sexta-feira, 3 de outubro de 2014

ROTINA NA FAZENDINHA

Quando não ia aos domingo para lá, chegava na segunda para almoçar. Dona Palma, prendada como era, tinha caprichado no almoço do dia anterior. Sempre sobrava alguma coisa para a segunda, principalmente, carne assada. Uma carne que eu nunca havia comido era carne de pato. Foi lá que experimentei pela primeira vez. Era uma carne mais rígida e mais escura que a carne de frango. Nunca pediram a minha opinião. Embora não tivesse apreciado muito, não me atreveria a falar nada, pois Dona Palma era muito enérgica. Seu Diogo era muito engraçado. Quando ela preparava abobrinha, ele sempre dizia: - Sabe Zuleika, o melhor jeito de preparar abobrinha é recheada com carne moída. Dá trabalho, mas depois de pronta, você retira todo o recheio e come, o resto, você joga no rio! No final da semana, geralmente na sexta, Dona Palma fazia a fornada de pão para a semana. O pão era guardado em latas fechadas. Que delícia de pão! A mesa era farta. Tudo era produzido lá. O porco criado no  chiqueirão fornecia praticamente tudo: a banha para cozinhar, a mistura (carne, linguiça, chouriço, torresmo, pururuca, etc.) isto sem falar no sabão. As frutas vinham do pomar, as hortaliças e legumes da horta. Seu Paschoal tinha uma plantação de jabuticabeiras, que faziam a delícia de todo mundo na época da fruta. Quem morava na cidade gostava de fazer visita aos domingos. A hospitalidade era uma virtude comum. As crianças, principalmente, tinham muito o que ver. Como são grandes os ovos de pato! Eu vi nascer ninhadas de patinhos. Como era lindo vê-los acompanhando a mãe. Próximo à casa de Seu Diogo havia um córrego e uma mina. Quando Dona Pata resolvia passear, levava seus filhotes para lá. Era um deleite ver a alegria dos pequeninos, amarelinhos como gema de ovo, nadando no rio. Há poesia maior do que a natureza? Foi um ano e meio morando lá. Quantas lembranças!

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