninos. Só permaneceu banheiro dos meninos, banheiro das meninas. A cozinha ocupa o mesmo espaço. O jardim interno quase desapareceu.
O espaço para as brincadeiras também era separado. Meninas de um lado, meninos do outro.
E espaço que era ocupado pelos meninos foi destinado, atualmente, à quadra de esportes, onde acontecem as aulas de Educação Física e as famosas Festas Juninas.
O espaço que era ocupado pelas meninas, hoje deu lugar à circulação dos alunos, que por ali, chegam e saem.
Os dois espaços, tanto à direita, quanto à esquerda, perderam em área, pois foram construídas salas de aula.
A imponente escadaria do Esperança era usada pelos professores quando chegavam na escola, e, na saída, por professores e alunos.
Os portões permaneciam fechados e só abriam quando era hora de ir embora.
O Esperança de Oliveira acolhia todos os alunos da cidade. Os professores moravam todos muito próximos da escola. A cidade era pequena. Acolheu também, professores de cidades vizinhas. Minha professora do segundo ano veio de Agudos, chamava-se Dona Clélia. Antes dela, tivemos uma de São Manuel, Dona Zilda.
Foi com a Dona Clélia que terminamos o segundo ano. Passei em primeiro lugar e dela ganhei o livro ZABUMBA como prêmio. Fiquei muito feliz!
Gostaria muito de receber notícias da D. Clélia (Agudos) e D. Zilda (São Manuel). Se alguém puder me ajudar, por favor, utilize o espaço destinado aos comentários.

sábado, 8 de março de 2014

Homenagem

Lêda Fazzio nasceu em Botucatu, no ano de 1917. Ali fez todos os seus estudos. Lembra-se com orgulho da Escola Normal Oficial de Botucatu. Era uma das três melhores escolas públicas do Estado.
Recebeu seu diploma de professora em dezembro 1936, com apenas 19 anos de idade. Dona Lêda exibe com orgulho, em sua sala, a fotografia de sua formatura.


Em fevereiro de 1937, iniciou sua carreira no magistério, como substituta, na escola do Bairro do Faxinal, em Botucatu. Fazia três quilômetros à pé, para ir de sua casa à escola rural. Lecionou, também, na Fazenda Santa Maria do Paraíso, por um ano e oito meses.
Percorreu um longo caminho por escolas da zona rural, fazendo os preciosos “pontos” até conquistar uma cadeira na zona urbana.
D. Leda se emociona ao contar fatos ligados a sua trajetória até chegar ao Grupo Escolar Esperança de Oliveira, fatos estes, que merecem ser registrados.
Ainda como substituta, pegou uma escola na região de Óleo. Para chegar até lá, pegava o trem em Botucatu, à meia noite do domingo. Toda semana era assim. O pai, muito cuidadoso, a colocava no trem e fazia muitas recomendações ao chefe para que cuidasse dela durante a viagem. O chefe, por sua vez, recomendava à D. Lêda que ficasse quietinha em seu lugar, até chegar à estação de destino, mas ele mesmo esticava seu colchão no chão e tirava uma soneca.
Às cinco horas da manhã, o trem chegava na Estação de Batista Botelho, destino da D. Lêda.
O dia mal estava raiando. Os aluninhos encarregados de acompanhá-la até a escola, lá estavam de prontidão. Eram mais três quilômetros à pé até chegar na escola.
Foi assim que a maioria dos professores iniciou a sua carreira. Para fazer “pontos” era preciso ir longe e passar por situações difíceis: chuva, sol, moradia, alimentação, transporte, etc.
D. Lêda conta que havia a exigência de cumprir 180 dias letivos e promover, no mínimo, quinze alunos.
Como promover quinze alunos, se na escola apareciam quatro ou cinco?
D. Lêda não hesitou. Diante de tal situação, fez contato com alguém da colônia e, de porta em porta, pelos sítios da vizinhança, foi descobrindo as crianças. Quando perguntava aos pais por que as crianças não iam à escola, eles respondiam que não adiantava mandar, porque nunca tinha professor. D. Lêda, então, muito firme dizia: “De agora em diante, não faltará mais professor, pois eu sou a nova professora”.
Naquele ano, D. Lêda promoveu não apenas quinze alunos, mas vinte e três. D. Lêda se efetivou em 1940. Deu aulas em Bofete, Pardinho, Paranhos e Alfredo-Guedes. Em 1950, chegou ao Grupo Escolar “Esperança de Oliveira”, onde trabalhou até a aposentadoria.
Hoje, no Dia Internacional da Mulher, quero, através dela, homenagear todas as professoras, que como ela, doaram grande parte de suas vidas, com tanta dedicação e amor, à Educação.

Dona Leda, minha primeira professora

Como disse anteriormente, Dona Leda era dona de uma didática invejável para ensinar a ler e escrever.
Lembro perfeitamente que nem todos aprendiam com a mesma rapidez.
De acordo com o ritmo, a classe era dividida em seção A, B e C.
Seção A – eram os alunos mais lentos
Seção B – eram os médios
Seção C – eram os mais rápidos.
Os alunos mais lentos ficavam junto à lousa lateral, o que facilitava o contato e reforço separado para eles.
O centro da sala e a lateral próxima à janela eram ocupados pelos demais alunos.
Letra de forma e letra de mão eram aprendidas juntas, assim como as maiúsculas e minúsculas.
Dona Leda riscava a lousa, colocava a lição e nos chamava para a frente. Em pé, próximos a ela, aprendíamos as lições. Havia muita repetição, muita fixação, muita oralização.
“Dedinho no ar” era a ordem mais repetida por D. Leda para aprendermos o traçado correto das letras. Os movimentos de vai e vem, sobe e desce, iam se sucedendo conforme a lição que estávamos aprendendo, primeiro no ar, depois no papel.
Dona Leda era dona de uma caligrafia perfeita.
No segundo semestre, a maioria dos alunos estava alfabetizada.
Fazia parte da programação do primeiro ano a Festa do Primeiro Livro.
Era um momento muito solene, preparado com muito carinho. Nosso primeiro livro, específico para o primeiro ano, fazia parte da série “Seleta Escolar”.
Lembro que não fui a primeira aluna no primeiro ano, mas sempre fui umas das primeiras. Se a minha memória não falha, quem ficou com esse louro foi o meu colega de classe José Carlos do Amaral.
O único fato desagradável que me marcou neste primeiro ano, foi ter lembrado, ainda na fila de entrada, que havia esquecido meu lápis preto em casa. Dona Leda ficou muito brava. Chorei muito, mas ela acabou me emprestando um. Nunca mais esqueci nada!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Amarelo, vermelho, verde e azul

12h30min. Soava o sinal. Os professores apareciam na escada que dá para o pátio interno do Esperança de Oliveira. Os maiores formavam a fila no galpão. Os menores, no corredor que liga o pátio às salas de aula.
Cada professor se posicionava à frente da sua turma e a conduzia até a sala. Nossa sala era a primeira adentrando a escola.
Professora e diretor (na época, seu Nascimento), inspecionavam os alunos enfileirados e uniformizados. Exigiam disciplina, respeito. A partir do momento que o sino tocava para o início das aulas, as brincadeiras, conversas, cessavam.
Nosso uniforme era: saia azul marinho, pregueada; blusa branca, de manga curta, com abotoamento frontal e um laço de fita. A cor do laço variava de acordo com o ano.
Primeiro ano: laço amarelo
Segundo ano: laço vermelho
Terceiro ano: laço verde
Quarto ano: laço azul.
Sapato preto e meia branca completavam o visual.
Os meninos usavam calça curta azul marinho, camisa branca e uma gravatinha azul marinho.
Na gravatinha era colocada uma tirinha branca para o primeiro ano, duas para o segundo, 3 para o terceiro e quatro para o quarto.
Ao entrar na sala, lembro que havia ordem para sentar, levantar, ir ao banheiro.
A arrumação das salas era impecável. Tínhamos duas lousas: uma a frente e uma na lateral. Sobre a da frente, um quadro do patrono da classe. Sobre a lateral, um relógio com pêndulo. Ao fundo da sala, um armário grande, de madeira, onde ficava o material do professor e os nossos cadernos.
Começávamos usando o caderno BORRADOR, sem pautas, para depois usar o pautado. Eles eram encapados no mesmo esquema das cores dos laços, amarelo para o primeiro ano, vermelho para o segundo, verde para o terceiro e azul para o quarto.
As janelas eram imensas, altas, recebíamos toda ventilação e luz que precisávamos.
As carteiras eram duplas. Sentávamos de dois em dois. Eram de madeira com estrutura de ferro.
Os quadros eram negros.
Apagar a lousa era o desejo de toda criança. Ficar com essa tarefa, era um prêmio.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Lista dos Alunos do Primeiro Ano Misto B - 1952 Professora Lêda Fazzio

Seção Masculina

1 – Ademir Castiglione
2 – Adelphi Leonildo Paccola
3 – Antônio Ignácio Pereira
4 – Benedito Aparecido Pereira
5 – Belmiro Benedito Radichi
6 – Cláudio José Carani
7 – Cláudio Paschoarelli
8 – Celso Brasil
9 – Cidemar Lari Luminatti
10 – Ciro Gomes
11 – Dairo Orozimbo de Souza
12 – Flávio Jácomo Placca
13 – Frank Alberto Müller
14 – Ismael Correia de Godói
15 – José Argentino
16 – José Carlos do Amaral
17 – Juarez Castelhano
18 – Lourival Pereira de Andrade
19 – Milton Moretto
20 – Oanes Rafaeli
21 – Odir José Burato
22 – Ricardo Rossi

Seção Feminina

1 – Aparecida Amasse
2 – Ana Maria W. M. de Melo
3 – Cleide Aparecida Ciccone
4 – Inês Carvazan
5 – Maria Aparecida Paccola
6 – Maria Luíza Contente
7 – Maria Regina Martins
8 – Maria Stela Campanari
9 – Maria Stela Conti
10 – Mariluce Tedesco
11 – Miriam Maluf
12 – Orency Teresinha Casali
13 – Sandra Maria Orsi
14 – Valda Paschoarelli
15 – Zuleika Boso
16 – Zulei Luminatti


O início da minha vida escolar no Esperança de Oliveira

Nasci no dia 22 de agosto de 1944. Filha de Bruno José Boso e Ruth Malavazi Boso. Neta de Carmela Berteli e Sílvio Malavazi (avós maternos) e de Josefina Casagrandi e João Boso (avós paternos).
Quando nasci, o Grupo Esperança de Oliveira, já tinha 30 anos. No santinho que era costume oferecer de lembrança de Batizado, constava como nome da cidade, Ubirama. É que na Bahia já tinha uma cidade chamada Lençóis, então, nossa Lençóis passou a se chamar Ubirama. Foi por pouco tempo, logo voltou a se chamar Lençóis, acrescida de Paulista, que permanece até hoje.
Com 7 anos fui matriculada no 1o ano do Grupo Escolar de Lençóis Paulista, que fica a uma quadra da casa onde nasci e, pasmem, há 69 anos moro na mesma rua. Minha casa atual fica de frente para a casa onde nasci.
O Esperança de Oliveira ocupa o mesmo espaço desde que foi fundado. Descia à pé e frequentava o período da tarde. D. Leda foi a minha primeira professora. Há pouco tempo recebi o xerox da página de um livro, creio que de atas de exames, com todos os nomes dos alunos da minha turma.
D. Leda morava na esquina da rua Dr. Antonio Tedesco (antiga Floriano Peixoto) com a 15 de novembro. Seu marido era comerciante. Casa e loja eram um único prédio na esquina, hoje ocupada pelas Lojas Pernambucanas.
Descrever a D. Leda exige muitos adjetivos. Era muito enérgica, exigente, metódica, impecável, das melhores alfabetizadoras que o Esperança já teve.
Fomos alfabetizados com a Cartilha Sodré e a sequência das sílabas ainda permanece em minha memória: ta, ba, va, ca, ma, lha, da...
O sino de bronze que soava na hora de formar a fila para entrar, na hora do recreio, na hora da saída, era vigorosamente sacudido pelo S. Davi, inspetor de alunos, muito querido por todos. Dona Dissimina (não sei se escrevi corretamente) era a inspetora de alunos.
O período de aula à tarde, ia das 12h30min à 16h30min.
Não me lembro da D. Leda cantando, mas me lembro exatamente de como nos ensinou a ler e escrever. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Lembranças que não se apagaram

Minha mãe se chama Ruth Malavazi Boso. Nasceu no dia 27 de setembro de 1922. É viva e tem hoje, 91 anos.
Nasceu em Macatuba. Há pouco tempo foi matar saudades, visitando o lugar onde nasceu (uma fazenda) e encontrou, ainda, marcas de sua infância.
Veio com onze anos para Lençóis e morou na Rocinha, reduto de italianos, região agrícola, hoje transformada em ponto turístico. Sua produção de uva e vinho é famosa.
Minha mãe é de ascendência italiana. Minha avó materna era Berteli e meu avô era Malavazi.
Ela conta que meu bisavô Berteli ajudou na construção do Esperança de Oliveira, e que ela, vinha à pé, junto com outras crianças, para estudar no mesmo.
Lembra com alegria das brincadeiras que vinham fazendo pelo caminho. Lembra, também, que não gostava muito de estudar. Torcia para chegar atrasada e encontrar o portão fechado. Às vezes, se escondia na Igreja até a hora dele fechar, então, voltava para casa. Na hora do recreio, havia sempre a troca de lanches entre as crianças. Ela levava pão com ovo frito ou pão com banana e sempre tinha alguém querendo trocar com ela.
De sua vida escolar, sempre falou de uma professora: a D. Mariazinha. Sabem por quê? Porque ela foi, também, minha professora de 4o ano. Dizia: - Olha, deu aula para mim e agora é professora da minha filha.
Minha mãe sempre teve problemas com ortografia. Língua Portuguesa não era o seu forte, ao contrário de sua irmã, a querida tia Nega, muito prendada nos dons da escrita.
Mesmo com toda sua limitação, foi uma guerreira, uma batalhadora. Sua mãe era analfabeta e dizia sempre: - “Quem tem boca, vai a Roma”!
Hoje, com quase 92 anos, lê o jornal sem óculos e se orgulha muito de sua independência. Sabe administrar sua casa, suas contas, seu dinheirinho.
A trajetória do meu pai também passou pelo Esperança de Oliveira. Com ele, o problema foi a idade. Teve que ser alterada para poder frequentar as aulas, pois era muito novo.
Também filho de imigrantes italianos (Boso e Casagrandi), passou sua infância e adolescência na Fazenda Santa Maria, de José Boso, irmão de seu pai.

Como eu, Zuleika Boso Radichi, entrei nessa história, conto da próxima vez...



terça-feira, 4 de março de 2014

Túnel Do Tempo

Em homenagem aos 100 anos do “Esperança de Oliveira”, quero registrar neste blog, histórias que vivi na escola onde fiz o curso primário e na qual retornei em vários momentos da minha carreira profissional.
Quero falar sobre todas as pessoas que deixaram marcas na minha memória, diretores, professores, inspetores, funcionários, colegas e alunos.
Meu maior desejo é que leiam estes relatos e, ao lê-los, sintam saudades e também vontade de entrar neste túnel do tempo, compartilhando suas lembranças.
Sei que serei alvo de críticas, mas encaro-as com naturalidade, pois, boas ou más, nos impulsionam a continuar.
Voltarei ao meu tempo de criança, à geração dos anos 50, 60, que andava descalça, brincava na rua, ia à pé à escola, respeitava seus professores e, sabia, que somente através do estudo, conseguiria se realizar na vida.
Sou grata aos meus mestres, modelos de comprometimento com a educação da criança, sua formação e importância na construção de um mundo melhor.