Todo ano, por tradição, era promovida uma senhora feijoada
no Paulo Zillo. Era um acontecimento grandioso, realizado no galpão da escola.
Nunca descascamos tanta laranja na vida, nem lavamos e picamos tanta couve!
Além da preparação, cuidávamos dos mínimos detalhes relacionados à arrumação
das mesas. A cada ano, renovávamos o nosso avental. Nesse dia, deixávamos a
sala de aula e nos transformávamos em cozinheiras, copeiras, arrumadeiras,
garçonetes, etc. Não preciso dizer que a nossa feijoada ganhou fama e, todo ano,
as adesões eram disputadíssimas. Eu não tinha o hábito de comer feijoada, mas a
partir de então, peguei o gostinho. Hoje ela não falta na mesa de casa. Se não
me engano, havia até a popular caipirinha de aperitivo. Era lindo ver o galpão
arrumado, pronto para receber o pessoal. Lembro que caprichávamos muito na hora
de dispor pratos, talheres, copos, guardanapos. Teve um ano que a mesa ficou
linda. Sempre tinha alguém com uma ideia diferente. Nesse ano, dobramos o
guardanapo de modo a formar um pequeno cone. Nele introduzimos um raminho de
uma flor delicadíssima e muito colorida. O efeito foi maravilhoso.
Lembro-me de duas
pessoas muito especiais na época: Seu Lídio
Ferrari e Dona Mariquinha. Seu
Lídio e as rosas, Dona Mariquinha e a merenda. De uma cozinha pequenina saíam
as delícias saboreadas pelos alunos. Cada “panelão”! Dona Mariquinha tinha uma
postura marcante, sempre muito bem vestida, com seu avental impecável,
semblante sereno. Gostava mesmo do que fazia. Lembro-me também da vaca mecânica
para produzir o leite de soja. Na época, tinha sabor muito forte. Não foi do
agrado das crianças. A experiência de produzir o leite na escola não deu muito
certo. Depois de décadas, centralizou-se a produção da merenda. Hoje temos a
conceituada Cozinha Piloto do Município. É dela que sai toda merenda para as
escolas de Lençóis.
Dona Mariquinha e seu Lídio já faleceram. Deixaram saudades.
Quando olho para a Miria, sua filha,
surge a mesma figura doce, bondosa, prestativa. Herdou de sua mãe o dom de
pilotar, como ninguém, um fogão. Nas festas beneficentes todo mundo quer o
pastel da Dona Miria. Que Deus lhe dê vida longa para poder servir sempre!
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