quarta-feira, 19 de março de 2014

Os arredores do Grupo Escolar Esperança de Oliveira nas décadas de 50, 60

Quando fiz o curso primário, o Esperança de Oliveira ocupava a mesma área que ocupa hoje. A sua área livre, onde brincávamos na hora do recreio, foi diminuída pela necessidade de ampliar o número de salas de aula, banheiro para professores, laboratório, etc.
No meu tempo de criança, o banheiro dos professores era junto com o dos alunos. Havia um na ala masculina, outro na ala feminina, separado, para uso exclusivo deles. A entrada, saída, lavatório era comum. Porém, nenhum aluno se atrevia a entrar no que era reservado para eles.
A circulação pelo pátio e pelo galpão obedecia regras rígidas. Há um dito popular que dizia: “Homem com homem, mulher com mulher, faca sem ponta, galinha sem pé”! Traduzindo: meninos de um lado, meninas do outro. Na fila, as meninas iam à frente e os meninos atrás. As classes eram muitas.
Mas voltemos a falar dos arredores do Grupo Escolar Esperança de Oliveira.
Na mesma quadra do Esperança, descendo a Antonio Tedesco (na época Floriano Peixoto), havia um armazém, um barbeiro, a casa do avô do meu marido, seu Ricieri Cavassutti, fanático torcedor do Palmeiras, mais uma casa, na época ocupada pelo Sr. Miguel Palombo, famoso barbeiro. Na esquina, lado a lado com o Esperança, o popular Bar São Paulo e, um pouco acima, a loja de Armarinhos da D. Cristina, isto sem falar do açougue do S. Joaquim.
Do Bar São Paulo, as poucas crianças que tinham dinheiro, na época, moedas, voltavam com as mãos cheias de guloseimas: suspiros, pé-de-moleque, doce de leite, pirulitos, dadinhos de chocolate, balas, etc. Uma moeda de “dois cruzeiros”era uma fortuna.
Minha casa ficava na quadra de cima do Esperança. Ocupava uma área muito grande. Ao lado da casa, ficava a fábrica de farinha de milho do meu pai. Ali, o milho era trazido com casca, debulhado, canjicado, transformado em fubá, quirela, farelo, farinha de milho e comercializado.
O farelo, que era o produto mais barato do milho, meu pai nos deixava pegar e levar para as pessoas que criavam galinhas, porco, no quintal de suas casas. Com isso, nós ganhávamos uma moedinha que se transformava em guloseimas.
Na mesma quadra da escola, agora ao lado da Pedro Natálio Lorenzetti (na época era Marechal Deodoro da Fonseca), na esquina oposta ao Posto de Gasolina, ficava e ali está hoje, a primeira Igreja Presbiteriana de Lençóis Paulista.
Lembro que entrava muito ali, pois bons e queridos amigos eram filhos do zelador da Igreja e ali moravam. (Peres Pires de Camargo, já falecido, e Geszer Pires de Camargo, hoje residente em São Paulo, casado com uma grande amiga, Odila Moreira de Souza.
Na esquina hoje ocupada pelo Posto de Gasolina, não lembro o que havia, mas me lembro da casa ocupada pela saudosa Nair Maganha, professora do Esperança de Oliveira.
De costas para o Esperança, ficava a Igreja Matriz Nossa Senhora da Piedade. Padre Salústio Rodrigues Machado era o nome que mais ouvia na boca dos meus pais, meus sogros, avós. Há estórias engraçadas sobre a forma como cativava seus fiéis. Lembro que na sala de jantar da tia Angélica Cicconi havia um porta-retrato com a sua foto. Todos que ali entravam, não tinham como escapar do seu olhar amigo.
Lembro-me, e quem não se lembra, da figura simpática do barbeiro da Floriano Peixoto, S. Alcides, pai da Neusa Góes. Todos os dias passava pela sua porta para ir à escola. Sempre tinha uma palavra de estímulo para mim. Lembro-me da época do Curso de Admissão, quando ia à escola às 12h30min e voltava às 18h. Ele não se cansava de elogiar o meu esforço para continuar os estudos.
Vi a Igreja Nossa Senhora da Piedade (antiga) ir ao chão e dar lugar à nova e imponente. Lembro-me do trabalho que deu para levantar os sinos até a sua torre. Lembro-me da multidão que se juntou nas escadarias para a inauguração. Lembro-me, quando criança, de ter subido a escadaria para o lugar destinado ao coral e, pasmem, junto com outras crianças, ter subido a escada que leva aos pisos mais altos. Queríamos chegar ao topo. E depois dizem que ninguém pode com as crianças de hoje!
Hoje, para bater o sino, é só apertar um botão, tudo é regulado com botões. Naquela época, era na força, havia três cordas, uma para cada sino. Era preciso muita força para fazê-los badalar. Nas festividades, o bimbalhar alegre dos sinos; nos funerais, o toque triste. O sino sempre nos avisava quando alguém tinha morrido.
A Casa de Deus acolhia o corpo da pessoa falecida, havia o ritual feito pelo Padre e o cortejo seguia à pé, sob o som triste dos sinos da Igreja Matriz. O caixão era carregado pelos amigos e familiares.
O médico Dr. Antonio Tedesco,  habitante mais ilustre de nossa rua, foi vizinho do Esperança de Oliveira. Veio muito jovem para Lençóis Paulista.
Minha mãe conta que quando tive sarampo, foram buscá-lo de madrugada. Ele se levantou, colocou a sua impecável roupa branca, andou uma quadra e meia, embaixo de uma chuva torrencial. Naquela época, não havia calçamento. Chegou de lama até os joelhos.
Dr. Tedesco, como ficou conhecido, salvou a minha vida. O sarampo, com suas complicações, matava.
Este médico jamais será esquecido. Meu pai, em agradecimento, levava para ele, todo Natal, uma leitoa.
Quem não se lembra de suas filhas Marilene, Mariluce e seu filho Tedesquinho? Saudades. Mariluce era uma das frequentadoras do Bar São Paulo. Voltava com as mãos cheias de doces, balas e distribuía para todos os coleguinhas. 

Um comentário:

  1. Também estudei no Esperança de Oliveira. Até fiz um comentário a respeito. Gostaria que Zuleika pudesse ler. Meu e-mail: bravioirene@gmail.com

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