O nome lhe caía como uma luva. Era realmente de estatura
muito pequena. Vestia-se impecavelmente. Estava sempre de saia justa preta e
blusinha branca de cambraia. Usava salto muito alto para compensar sua baixa
estatura. Era finíssima, delicadíssima, um “bibelô”.
Morava muito perto da escola. Sua casa foi demolida. No
mesmo lugar foi construída a casa onde mora, atualmente, sua filha “Cilinha”,
casada com o engenheiro agrônomo Dr. Fábio.
Lembro-me muito bem de sua casa, pois quando criança, ela
permitia que eu, a Valda, uma prima, a “Cilinha”, sua filha, e outras crianças
brincássemos de casinha no porão.
Era uma casa cuja entrada tinha uma escada e isto me
encantava.
Voltemos à Dona Mariazinha. Impecavelmente vestida e penteada,
chegava à escola, entrava pela porta da frente, subindo a majestosa escadaria
do Esperança.
Quando dava o sinal de entrada, ia nos buscar na porta que
dá para o pátio, nos conduzindo para a sala de aula. Havia toda uma rotina
estabelecida, como já disse anteriormente, mas a Dona Mariazinha incluía um
item. No fundo da sala, ao lado do armário onde ficavam os nossos cadernos e
demais materiais do professor, havia sempre um par de sapatilhas de couro,
linda, marrom, escura, parecia cromo, que ela trocava todo início de aula pelo
sapato de salto alto. Era um ritual. Confortavelmente calçada, iniciava a aula.
Tínhamos aula de Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Desenho,
Caligrafia, Cartografia, Religião, etc.
Era excelente professora. Lembro-me do mapa do Brasil feito
à mão livre no canto esquerdo da lousa. Permanecia o ano inteiro lá, mudando
apenas o conteúdo, à medida que íamos dominando o assunto. Primeiro aprendíamos
a divisão política. Tínhamos que saber de cor os estados e suas capitais,
limites, etc. Depois avançávamos. Hidrografia: aprendíamos as principais bacias
hidrográficas, localização, o rio principal e seus afluentes, bem como o oceano
que banha o Brasil e os países vizinhos. Da hidrografia para o relevo:
planície, planalto, serras, etc.
Chamada oral: todos os dias éramos chamados à frente e, com
um ponteiro, tínhamos que falar todos os nomes dos acidentes que ela apontava.
Fazia, também, chamada oral de tabuada.
A aula de matemática sempre começava com a resolução de
quatro problemas e outras questões. Sempre gostei muito de matemática. Era
ótima aluna.
A minha frustração vinha da Língua Portuguesa. Embora lesse
corretamente, não conseguia ter grandes ideias no momento da redação.
Naquela época, havia um cavalete e um álbum com lindas
estampas, que sugeriam sempre uma estória. Tínhamos que criá-la.
Havia cenas familiares, cenas no campo, enfim, era só
colocar a cabeça para funcionar e dar vida àquele cenário. O que me incomodava
era o chamado “CADERNO DE OURO”, onde , depois de corrigida a composição, Dona
Mariazinha escolhia a melhor e pedia para transcrevê-la nele. Quando ouvia a
leitura dos trabalhos escolhidos, ficava inconformada de não possuir esse dom
para criar coisas tão lindas.
Apesar de escrever muito bem, sem erros de ortografia,
pontuação, faltava aquele “clic” de criação. Mesmo assim, fui brilhante aluna
de quarto ano, me formando em primeiro lugar.
Naquela época, o professor tinha uma rotina de trabalho e dela
não se afastava, pois era cobrado pelo Diretor da Escola.
Havia o Inspetor Escolar. Por exemplo, no caderno de
caligrafia tinha que aparecer duas aulas na semana. No caderno de Língua
Portuguesa, a mesma coisa.
Havia um caderno chamado de “Ocupação”. Ali eram lançadas
todas as atividades do dia. Começava sempre com Língua Portuguesa (com todas as
suas especificidades : leitura, interpretação, vocabulário, cópia, etc.).
Depois, passava para Matemática. Havia um intervalo de meia hora para o
recreio, e, depois, as demais matérias.
Não me lembro de ficar um dia sem fazer tarefa. Ela
consistia em fazer cópias de leituras, estudo de tabuadas e dos assuntos que
seriam cobrados na chamada oral. Havia muitos questionários.
Concluir o quarto ano significava receber “Diploma” e
enfrentar um novo desafio, o exame de
admissão do ginásio.
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