sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A MENININHA MARIA CONCEIÇÃO E RUI BARBOSA

Vejam o questionário que a menininha Maria Conceição teve que responder com apenas sete ou oito anos de idade, quando cursava o terceiro ano do primário.
Questões:
1º Que nome tem a mais antiga e bela praça de Bauru?
2º Quem foi Rui Barbosa?
3º Onde fez o seu curso primário e em que academias estudou e se formou?
4º Quem imaginou primeiro a Lei do Ventre Livre e a Lei Saraiva?
5º Que fez ele a favor da República e que cargo ele ocupou após a Proclamação?
6º Rui Barbosa foi contra o governo e a favor de quem?
7º Que lhe aconteceu quando houve a Revolta da Armada, em 1893?
8º Até quando ele foi Senador da República?
9º Que aconteceu em 1907, que cognome Rui Barbosa recebeu?
10º Que foi ele fazer na cidade de Tucuman, na Argentina?
11º Quantas vezes foi candidato à Presidência da República e contra quem fez a célebre Campanha Civilista?
Fico me perguntando como a professora conseguia dar tantas informações aos seus alunos. Raramente encontro nos cadernos de treino, pistas que me levem a descobrir que material de apoio tinham as crianças naquela época, para trazer todas as respostas solicitadas na tarefa. Acredito que a maior colaboradora deveria ser a mãe. Se a D. Maria estivesse viva, bateríamos longos papos sobre a sua vida de estudante e a didática de seus professores. A única coisa que sei, é que ela era muito culta e sábia, fruto da educação que recebeu. Amava os livros e sempre surpreendia nos presenteando com um.
Logo após o questionário, vem a orientação das tarefas:
- História da Praça Rui Barbosa
- Jogo de Geografia completo para a Rua 15, de novo
- Diários bem comentados
- Treino de Ortografia, de 1 a 25
- Um problema: Quanto custarão----------Kg de carne, se ------------Kg custam---------------
Muito complexo para uma terceira série, pois a criança tinha que saber operar com números decimais, primeiro calculando o preço de um quilo e depois da quantidade pedida.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A MENININHA MARIA CONCEIÇÃO E A CARTOGRAFIA

Sempre gostei de trabalhar com as quartas séries, alunos numa fase de transição, nem tão crianças, nem tão pouco adolescentes. Tinha um jeito especial para lidar com eles. Fazia tudo direcionado para a série seguinte, queria que eles chegassem muito bem preparados, talvez, para evitar o mesmo trauma que sofri ao entrar no ginásio, a inesquecível reprovação em massa. Tinha um excelente relacionamento com os professores da quinta série. Conhecia o conteúdo que seria desenvolvido no ano seguinte. Gostava de desafiar meus alunos com questões das séries seguintes. Quando acertavam, ficavam felizes da vida. Muitas vezes, promovia uma disputa de conhecimentos entre meninos e meninas. Ambos elaboravam questões para saber quem sabia mais: meninos ou meninas. A disputa era acirrada. Confesso que, muitas vezes, cheguei a assustá-los com tantas exigências. Fazia questão de cadernos impecáveis. Tinha o hábito de exigir deles a separação de um exercício do outro, com traço vermelho. Para isso era indispensável a régua e o lápis vermelho grosso. Os parágrafos, também, tinham que ser todos exatamente do mesmo tamanho. Alguns professores tinham o hábito de deixar dois dedinhos. Eu, porém, fazia riscar os parágrafos, a lápis, no caderno inteiro, da largura de uma régua de madeira. O efeito era lindo. Quando acabavam de copiar um texto, o alinhamento era perfeito. O traçado era imperceptível. Não preciso dizer que, quando os cadernos dos alunos eram vistados pela D. Maria, voltavam cheios de elogios.
Um dos cadernos que ela gostava muito de ver, chegando até a entrar na sala de aula para observar os alunos trabalhando, era o caderno de cartografia. Hoje, pegando os Cadernos de Treino da menininha Maria, entendo porque tamanho interesse. Ela, com certeza, lembrava o quanto aprendeu com sua professora, desenhando à mão livre, o Estado de São Paulo, o Brasil, a América do Sul, a Europa! Pasmem, tudo à mão livre.


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A MENININHA MARIA CONCEIÇÃO E A POESIA

Leiam a linda poesia que encontrei no Caderno de Treino, do 3º ano A, da aluna Maria Conceição Viegas.

PRINCESA D. ISABEL

Princesa D. Isabel
Mamãe disse que a Senhora
Perdeu o seu lindo trono
Mas tem um mais lindo agora

No céu está esse trono
Que agora a Senhora tem
Além de ser mais bonito
Ninguém o tira, ninguém

Aí no céu quando chegam
Anjinhos aos bandos mil
Depressa a senhora abraça
Os que chegam do Brasil
  
Vejam a singeleza e a ternura com que eram tratadas as figuras da História do Brasil. Garanto que estas três estrofes imprimiram um amor tão grande à Princesa Isabel, que nem o melhor texto seria capaz de tal façanha.
Apesar de ser apenas um Caderno de Treino, surpreendo-me com tantas coisas, que sem querer, me vejo comparando a menininha Maria, com a mestra Maria. Havia, realmente, algo de extraordinário no seu jeito adulto de ser, que só pode realmente ter sido forjado pelas mãos hábeis de excelentes mestres, como deve ter sido D. Iracema Amarante. D. Maria gostava muito de cantar. O canto nada mais é que uma poesia musicada, mas para cair no gosto dela, tinha que ser muito boa. Por isso, quando D. Maria cantava, se entregava de corpo e alma, e as crianças também.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

A MENININHA MARIA CONCEIÇÃO E O CADERNO DE TREINO

Confesso que fiquei emocionada ao analisar o Caderno de Treino da menininha Maria Conceição Viegas. Tão pequenina e tão sobrecarregada de deveres escolares. Tive a ideia de me colocar em seu lugar e fazer uma das tarefas que um dia ela fez. É claro que não teria dificuldade, mas demonstraria o quanto se exigia de uma criança de apenas sete ou oito anos.
Fevereiro de 1938
- Treino de ortografia, de 41 a 60
- Algarismos romanos, de CCCXLI à CCCLXXX (341 a 380)
-  Contas: 94 381 : 9 e por 38
- Lista individual
- Leitura do número 498 372 524 (Leitura e Decomposição)
Vou iniciar a tarefa. Quero fazer exatamente como ela fez, copiando os acertos e erros.
41 - em-bo-ra
42 - en-gra-ça-di-nha
43 - e-xa-me
44 - en-ve-lo-pe
45 - em-bar-car
46 - en-can-to
47 - fos-se
48 - xxxxxxxxxxx
49 - fi-as-co
50-Gui-lher-me
51 - gros-se-ri-as
52 - hei
53 - Hu-go
54 - hon-ra-da
55 - ho-nes-ta
56 - hor-ror
57 - ho-je
58 - in-co-mo-da-da
59 - i-ma-gi-nar
60 - ir-ra-di-a-ção
CCCXLI
CCCXLII
CCCXIII
CCCXLIV
CCCXLV
CCCXLVI
CCCXLVII
CCCXLVIII
CCCXLIX
CCCL
CCCLI
CCCLII
CCCLIII
CCCLIV
CCCLV
CCCLVI
CCCLVII
CCCLVIII
CCCLIX
CCCLX
498 372 524: Este número é quatrocentos e noventa e oito milhões, trezentos e setenta e dois mil, quinhentos e vinte e quatro unidades simples. Ele tem três classes, a das unidades, dezenas, centenas simples, a das unidades, dezenas, centenas de milhar, a das unidades, dezenas, centenas de milhão. O 4 vale quatro, o 2 vale vinte, o 5 vale quinhentos, o 2 vale dois mil, o 7 vale setenta mil, o 3 vale trezentos mil, o 8 vale oito milhões, o 9 vale noventa milhões, o 4 vale quatrocentos milhões.

Nota: Errou as duas contas da tarefa. Ao mudar de página para fazê-las, copiou o número errado. Outro detalhe: no treino de ortografia, as palavras eram copiadas e em seguida se fazia a separação das sílabas. Nesta tarefa foi omitida a cópia, só aparece o treino de separação das sílabas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

MARIA CONCEIÇÃO VIEGAS - ADMIRAÇÃO ETERNA

Os anos passaram, e toda vez que tenho oportunidade de falar dela, eu me emociono, tamanha foi a influência que exerceu em minha vida. Primeiramente, como minha professora de terceiro ano do curso primário, depois, como minha primeira diretora. Já citei inúmeras vezes seu nome nas páginas publicadas. Quero agora, com o consentimento de seus familiares, dedicar algumas páginas exclusivamente a ela. Quero entrar no Túnel do Tempo, trazer a menininha encantadora que deve ter sido “D. Maria”. Tenho em minhas mãos, seus caderninhos de quando frequentou o grupo escolar, guardados com o maior carinho pela família. Agradeço à Nilce que me confiou este imenso tesouro. Quero ser digna de captar tudo aquilo que ali ficou registrado. Acredito que vamos nos deliciar conhecendo mais ainda fatos de sua vida. Lembrei-me do livro “Bisa Bia, Bisa Bel”, quando a netinha descobre a foto de sua bisavó criança e, a partir de então, é tomada por tanto carinho, que transforma sua “bisa” na sua melhor amiguinha, carregando-a sempre consigo, transformando-a em sua companheira de todas as horas, escondidinha, bem pertinho de seu coração.
1937 - 1938: É desse período os cadernos que tenho em mãos. São cadernos tipo brochura, sem pauta. Na capa tem impresso: 3º GRUPO ESCOLAR/CADERNO DE TREINO/3º ANO A/ ALUNA MARIA CONCEIÇÃO VIEGAS/PROFESSORA D. IRACEMA AMARANTE
No espaço reservado para o nome da aluna, com uma letra muito delicada, aparece o nome Maria Conceição Viegas, letra da própria criança. No meu tempo de criança, este caderno era chamado de “borrador”. Caderno de treino, nada mais era do que um caderno de tarefa. Para evitar desperdício, as páginas eram numeradas. Porém, o que mais chama atenção é a quantidade de tarefa e a ocupação de cada folha. O espaço era ocupado milimetricamente. Na mesma página, dividida em colunas, cabia, às vezes, a tarefa de matemática e de português. Mas a quantidade de tarefa era realmente espantosa. Acredito que se a criança passava quatro horas na escola, ela passava mais quatro em casa fazendo tarefa. Havia tarefas especiais para as férias, para o carnaval, para os feriados, etc.                    
Vejam esta tarefa passada para os dias de Carnaval: Treino Ortográfico (Uma lista com CEM palavras para serem copiadas e divididas em sílabas), Lista coletiva do mês de janeiro inteirinha, Algarismos Romanos de 391 até 420, mais duas contas. Os algarismos romanos eram escritos em sequência: 391-CCCXCI, 392-CCCXCII, 393-CCCXCIII, 394-CCCXCIV... É interessante observar que todo dia a tarefa seguia o mesmo esquema: Treino ortográfico, Algarismos romanos, duas contas. Mesmo dominando a escrita dos numerais romanos, em toda tarefa aparecia a exigência de se escrever uma sequencia. A escrita passava de mil, dois mil, etc. Era fixação que não acabava mais! Vou publicar uma série de páginas sobre a menininha MARIA CONCEIÇÃO VIEGAS. É a forma que encontrei de homenageá-la. Até a próxima.

sábado, 25 de outubro de 2014

CARRIT- A FAMÍLIA DE GRANDES EDUCADORAS

Antes de iniciar o curso primário, as crianças passavam pelo Jardim de Infância “Elisa de Barros”. Era ali que eram preparadas durante um ano pela D. Irma. Minha mãe bem que tentou fazer com que eu frequentasse o Jardim de Infância, mas não houve meio. Lembro que chorava muito, não queria saber. Éramos criados muito agarrados a ela, ficávamos muito envergonhados na presença de outras pessoas. Sendo assim, nem eu, nem meus irmãos fizemos o Jardim de Infância. Apesar de não ter tido este contato tão próximo com ela, não havia na cidade quem não a conhecesse. A família Carrit se destacava pela religiosidade. D. Irma Carrit e suas irmãs moravam muito próximas. Lembro que elas eram muito habilidosas. Na época de Finados, as portas de suas casas se enchiam de coroas com flores de papel crepom muito coloridas, que eram adquiridas pelas pessoas para enfeitar os túmulos. D. Irma era talhada para lidar com crianças. Não se casou. Adotava todas as crianças que iam parar em suas mãos. Era mestra e mãe. O catecismo era uma obrigação. A religião ocupava o centro de sua vida. Havia duas congregações religiosas na época: os Marianos e as Filhas de Maria, ambos seguidores de Maria. Vestiam-se de branco e traziam no pescoço uma fita azul celeste com a medalha de Nossa Senhora. A Congregação era formada por um grande número de pessoas. O grupo se destacava do restante dos fiéis pela devoção a Nossa Senhora.
Bernadete, Terezinha e Inês, três sobrinhas de D. Irma, três professoras que doaram as suas vidas ao magistério. Bernadete, como eu, conquistou também uma cadeira prêmio. Trabalhou praticamente toda sua vida no Grupo Escolar Esperança de Oliveira. Excelente Professora Particular de Matemática, sua casa vivia repleta de alunos em busca de ajuda. Bernadete é lembrada por todos. Hoje, formada em Direito, continua atuante, embora em outra área.
Terezinha foi colega de trabalho no Paulo Zillo. Sua casa foi construída bem em frente da escola. Quando dava o sinal, nós saíamos da sala dos professores e íamos para o pátio. Ela saía correndo de sua casa para a escola. Só atravessava a rua. Bons tempos. Terezinha é muito dinâmica. Apesar de todos os obstáculos que enfrentou ao longo de sua vida, é uma vencedora. A sua fé remove montanhas. Saudades da correria!
Inês também dedicou toda sua vida ao Magistério. Como suas irmãs, só conquistou elogios por onde passou. Trabalhou não só em Escola Pública, como também em Escola Particular. Não tive oportunidade de trabalhar ao seu lado, porém, sei de sua competência e do prestígio que alcançou.
Hoje, todas, com exceção, claro, de D. Irma, gozam da merecida aposentadoria e curtem com mais tranquilidade a família. 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

AS SETE PROFESSORAS QUE DERAM VIDA À ESCOLA ESTADUAL DO PARQUE RESIDENCIAL SÃO JOSÉ - ATUAL “ANTONIETA GRASSI MALATRAZI”

Ângela Trecenti, Ângela Lorenzetti, Ozires Cordeiro, Maria Jandira Fortes e Zuleika Boso Radichi foram as professoras removidas compulsoriamente do Dr. Paulo Zillo para iniciar o trabalho na recém criada escola do Parque Residencial São José. Todas nós sentimos muito. Deixaríamos a escola de nossos sonhos, nossos colegas, nossa diretora, nossos alunos, para adotar nova casa, novo diretor, novos alunos. Na época, Lençóis era uma Delegacia de Ensino. Seu Sílvio Cunha era nosso Delegado. Isto aconteceu no início de 1977. A notícia pegou todo mundo de surpresa, até a diretora. Eu chorei muito, o Grupo Escolar Dr. Paulo Zillo, na minha cabeça, seria a minha escola até a aposentadoria. Mas não foi isso que aconteceu. Seu Sílvio, Delegado de Ensino, justificou dizendo que ia chegar um dia em que nenhum professor iria se sentir parte de uma só escola. O professor pertence a todas as escolas. Foi com esse discurso que ele nos “arrancou” do Paulo Zillo. O critério adotado foi o da classificação por tempo de serviço. Pegou as cinco últimas classificadas, portanto, as que tinham menos tempo de serviço. Fez a mesma coisa com as professoras do Esperança. Removeu duas: a Genny Bernardes e a Neide Franco. Estava formado, portanto, o novo Corpo Docente da mais nova escola de Lençóis. Um quinteto do Paulo Zillo e uma dupla do Esperança de Oliveira. De Areiópolis veio removido o Diretor Edo Jesus Coneglian. Ficamos algum tempo no prédio da Escola de Comércio. Assim que o novo prédio foi concluído, fomos para lá. Nossas vidas mudaram muito, tínhamos que atravessar a cidade para chegar lá. Ficamos tão traumatizadas com a remoção contra a nossa vontade, que não quisemos mais saber de voltar para o Paulo Zillo. A nova escola surgiu para acolher os alunos da Mamedina e do Parque Residencial São José, que atravessavam a cidade para estudar. Os primeiros anos foram maravilhosos, considerando-se a qualidade do ensino ali oferecido, sem falar da direção. O que foi mais difícil foi nos adaptar ao novo prédio. Infelizmente não lembrava em nada nosso inesquecível Paulo Zillo e Esperança de Oliveira.  As salas de aula tinham padrão normal, mas o resto das dependências eram minúsculas. O chão de cimento rústico ia esfarelando com o uso. Era insuportável a poeira que levantava quando os serventes varriam. Embora construída num terreno imenso, não tinha a infraestrutura adequada para ser a escola que também absorveria, mais tarde, os alunos do Jardim Primavera. A quadra para as aulas de Educação Física custou a ser feita. Não preciso dizer que aquilo que não foi gasto com a sua construção,  foi gasto com as sucessivas reformas pelas quais passou. Demorou muito tempo para que todo o espaço livre fosse ocupado adequadamente, principalmente, com árvores e gramado. Oferecendo também o ensino de quinta à oitava, o Corpo Docente cresceu. Levou muitos anos para esquecermos aquela remoção compulsória, porém, o prazer de alicerçar a nova escola, dando-lhe o necessário impulso para se projetar no cenário educacional, valeu a pena.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

RUTH GARBINO PINHEIRO

Falar da Ruth é trazer na lembrança D. Maria. Primas e companheiras de trabalho. Por esse motivo, Ruth trabalhou ao seu lado, primeiro como Professora, depois como Auxiliar de Diretor, depois como Assistente de Diretor. Ruth sempre se destacou como funcionária exemplar. A escrituração que ficava sob sua responsabilidade era impecável. Sua presença marcante, delicadeza no trato com todos,  sua maturidade faziam com que a buscássemos sempre. Frequentamos juntas o Curso de Administração Escolar. Quantos trabalhos fizemos juntas em sua casa. Ruth se casou com Jorge Pinheiro. Teve uma única filha, a Myriam. Também tive a satisfação de tê-la como aluna. Que responsabilidade ser professora dos filhos de colegas. Myriam foi excelente aluna. Formada em Odontologia, montou seu gabinete na residência dos pais. Com o casamento, mudou-se para Santos. Ruth também prestou concurso para diretora. Aprovada, escolheu seu cargo em Sarutaiá. Passou por diversas cidades. Aposentou-se como Diretora em Macatuba. Ruth e D. Maria eram evangélicas. Frequentavam a mesma Igreja, a Presbiteriana. Ruth mora na mesma rua em que eu moro. É muito raro vê-la sair de casa. Mora tão perto e nos vemos raramente. Às vezes, encontro o Jorge, seu marido, daí peço notícias suas. Tenho saudades do nosso grupo de colegas.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

CARLOS BRUSNARDO

A cidade foi crescendo, o número de crianças em idade escolar aumentando, o prédio do Segundo Grupo Escolar foi ficando pequeno e tornou-se necessário construir mais duas salas. Elas foram construídas ao lado direito do galpão, como se fosse um prolongamento do mesmo. Um dos professores que sempre trabalhou em uma delas foi o Carlos. Acho que foi o único professor homem de nosso tempo, pelo menos das séries iniciais. Sempre o vi trabalhando com quarta série. Gostaria muito de lembrar uma música que ele ensinava para seus alunos e que era muito apreciada quando eles cantavam. Era daquelas músicas que, à medida que iam cantando, novas estrofes eram introduzidas, formando uma sequência. Treinava a atenção, a concentração, não podiam errar. Lembrei, era a “Árvore da Montanha”.
Carlos era muito sistemático. Ano após ano desenvolvia seu trabalho sempre da mesma forma. Quando nos via mudando ou introduzindo novos procedimentos, ele dizia que ficávamos inventando história. Essa era sua linha. Apesar das divergências, sempre fomos bons colegas. Era muito querido pelos seus alunos. Carlos poderia ter se removido para o Esperança de Oliveira, escola mais próxima de sua casa, mas permaneceu no Paulo Zillo até sua aposentadoria. Raramente nos vemos, apesar dele morar não muito longe de casa.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

FEIJOADA NA ESCOLA? POR QUE NÃO?

Todo ano, por tradição, era promovida uma senhora feijoada no Paulo Zillo. Era um acontecimento grandioso, realizado no galpão da escola. Nunca descascamos tanta laranja na vida, nem lavamos e picamos tanta couve! Além da preparação, cuidávamos dos mínimos detalhes relacionados à arrumação das mesas. A cada ano, renovávamos o nosso avental. Nesse dia, deixávamos a sala de aula e nos transformávamos em cozinheiras, copeiras, arrumadeiras, garçonetes, etc. Não preciso dizer que a nossa feijoada ganhou fama e, todo ano, as adesões eram disputadíssimas. Eu não tinha o hábito de comer feijoada, mas a partir de então, peguei o gostinho. Hoje ela não falta na mesa de casa. Se não me engano, havia até a popular caipirinha de aperitivo. Era lindo ver o galpão arrumado, pronto para receber o pessoal. Lembro que caprichávamos muito na hora de dispor pratos, talheres, copos, guardanapos. Teve um ano que a mesa ficou linda. Sempre tinha alguém com uma ideia diferente. Nesse ano, dobramos o guardanapo de modo a formar um pequeno cone. Nele introduzimos um raminho de uma flor delicadíssima e muito colorida. O efeito foi maravilhoso.
Lembro-me de duas pessoas muito especiais na época: Seu Lídio Ferrari e Dona Mariquinha. Seu Lídio e as rosas, Dona Mariquinha e a merenda. De uma cozinha pequenina saíam as delícias saboreadas pelos alunos. Cada “panelão”! Dona Mariquinha tinha uma postura marcante, sempre muito bem vestida, com seu avental impecável, semblante sereno. Gostava mesmo do que fazia. Lembro-me também da vaca mecânica para produzir o leite de soja. Na época, tinha sabor muito forte. Não foi do agrado das crianças. A experiência de produzir o leite na escola não deu muito certo. Depois de décadas, centralizou-se a produção da merenda. Hoje temos a conceituada Cozinha Piloto do Município. É dela que sai toda merenda para as escolas de Lençóis.
Dona Mariquinha e seu Lídio já faleceram. Deixaram saudades. Quando olho para a Miria, sua filha, surge a mesma figura doce, bondosa, prestativa. Herdou de sua mãe o dom de pilotar, como ninguém, um fogão. Nas festas beneficentes todo mundo quer o pastel da Dona Miria. Que Deus lhe dê vida longa para poder servir sempre!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

DE AGUDOS PARA LENÇÓIS - DONA DOROTHY

Professora dedicadíssima, viajava diariamente de Agudos para Lençóis. Nunca vimos a Dorothy fora da sala de aula. Ocupava até o horário de recreio. Quando chegava, já se dirigia para a sala. Incrível, quando os alunos entravam, as duas lousas já estavam completamente tomadas com a matéria do dia. Diferentemente das outras professoras, tinha letra miúda, mas redondinha, por isso conseguia colocar uma quantidade muito grande de atividades no quadro. Era muito delicada em tudo. Não preciso dizer que com tanta dedicação, também foi homenageada com o título de PROFESSORA DO ANO. Dorothy ficou muito emocionada. A surpresa ao ver, entre os convidados, seus familiares, a deixou muito sensibilizada. Grande festa para uma grande professora. Sei que tenho entre os meus guardados alguma coisa escrita por ela. Acredito que seja uma mensagem trocada em AMIGO SECRETO. Tínhamos esse hábito. Dorothy tinha alma de poeta.
Revirei o meu baú e eis que encontrei um cartão envelhecido pelo tempo, mas com uma mensagem muito linda, enviada para mim no Dia do Professor, ano de 1974, portanto, há quarenta anos. ANNA DOROTHY escreveu assim:

Zuleika
“Verdadeiro mestre é aquele que passa pela vida pondo em cada aluno uma centelha de verdade e em cada coração uma gota de amor.”
“Mestre! Grande é sua missão: fazer as crianças crescerem em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens!”          
Anna Dorothy       15/10/1974

Suas mensagens eram cheias de ternura. Uma verdadeira poetiza. Produzia os próprios cartões. Pintava como ninguém. Vejam o delicado cartão desenhado no papel vegetal e por ela pintado!

           



domingo, 19 de outubro de 2014

NEUSA DO PROCÓPIO

Alguém diz o nome completo da Neusa ao se referir a ela? Não. Diz, simplesmente, a Neusa do Procópio. Neusa é tão popular quanto o Procópio. Procópio de Oliveira Lima, sempre trabalhou com Contabilidade. De funcionário de uma grande empresa, passou à gerente de sua própria empresa. Muito comunicativo, brincalhão, é conhecido por todos. Nunca vi o Procópio sem um sorriso no rosto. É muito popular. Talvez por isso, todo mundo associe o nome da Neusa ao seu.
Neusa é da tradicional família Giacomini. Como toda professora de minha época, trabalhou muito fora de Lençóis. Veio removida para o Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista na mesma época que a Dinorah, a Nancy, a Dulce, a Maria Bassalo, a Cinira, a Nabila. Foi a criação do Segundo Grupo Escolar que abriu vagas que permitiram a remoção desses professores para cá.
Quando conseguiam voltar para sua cidade de origem, já eram donos de uma grande experiência. A nova escola só ganhou com esse corpo docente. O time era muito forte. Trabalhávamos em um período, o que, às vezes, dificultava o convívio com todas. Geralmente, os vínculos eram mais fortes entre os que trabalhavam no mesmo período.
Neusa era conhecida pelo seu jeito de ser. Uma grande característica da Neusa era sua voz. Voz grave, inconfundível. De longe já se fazia anunciar. Porém, na minha lembrança, ficaram as licenças que a Neusa era obrigada a tirar por causa de um reumatismo que lhe causava muitas dores. Mesmo assim, era uma presença muito querida, sabia que podia contar com suas colegas e, principalmente, com a nossa diretora. Neusa e Procópio são vizinhos de longa data. Vi seus filhos nascerem, crescerem, casarem, como ela também viu os meus. Ser vizinhos favoreceu o compartilhamento da História de nossas famílias. São amizades que só se solidificam com o passar dos anos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

NANCY SCIMINI CONEGLIAN

Quem me segue no Blog, com certeza já sabe o quanto a Nancy representa para mim. Nancy e Dinorah foram as primeiras professoras com quem trabalhei lado a lado. Foi com elas que aprendi muito do que sei. Foram duas grandes mestras e amigas. Dinorah saiu da sala de aula para ser Coordenadora Pedagógica. Nancy nunca deixou a sala de aula. Era uma especialista em matemática. Trabalhava muito bem o sistema de numeração decimal, que era a base para a aquisição das operações decimais. A divisão era a operação mais difícil para os alunos dominarem. Nancy era especialista no ensino desta operação pelo processo longo. Dominado o processo, as crianças, rapidamente, passavam para o breve. Quantas vezes, nas reuniões pedagógicas, Nancy era escalada para transmitir suas experiências pedagógicas aos colegas. Era essa técnica que D. Maria, nossa Diretora, usava para capacitar seus professores. A troca de experiências era o melhor treinamento. É claro que Nancy se destacava nas outras matérias também. Foi com ela que aprendi a levantar os desejados Padrões de Comportamento dos alunos ao longo do ano. Era uma estratégia para tirar dos próprios alunos um conjunto de regras que ditariam o comportamento de cada um em sala de aula. Estabelecidas as regras, tinham que ser cumpridas. Havia penalidades para o não cumprimento. Como dava resultado!
Fizemos o Curso de Administração Escolar, completamos com a Faculdade de Pedagogia, prestamos concurso para Coordenadora Pedagógica, mas as regras mudavam tão rápido, que não deu tempo de sermos aproveitadas. Nancy e eu, continuamos na sala de aula.
Nancy tinha o hábito de colar no seu Diário de Classe, as fotos de seus alunos. Eram fotos três por quatro, dessas de documento. Ela deve ter ainda guardadas. Achei a ideia maravilhosa. Comecei a fazer o mesmo. Tenho, ainda, muitas delas guardadas. Não me separo delas de jeito nenhum. Muitas são do tempo do nosso orfeão.
Como não fomos aproveitadas como Coordenadoras Pedagógicas, passamos a dar aulas também no Curso Normal, no Virgílio Capoani, até que inventaram a tal da Jornada Integral, ou seja, o professor primário passou a trabalhar dois períodos (dobrou a jornada).
Já estávamos em final de carreira. Muitas conseguiram dobrar o período, outras se aposentaram pela média, pois não havia classes suficientes ou já estavam com a liquidação do tempo em mãos.
Continuamos muito amigas até hoje. Sempre nos lembramos, com saudades, de nossa trajetória.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

CRIANÇA ANO 2000/A BANDINHA

Foi com essas duas músicas que ganhamos o primeiro lugar num concurso entre as escolas primárias de Lençóis em 1972 (SESQUICENTENÁRIO da INDEPENDÊNCIA).
Criança Ano 2000 tem uma letra maravilhosa que retrata bem a seriedade do nosso comprometimento com a formação das novas gerações.

Eu sou criança do Brasil gigante
Eu vou levar adiante
O amor que a vida traz
Sou esperança do Brasil que cresce
E que se curva em prece
Prá fazer a paz
           
            Sou o amanhã
            Sou a esperança
            Eu sou criança
            E lhe quero bem
            Eu amo a vida
            Eu amo tudo
            E quero ver você amar também!

Porém, foi com a música “A BANDINHA” que arrebatamos a plateia. Foi uma apresentação perfeita. Acompanhada de gestos, o coro de vozes ficou lindo. Nossas crianças vibraram com o resultado. Nós, regentes, ficamos muito orgulhosas. Nossa Diretora muito mais.
Não preciso dizer que durante muitos anos as canções foram entoadas pelos alunos do Paulo Zillo. A Bandinha é uma canção que agrada as crianças até hoje. Ela sempre aparece nas coletâneas de músicas infantis.
Por ocasião de uma homenagem feita pelo LIONS de Lençóis aos ex-professores de seus membros, cantamos as duas músicas, pois muitos dos que estavam lá, foram nossos alunos. Nossa diretora também estava lá. WELLINTON, filho da Cinira, foi meu aluno. Foi dele que recebi o convite para receber a homenagem. O que ele não sabia é que seria homenageado em nome de todos os ex-alunos. 
Recebemos um CARTÃO de PRATA, que guardo com muito carinho. Dias depois, cada homenageado recebeu, também, uma foto junto com seu ex- aluno, uma lembrança muito carinhosa desse dia.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

MARIA CINIRA DA SILVA MORETTO

Maria Cinira ou simplesmente Cinira, como é conhecida por todos, junto com Maria Bassalo, Nancy, Dulce, Dinorah, Lilah, Anna Dorothy, Zoraide, Neusa, Carlos, Zuleika, Ângela Trecenti, Ângela Lorenzetti e Zizi formavam o time comandado pela Diretora D. Maria da Conceição Viegas Garbino. Produziram coisas incríveis sob a batuta da querida diretora, dentro da sala de aula e fora dela.
No ano de 1972, foi comemorado o Sesquicentenário da Independência. Durante o período de 5 a 15 de agosto, houve Exposição de Quadros Alusivo à Independência do Brasil, Maratona Intelectual, Competição Esportiva e uma Noite Musical Estudantil.
D. Maria gostava muito de cantar. Todo dia na hora da entrada entoávamos canções belíssimas, muitas das quais ensinadas por ela mesma. Eram canções cujas letras contribuíam muito para a formação de nossos alunos. Os professores também tinham seu repertório. Além de cantar, havia os gestos. As crianças gostavam muito. Foi daí que surgiu a ideia de ensaiar nossos alunos para participar da Noite Musical Estudantil, no Ubirama Tênis Clube, no dia 15 de agosto. Eu e a Cinira tomamos a frente. Escolhemos as músicas bem do agrado dos alunos e, incentivadas pelos colegas e pela diretora, demos o melhor de nós. Até um uniforme nós bolamos. O Orfeão era formado por alunos da terceira e quarta séries (classes minha e da Cinira). O uniforme era calça marrom e camisa amarelo ouro. As regentes também com o mesmo uniforme.
Depois de um período intenso de ensaios, chegou o tão esperado dia em que iríamos competir com as outras escolas. Na época, três: Esperança de Oliveira, Dr. Paulo Zillo e Curso Primário Anexo ao Colégio Estadual e Escola Normal Virgílio Capoani.
Exatamente às 20 horas, teve início no Ubirama Tênis Clube, a apresentação. Não preciso dizer que roubamos a cena. Nossa apresentação foi realmente digna de um primeiro lugar. Nossa prefeita estava presente, na época como professora. Lembro-me dos elogios que recebemos. No dia Sete de Setembro, desfilamos com o uniforme do orfeão e fomos muito aplaudidos. Se tiver permissão de um dos integrantes do mesmo, hoje professor universitário, vou publicar a foto que ele me enviou. Valeu Cinira!
Cinira goza sua merecida aposentadoria. Continua dinâmica como sempre foi. É rotariana, faz parte da Diretoria da APAE, está sempre envolvida com atividades filantrópicas. Possui um grupo que se reúne para bordar toda quinta feira. Anualmente, o grupo promove bazar beneficente com o fruto de seu trabalho. O dinheiro arrecadado vai para a APAE de Lençóis Paulista. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

LILAH BRITO DE TOLEDO - PROFESSORA 24 HORAS POR DIA

Colega de trabalho por anos a fio no Grupo Escolar Doutor Paulo Zillo. Mãe da artista Cássia Rando, da Demarice, da Silveli, do Cláudio.  Dona Lilah, como respeitosamente era chamada, era casada com o saudoso Seu Adão Franco de Toledo. Lilah morava bem próximo de minha casa. Seu Adão era Rotariano. Muitas vezes fui aos jantares do Rotary convidada por eles. Até cheguei a dar uma palestra, certa ocasião, sobre Orientações aos Pais com Filhos em Idade Escolar. Foi muito bom. Dona Luisinha Paccola, outra grande mestra, foi quem fez a minha apresentação.
Dona Lilah ficou na minha lembrança como a professora que vivia mergulhada sobre os cadernos dos alunos e planejamentos de aula. Ia muito à sua casa e a mesa estava sempre lotada de material. Dedicava-se de corpo e alma. Mas é da Lilah em sala de aula que eu quero falar. Tudo em sua sala era impecável. Podia entrar nela a hora que fosse, jamais seria surpreendida fazendo outra coisa, senão zelando pelo seu trabalho. Sua lousa era impecável. Os cadernos dos alunos cuidadosamente encapados, corrigidos, impecáveis! Lilah era extremamente responsável. Quando tinha alguma dúvida, sabia buscar. Mantinha a disciplina da classe como ninguém.
A delicadeza de seus gestos, a fala mansa, o tom de voz, tudo combinava com seu tipo “mignon”. Se tem também alguma coisa que ficou na minha lembrança, é a Lilah indo e vindo da escola sempre carregada de cadernos para corrigir.
A correção era o que roubava a maior parte do tempo do professor. Quem não se lembra da caneta vermelha? Tudo tinha que ser assinalado em vermelho, até que concluíram que era TRAUMÁTICO para a criança usar esta cor. O que fazer, então? Passamos a assinalar os erros, pôr um número em cada um, e no final do trabalho, escrever a palavra corretamente para a própria criança buscar e substituir. Era a vez da BORRACHA. Agora tinha que apagar a errada e colocar a certa. Antes, sobre a palavra errada, o professor escrevia a certa, processo que foi condenado porque a criança acabava fixando as duas formas. Treino ortográfico com as palavras corrigidas, quantos exercícios para dominar a ortografia.
Português, nas mãos da Lilah, era muito bem trabalhado. Deus deu a Lilah o dom de uma vida longa. Nós ficamos felizes. Silveli, uma de suas filhas, foi minha aluna. Seu rostinho doce de criança, em uma foto três por quatro, está entre as muitas lembranças que guardo de meus alunos.
Lilah, que Deus a abençoe! Como eu, tenho certeza que muitas colegas e alunos, a guardam no coração!

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

UM GESTO DELICADO

Já disse em páginas anteriores que tudo que ganhei de meus alunos guardo com muito carinho. É claro que o que era para ser usado, eu usei. Era muito comum os alunos presentearem os professores com algum mimo, no dia 15 de Outubro, nosso dia. Tenho uma caixa enorme de cartinhas, cartões, etc. Quando faço arrumação, ou quando bate a saudade, pego uma por uma, leio, volto no tempo e relembro tantas coisas! Mas, às vezes, bate a tristeza, porque muitos de meus alunos já partiram. De alguns pude acompanhar a trajetória, de outros não tive mais notícias. Muitas vezes sou surpreendida com alguém se dirigindo a mim com uma pergunta: D. Zuleika, a senhora não se lembra de mim? Não é fácil lembrar quando se perde o contato. Peço, então, que diga seu nome e escola onde estudou. Por incrível que pareça, consigo lembrar não só do aluno, como também do lugar que ocupava, e até de colegas da mesma classe.
UM GESTO DELICADO. Este gesto ficou na minha lembrança. Era um dia de festa, não sei exatamente se DIA do PROFESSOR ou ENCERRAMENTO DO ANO LETIVO. Eu estava na porta de minha sala, que ficava ao lado da Diretoria. Os alunos e professores estavam com largos sorrisos nos rostos, sem falar no zum-zum e no vai e vem pelo corredor. No meio de tudo isso, um menininho, muito bem arrumadinho, chega para mim, estende as mãozinhas e me oferece um presente. A delicadeza do gesto e o que havia sobre a caixinha que me oferecia, me tocaram profundamente. Jamais esqueci aquele BOTÃO DE ROSA. Não me esqueci nem do menininho, nem da mãe do menininho, a professora ZORAIDE PACCOLA SANTABÁRBARA, minha colega de trabalho. Muito obrigada, Zoraide! Um gesto lindo de PROFESSORA MÃE para outra professora. Nós, professoras mães, sempre entregávamos nossos filhos para outras professoras, com a mesma confiança que os pais entregavam seus filhos a nós. O carinho demonstrado pelo ALEX, esse era seu nome, prova o quanto éramos respeitadas.
ZORAIDE também correu em busca de um Curso Superior. Ela e a Ângela Trecenti foram para a área de Estudos Sociais, Geografia. Deram excelentes professoras, mas nunca abandonaram o trabalho com as crianças. 

domingo, 12 de outubro de 2014

MARIA BASSALO LINI - VOZ DE SOPRANO

Uma das lembranças mais lindas que guardo da Maria Bassalo é ela cantando o poema “MEUS OITO ANOS”. Se não tivesse sido professora, com certeza teria feito sucesso como cantora.  Achava muito interessante a forma como iniciava as suas aulas. Fazia um apanhado das principais notícias do dia. Os alunos, embora pequenos, já iam se interessando pela leitura de jornais. Maria sempre manteve uma postura altiva diante da classe. Era a verdadeira rainha na sala de aula. Tudo que falava era com muita autoridade, autoridade esta, que vinha de sua competência. Era admirada e copiada, um verdadeiro exemplo. Tinha um dinamismo fora de série. D. Maria da Conceição Viegas Garbino não gostava de nos ver acomodadas. Ela nos estimulava a buscar formação superior.  Embora fôssemos casadas, com filhos para cuidar, escola para dar conta, fomos em busca da formação superior. Algumas fizeram Pedagogia, pensando em fazer carreira na educação. A Maria Bassalo fez Ciências, gostava muito dessa área. Quando completou o curso, passou a dar aulas de Ciências nas séries mais adiantadas. Dei aula para a Regina, uma de suas filhas. Rita de Cássia, a outra filha, a exemplo da mãe, também é professora. Quando me casei, em 1971, já estava tudo certo para a Maria cantar a AVE MARIA no meu casamento. Fiquei muito triste porque houve um imprevisto e ela não pôde ir.
A formação superior trouxe alguma vantagem pecuniária para nós, porém, a grande maioria dos professores em final de carreira não teve tempo para correr atrás. Com o tempo, estas migalhas foram se diluindo e nosso salário achatando cada vez mais, principalmente, o salário dos aposentados.

sábado, 11 de outubro de 2014

DENISE ORSI “ALFABETIZADORA NOTA DEZ”

Como todas as professoras da mesma época, Denise também lecionou em vários lugares antes de trabalhar no Paulo Zillo e no Esperança de Oliveira. Tivemos a oportunidade de fazer um curso em Bauru, durante dois meses, quando foram lançados os SUBSÍDIOS DE LÍNGUA PORTUGUESA. Tivemos aula com um Professor de Linguística e outros especialistas na área.  Saímos do curso preparadíssimas para trabalhar de acordo com as novas orientações. Os professores treinados ficavam com a responsabilidade de multiplicar as orientações para os colegas. Foram lançados também subsídios para as outras matérias: Matemática, Ciências, Educação Física, Geometria, etc. Considero um dos melhores materiais fornecidos aos professores, depois do Programa Fundamental de Ensino para as séries iniciais. Cada professor recebeu o seu exemplar. Trabalhamos até a aposentadoria colocando em prática as novas orientações. Os professores da quinta série ficavam encantados com o resultado de nosso trabalho. Havia o famoso TIJOLÃO para as séries iniciais. Todas as escolas receberam farto material. Eu passei todos os exemplares para a minha filha, que é Diretora de Escola. É dele que ainda saem orientações preciosas para os professores das séries iniciais. O QUE ACONTECEU COM O MATERIAL DISTRIBUÍDO FARTAMENTE NAS ESCOLAS? Por que não deram continuidade à aplicação das orientações nele contidas? Por que na EDUCAÇÂO projetos bons morrem?
Quero voltar a falar da Denise. Sou imensamente grata a ela. Quando meu filho Evandro foi alfabetizado, sua professora se aposentou. O Diretor escolhia a dedo as professoras alfabetizadoras. Ficou difícil substituir a aposentada. A classe passou por muitas substitutas e o reflexo se fez sentir na alfabetização. Esta classe foi para o segundo ano em péssimas condições. Porém, foi a DENISE, com sua competência, quem consertou as falhas. DENISE e o PORTUGUÊS. Esta matéria foi a paixão de sua vida. Quantos alunos ela salvou da reprovação com suas aulas particulares. D. Maria da Conceição Viegas Garbino, nossa Diretora no Paulo Zillo, era a maior fã de seus professores. Sempre reconheceu o MÉRITO dos que trabalhavam sob a sua batuta. Grandes Professores, grandes Diretores! Entre as boas lembranças que a Denise deve ter guardado de sua trajetória como professora, garanto que uma deve ter ficado muito nítida em sua memória, a de MELHOR PROFESSORA DO ANO, homenagem que nossa Diretora fazia todo ano, escolhendo uma de suas mestras. Não lembro se a festa acontecia no Dia do Professor ou no final do ano. Lembro que era muito bonita. Tudo era preparado à surdina. A cerimônia começava com uma MISSA. Em seguida vinha a sessão solene. A HOMENAGEADA era sempre surpreendida com a presença de sua família, convidados de honra. Não preciso dizer que a emoção era muito grande.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

OUTRA ESPECIALISTA EM ALFABETIZAÇÃO: DULCINÉIA ORSI MORELLI

Depois de dez anos lecionando fora de Lençóis, trabalhando, na maioria das vezes, na zona rural, nas chamadas escolas isoladas, Dona Dulce, como carinhosamente era chamada, veio removida para o SEGUNDO GRUPO ESCOLAR DE LENÇÓIS PAULISTA (atual Dr. Paulo Zillo). A partir de então, tornou-se especialista em alfabetização. Quantas crianças aprenderam a ler e escrever com a D. Dulce. Dona de uma caligrafia invejável, conseguia fazer de seus alunos verdadeiros imitadores dela. D. Maria da Conceição, nossa diretora, dizia: Dulce, até a letra de seus alunos é igual a sua! D. Maria era uma grande incentivadora de seus professores.
D.DULCE veio removida para o Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista no segundo semestre do ano de 1965, no mesmo ano e mesmo semestre em que eu ingressei. Duas salas de aula foram improvisadas no galpão do ELIZA DE BARROS. Tinham paredes de madeira que não iam até o teto, para poder receber claridade. Foi um tempo difícil, mas a alegria de estar em casa, as colegas de trabalho, a excelente diretora, a certeza da mudança em breve para um prédio melhor, nos animava muito.
Na minha lembrança, a DULCE aparece sempre impecavelmente vestida, maquiada, cabelos arrumados, uma figura esguia, elegante. Nunca faltou um batonzinho em seus lábios. O professor era, realmente, um modelo: admirado e imitado.
Também foi protagonista das muitas reformas de ensino, porém, nunca abandonou o velho, para mergulhar no novo, mesmo que para isso tivesse que fazer alguma coisa às escondidas. Isto aconteceu, principalmente, quando foi introduzido o método global de alfabetização. Teve o bom senso de recorrer muitas vezes à experiência acumulada ao longo dos anos alfabetizando pelo método tradicional.
D. Maria, nossa Diretora, às vezes nos colocava em apuros. Certo dia, entrou na classe da Dulce e pediu: Dulce, prepare rapidamente uma leitura com seus aluninhos! O DELEGADO DE ENSINO vem nos fazer uma visita e quero que você mostre a ele como estão lendo bem! Não preciso dizer que ela ficou apavorada. Submeter o seu trabalho à apreciação de um DELEGADO DE ENSINO? Uma professora do nível de uma DULCINÉIA só pode ter recebido elogios do Delegado, como também da diretora e dos colegas. Muitas vezes, a pedido da D. Maria, Dulce deu aula para o segundo ano, aprimorando ainda mais o trabalho desenvolvido no primeiro.
Tive a felicidade e orgulho de ter sido professora de suas duas filhas: SILVANA e SÍLVIA, hoje casadas, com filhos, que enchem de alegria e orgulho o coração desta avó coruja!
Obrigada Dulce. Esta página é muito pequena para conter todas as lembranças lindas que guardo de você e de sua dedicação ao MAGISTÉRIO! Que Deus a abençoe e lhe permita curtir ainda por muitos anos a sua merecida aposentadoria! 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

MUDANÇAS

O prédio do Jardim de Infância Elisa de Barros já não comportava mais os alunos do Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista. Foi, então, que o Colégio Estadual e Escola Normal ”Virgílio Capoani” passou a ocupar um novo prédio e nós mudamos para o antigo. Finalmente, o famoso Jardim de Infância ganhava seu prédio de volta. Enquanto existiu, acolheu muitas gerações. Quem não se lembra com carinho de Dona Irma Carrit? Já instalados no novo prédio, quero falar da qualidade da educação que se ministrava ali, falar dos grandes educadores que deixaram sua marca no trabalho que ali realizaram, falar, principalmente, da nossa Diretora Maria da Conceição Viegas Garbino, falar também da razão de ser de uma escola, seus ALUNOS. Quantas lembranças!
Casa nova! Como ocupá-la? Dona Maria, com a grande experiência acumulada ao longo dos anos, não teve dificuldade nenhuma. Rapidamente, a escola passou a funcionar normalmente. A cidade foi crescendo, o número de alunos aumentando, professores novos chegando, tudo a pleno vapor. Em poucos anos ela já estava funcionando em três períodos. 
Passamos por várias reformas da Educação. Uma muito importante foi a que aglutinou o primário com o ginásio, e a obrigatoriedade de oito anos de estudo, o chamado Ensino Fundamental. Acabaram as festas de formatura de quarto ano, os exames de admissão ao ginásio, a separação entre Primário e Ginásio. O que se pretendia era uma continuidade ao longo dos oito anos de escolaridade. Esta reforma não trouxe a tão desejada continuidade de maneira a garantir um real aproveitamento. Os alunos continuavam a sentir dificuldades na aprendizagem. Outra mudança aconteceu, nas séries iniciais. Introduziu-se o chamado Ciclo Básico. O objetivo era dar mais tempo para o aluno completar a alfabetização. Em muitas escolas, o professor passou a acompanhar os seus alunos por dois anos, o tempo de duração do Ciclo Básico. Da primeira para a segunda série, não havia mais retenção. O aluno passou a ser avaliado no final do ciclo. Mesmo assim, alguns alunos não conseguiam ser alfabetizados em dois anos. A retenção saltou da primeira para a segunda série. Com tantas mudanças ao longo dos anos, começou a tal da promoção automática e os períodos de recuperação. Tentaram de tudo para salvar a Educação, mas até hoje ela só deteriorou. Gosto muito de colocar na mesa estes assuntos. É bom refletir sobre os rumos da nossa Educação.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

CULTO À BANDEIRA

A Ditadura no Brasil começou exatamente no ano que comecei a dar aula. A maior parte de minha vida trabalhei no Paulo Zillo. O Culto à Bandeira era uma atividade obrigatória nas escolas. Toda quarta feira, saíamos no pátio para o hasteamento da mesma e entoar os Hinos. Havia um rodízio entre as salas. A cada semana uma classe ficava responsável. Era muito solene. Nós, professores, tínhamos que achar um tema, desenvolvê-lo com as crianças e apresentá-lo na quarta-feira, diante de toda a escola.Geralmente, aproveitávamos o próprio símbolo da Pátria. Nada ficava sem aprender: o idealizador da Bandeira, o significado das cores, o lema, as estrelas e os Estados que representavam, o uso correto da Bandeira, proibições, enfim, esmiuçávamos o regulamento inteiro. Ganhavam as crianças, ganhávamos nós, em conhecimento, em civismo. A INCINERAÇÂO DAS BANDEIRAS, nos quartéis ou nos Batalhões da Polícia Militar, só podia ser feita no dia da Bandeira, dia dezenove de novembro. Quando isto acontecia, as escolas eram convidadas. As Bandeiras eram incineradas quando estavam em mau estado, rasgadas, desbotadas, etc.
Lembro-me de um dos cultos à Bandeira que eu fiz com meus alunos, bem antes de sairmos do Elisa de Barros. O tema era Bandeiras do Mundo. É claro que escolhemos apenas algumas. Meu objetivo era ensinar as crianças a entoar alguma canção em outra língua, como também alguns cumprimentos. Estava começando o meu trabalho, a minha carreira. A motivação era grande. Itália, França, Inglaterra, Espanha, que eu me lembre, foram os países selecionados. Aproveitando uma quadrinha muito popular que dizia: ”Uma pulga na balança deu um salto e foi parar lá na ... As crianças completavam: ITÁLIA. Repetia a quadra e introduzia outro país, até esgotar todos. Anunciado o país, lá vinham alguns conhecimentos sobre o seu povo, costumes, língua, etc. Nesse culto, as crianças aprenderam como se diz Bom Dia em Italiano, em Francês, em Inglês, em Espanhol, etc. O mais bonito foi ouvi-las cantar em francês “Frére Jaques”. Os cultos aconteciam toda quarta- feira. Eram verdadeiras festas cívicas.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

UM DIA GRATIFICANTE

DOIS contatos me deixaram muito feliz após a publicação “Bentinho – José Pedro de Oliveira” em meu Blog. Um deles, uma ligação do “BENTINHO”, o outro, conversar com as professoras DULCE e IVETE. Logo de manhã, BENTINHO me ligou. Não conseguia nem falar de tanta emoção. Só agradecia a publicação de uma página em meu blog, falando dele, página esta, que foi lida, não integralmente, na SESSÃO da CÂMARA, na segunda- feira, dia 22 de setembro. Os nobres vereadores, André e Tipó, pegaram Bentinho de surpresa, lendo apenas alguns trechos que destacavam fatos da vida do menino BENTINHO, que a maioria das pessoas desconhecia. No dia seguinte, todo orgulhoso, exibia por toda a cidade a homenagem. Como é bom, com tão pouco, fazer alguém feliz. Coincidência ou não, na mesma sessão, o nobre vereador Émerson destacava o trabalho de formação desenvolvido pela Diretora e Professores da Escola Municipal Idalina de Barros. E lá estavam os alunos premiados nos PROJETOS. É muito importante divulgar o trabalho que se faz nas escolas em prol da formação das gerações que tomarão os nossos lugares. Precisamos sonhar, acreditar e agir! Não podemos generalizar. A educação de um modo geral não vai bem, mas assistir de braços cruzados a sua derrocada é pecar por omissão. Há excelentes professores e diretores competentes. Vamos acreditar e construir um país melhor! Nossos netos pertencem a estas gerações.
Como me fez bem conversar com a Dulce e a Ivete. Como é bom entrar no Túnel do Tempo e recordar a nossa trajetória profissional. Quanta dedicação! Obrigada por tudo, mais do que colegas, grandes AMIGAS.  

domingo, 5 de outubro de 2014

MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COMO ALFABETIZADORA

Foi na escola da Fazendinha. Não sei exatamente quantos alunos eu tinha matriculados no primeiro ano, mais ou menos uns doze. Tinha meninos e meninas. A cartilha adotada era Caminho Suave. Tinha os cartazes cujas figuras associavam as letras ao desenho. Começávamos pelas vogais a, e, i, o, u, e as combinações entre elas: ai, ao, au, ei, eu, ia, oi, ui, e assim por diante. A de abelha, e de elefante, i de igreja, o de ovo, u de uva. Depois, seguindo a ordem alfabética, começávamos o estudo das sílabas: ba, be, bi, bo, bu. A seguir, brincávamos juntando as sílabas e formando palavras: babá, bebê, babo, bobo, aba, oba, boi, etc. As crianças levavam uns dois meses para assimilar o processo. Do ba, passávamos para o ca, do ca para o da. Dominadas as primeiras sílabas, o resto elas praticamente avançavam sozinhas.
Um fato interessante aconteceu antes de iniciar a cartilha. Eu seguia religiosamente as orientações que nos foram dadas no curso normal, bem como o que eu aprendera nos estágios. Antes de entrar na cartilha propriamente dita, era preciso desenvolver a coordenação motora. Tínhamos manuais com a sequência dos exercícios motores. Quando os pais viram que os filhos só estavam fazendo cobrinha, ondinha, sobe, desce, mandaram logo um recado: ”Professora, eu não mandei meu filho à escola para perder tempo só rabiscando! Trate de ensiná-lo a escrever! Abreviei o tal do período preparatório e comecei a alfabetização propriamente dita. Foi um sucesso. Num semestre estavam todos alfabetizados. Minha primeira experiência. No ano seguinte, nova turma. Agora já estava mais segura. Sabia que daria conta. Alfabetizar não era a minha maior paixão. Lembro apenas de uma classe que alfabetizei no Malatrazi. Eu sempre gostei mesmo foi de trabalhar com alunos maiores. Por todas as escolas que passei, sempre tive um bom relacionamento com os professores de quinta série. Gostava de prepará-los para a quinta série, ou primeira série do ginásio. Acabei me especializando em quarta série.
Pai diz cada uma. Isto aconteceu quando eu dava aula no Malatrazi. O Diretor exigia que entrássemos em contato com os pais dos alunos com aprendizagem insuficiente. Como a criança vinha de Virgílio Rocha, mandei um bilhete. Achei que seria melhor do que pedir para vir conversar comigo. Sabem o que ele respondeu? “Professora, da educação de minha filha cuido eu, da instrução, quem tem competência é a senhora! É claro que ele estava coberto de razão. Talvez ele pudesse me ajudar em algumas coisas, tipo frequência, tarefas, etc. Porém, quando o assunto não foi dominado em sala de aula, é claro que cabe ao professor reforçar o aprendizado. Não preciso dizer que guardei até hoje a resposta, como também comuniquei ao diretor. Era uma resposta que merecia uma reflexão!

sábado, 4 de outubro de 2014

SEGUNDO GRUPO ESCOLAR DE LENÇÓIS PAULISTA

Foi no recém-criado Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista que ingressei como Professora Efetiva. O Grupo estava instalado provisoriamente no prédio do Jardim de Infância “Elisa de Barros”. Dividia a sala de aula com a Diretora Dona Maria da Conceição Viegas Garbino. A parede que nos separava era de madeira, e não ia até o teto. Imagine a minha situação. Tudo que eu fazia passava pelo crivo dela. Dona Maria sempre me apoiou em tudo. Zelosa no cumprimento de sua função, queria de seus professores o melhor que pudessem dar, por isso estava sempre presente. Foi ali que dei aula para sua filha, a LIA, que tive a oportunidade de rever no DIA do REENCONTRO em abril. Lia está linda! Mora em São Paulo. Veio junto com seus irmãos, Leda, José Antonio e Elzinho, participar da homenagem que seria prestada aos seus pais: ELZO TERRA GARBINO E MARIA DA CONCEIÇÃO VIEGAS GARBINO. Meu reencontro com a minha professora do terceiro ano primário, agora DIRETORA de ESCOLA, aconteceu no ano de 1.964, no primeiro dia letivo do segundo semestre. Da mesma época são as professoras Dinorah Franzini Ranzani, Nancy Scimini Coneglian, Maria Bassalo Lini, Dulcinéia Orsi Morelli, Maria Cinira Da Silva Moretto, Nabila e outras. Lembro-me bem do pioneirismo da Dinorah e Nancy, aplicando o MÉTODO GLOBAL DE ALFABETIZAÇÃO. Houve, na época, muita resistência, mas ela provou sim, que era possível alfabetizar por ele. Dali para frente, declarou-se guerra às cartilhas e estabeleceu-se uma verdadeira guerra entre os professores conservadores e os adeptos do novo método. Com a TEORIA DO CONSTRUTIVISMO, a alfabetização sem a cartilha ganhou novo impulso. A guerra entre os alfabetizadores tradicionais e os alfabetizadores adeptos da nova corrente, continua até hoje. Pais se desesperam quando comparam a aprendizagem de seus filhos com a dos coleguinhas que começam a ler e escrever antes dos seus. A construção do conhecimento pela criança requer o respeito ao tempo de cada uma e exige a derrubada de conceitos que durante décadas imperaram.  É preciso muito preparo do alfabetizador. É importante saber COMO A CRIANÇA APRENDE para por em prática a Teoria do Construtivismo. Daí a importância da Psicologia. Em minha opinião, cabe à escola passar esta segurança aos pais, mas a grande responsabilidade é dos professores. Ensinar nunca foi tarefa fácil.
Cinquenta anos se passaram. Meus filhos foram alfabetizados com a cartilha. Meus netos, os mais novos, estão construindo os seus conhecimentos. A Carol com seis anos lê correntemente. A Ana Luiza, também com seis anos, já lê. Quando estou digitando um texto, fica atrás de mim e vai falando. Às vezes, nem terminei a palavra e ela já percebe e completa. O netinho, de apenas três anos, já conhece o alfabeto desde os dois anos. Reconhece as letras e faz a associação com a inicial dos nomes: M de Marcelo, Z da vovó Zuleika, A de Ana e assim por diante. Nossas crianças são gênios? Claro que não. Elas são submetidas a muitos estímulos,
o que as leva a dominar a leitura e a escrita rapidamente. Deixo aqui uma interrogação: Por que não dá certo com grande número de nossas crianças?  É tão triste perceber que nossos estudantes cometem erros gravíssimos de Português, em todos os níveis de ensino. Temos profissionais que não dominam a própria língua!  A VOLTA DA CARTILHA SERIA A SOLUÇÃO OU SERIA UM RETROCESSO?

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

ROTINA NA FAZENDINHA

Quando não ia aos domingo para lá, chegava na segunda para almoçar. Dona Palma, prendada como era, tinha caprichado no almoço do dia anterior. Sempre sobrava alguma coisa para a segunda, principalmente, carne assada. Uma carne que eu nunca havia comido era carne de pato. Foi lá que experimentei pela primeira vez. Era uma carne mais rígida e mais escura que a carne de frango. Nunca pediram a minha opinião. Embora não tivesse apreciado muito, não me atreveria a falar nada, pois Dona Palma era muito enérgica. Seu Diogo era muito engraçado. Quando ela preparava abobrinha, ele sempre dizia: - Sabe Zuleika, o melhor jeito de preparar abobrinha é recheada com carne moída. Dá trabalho, mas depois de pronta, você retira todo o recheio e come, o resto, você joga no rio! No final da semana, geralmente na sexta, Dona Palma fazia a fornada de pão para a semana. O pão era guardado em latas fechadas. Que delícia de pão! A mesa era farta. Tudo era produzido lá. O porco criado no  chiqueirão fornecia praticamente tudo: a banha para cozinhar, a mistura (carne, linguiça, chouriço, torresmo, pururuca, etc.) isto sem falar no sabão. As frutas vinham do pomar, as hortaliças e legumes da horta. Seu Paschoal tinha uma plantação de jabuticabeiras, que faziam a delícia de todo mundo na época da fruta. Quem morava na cidade gostava de fazer visita aos domingos. A hospitalidade era uma virtude comum. As crianças, principalmente, tinham muito o que ver. Como são grandes os ovos de pato! Eu vi nascer ninhadas de patinhos. Como era lindo vê-los acompanhando a mãe. Próximo à casa de Seu Diogo havia um córrego e uma mina. Quando Dona Pata resolvia passear, levava seus filhotes para lá. Era um deleite ver a alegria dos pequeninos, amarelinhos como gema de ovo, nadando no rio. Há poesia maior do que a natureza? Foi um ano e meio morando lá. Quantas lembranças!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O PRAZER EM CONTAR HISTÓRIAS

Lembrar-me de minha avó Carmela, me fez refletir sobre o dom de contar histórias, o gosto pela poesia, pelas cantigas, pelas coisas simples da vida. Minha mãe não completou o primário, porém, herdou de minha avó, o mesmo dom. Não me lembro de todas as letras das musiquinhas que cantava, porém, falavam de passarinhos, cachorrinhos, flores, etc. As músicas eram as mesmas que toda mãe canta, mas a forma de dar vida a elas é que fazia a diferença. A nossa imaginação ia longe. Quando vejo meu netinho chamar os passarinhos para brincar com ele, volto a minha infância, porque inocentemente não entendia porque eles não atendiam o meu chamado também. Brincar de casinha é outra coisa que minha mãe faz como ninguém. Ana Luiza, minha neta, foi quem mais desfrutou nos últimos anos dessa brincadeira.
Outra lembrança boa é a da Caixa de Santinhos. De onde vem a nossa veneração aos santos, ao Anjo da Guarda, às orações Ave Maria, Pai Nosso, etc.?  Com certeza da profusão de imagens que era muito comum há décadas atrás. Santinhos eram distribuídos em todas as ocasiões. Eram as lembranças mais comuns que se oferecia nos Nascimentos, na Primeira Comunhão, na Catequese, nas Missas Festivas, Nas Missas de Sétimo Dia, etc.
A imagem era um recurso que facilitava a evangelização. Nas Igrejas, nas Capelas, os Santos eram venerados através de suas imagens, até que, por uma interpretação equivocada da própria igreja, eles foram retirados das mesmas. Graças a Deus, eles voltaram, e com força total. Para a evangelização dos mais novos é muito importante esta visualização.
Visitar as Igrejas das cidades por onde passamos quando viajamos, conhecer seus padroeiros, pedir graças, é um hábito que tenho e procuro passar para a minha família. Quantas Igrejas permanecem exatamente como foram construídas, verdadeiro Patrimônio da Humanidade.
A procissão da padroeira de nossa cidade é uma verdadeira prova da veneração aos santos, de suas vidas edificantes. Nela sempre estão presentes todos os padroeiros das capelas da zona rural e de todas as Igrejas de Lençóis. O andor de Nossa Senhora estava lindíssimo! 

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

MISSA DO GALO

Um fato puxa o outro. Falando da Procissão da Sexta Feira Santa, me lembrei também da MISSA do GALO. Acontecia a mesma movimentação da zona rural para a cidade. Sempre morei na rua Doutor Antônio Tedesco, por onde desciam os caminhões lotados de gente na carroceria ou os tratores com suas carretas. As famílias vinham completas, só não vinham os cachorros. A missa era rezada exatamente à meia noite. A Igreja ficava lotada. Era gente espremida nos bancos que não acabava mais. O povo da roça, o povo da cidade, eu só não entendia porque era chamada de MISSA DO GALO. O mais engraçado era que nem todos conseguiam ficar acordados. Muitos assistiam à missa dormindo!
Fui crescendo, as mudanças foram acontecendo, e a Missa do Galo ficou só na lembrança. É claro que até hoje é rezada. O Nascimento de Jesus jamais deixará de ser festejado com todas as honras que lhe são devidas. O povo da roça hoje mora na cidade, os meios de transporte se modernizaram. A tradicional Ceia de Natal se popularizou, roubando os fiéis da Igreja, que, por sua vez, tenta se adequar às novas circunstâncias. A Missa do Galo deixou de ser rezada à meia noite, passou a ser celebrada mais cedo, mas o NATAL continua a ser  o maior presente de Deus para a humanidade, nos trouxe Jesus. Das lembranças que guardo de minha infância, o PRESÉPIO que minha avó Carmela montava é uma das mais bonitas. Não tinha nada de sofisticado, mas o encantamento diante dele não tem palavras que descrevam. Diante daquelas toscas figuras, aprendemos, ou melhor, APREENDEMOS a essência da nossa fé. O carinho e o zelo com cada pecinha, a ternura com que falava de cada personagem, os pastores, os animais, o monjolinho, as casinhas, o riozinho feito de espelho, os patinhos nadando, a gruta tosca onde nasceu JESUS, a SAGRADA FAMÍLIA, tudo era transmitido a nós com o maior carinho, por tradição oral. Minha avó era descendente de italianos e era analfabeta.  Mas nunca se intimidou com nada. Dizia sempre: Quem tem boca vai a Roma! Passou dos noventa anos. Era uma contadora nata de histórias! Com certeza está nos céus, rodeada de anjos, contando histórias para eles.