terça-feira, 30 de setembro de 2014

PROCISSÃO DO ENTERRO DE JESUS

Certa vez, conversando com o Monsenhor Carlos, disse que tinha saudades da procissão da Sexta- Feira Santa, quando o povo saía às ruas para acompanhar a Procissão do Enterro de Jesus. No meu tempo de criança, a Sexta-Feira Santa era respeitadíssima. O silêncio era observado. Não se ligava o rádio. O jejum e a abstinência de carne eram essenciais. Na família de minha avó paterna, não se comia nem tomava produtos de origem animal. Não era permitido o trabalho. Não se varria a casa, não se lavava roupas, etc. O café era moído na véspera porque não podia girar a manivela do moedor de café. Meu pai nunca deixou de acompanhar a PROCISSÃO DO ENTERRO. Usava terno. Era muito solene. Uma coisa que me marcava muito nessa procissão, era a banda, que seguia logo atrás do ESQUIFE. Tocava músicas fúnebres, que nos deixava imersos no clima da PAIXÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, isto sem falar no canto da Verônica, que eu acredito, já era entoado pela Dona Antonieta. O percurso era longo. Passávamos pela Rua Quinze quase inteira antes de retornar para a Matriz. Os bares, respeitosamente, fechavam suas portas. Ouvir a pregação, entrar na igreja após, beijar o Senhor Morto, tudo isso era um ritual observado por todos os católicos. Guardávamos silêncio até ARREBENTAR A ALELUIA. Isto acontecia no sábado ao meio dia. Minha avó fazia a gente se ajoelhar e beijar o chão. Os sinos repicavam alegremente. As crianças gostavam muito da malhação do Judas. Era comum a cidade amanhecer com bonecos pendurados nos postes, simbolizando JUDAS, o traidor de JESUS. Eles eram malhados até não sobrar nada. Há muitos lugares que conservam esta tradição.
Diz o padre Reginaldo Manzotti em todo final de seu programa no rádio: EVANGELIZAR É PRECISO! Não importa a forma como evangelizamos, o que importa é o testemunho que damos de nossa fé, o exemplo. Foi assim que nos formaram! 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

UMA CERTA NOSTALGIA

Domingos e Dias Santos de Guarda me trazem certa nostalgia. Este sentimento deve ter ficado da época que me separei da família, ainda solteira, para morar na Fazendinha. Apesar de todo acolhimento, o momento de voltar para casa era sempre mais prazeroso do que ir para lá. Mas era só um momento, eu me envolvia tanto com as crianças, que a semana voava. Voltei a falar de nostalgia quando ouvi o sino da matriz tocando. Era dia de NOSSA SENHORA DA PIEDADE, PADROEIRA DA CIDADE. Com uma programação muito bonita, chegava o dia dela. Tivemos a Semana das Graças, com Bênçãos Especiais em cada dia. O que eu mais gostei foi o resgate da missa das seis horas da manhã. Pena que foi só nessa semana. Apesar da reforma em andamento, a igreja estava linda! Às dezessete horas, houve MISSA SOLENE NA PRAÇA e a PROCISSÃO DAS FLORES, tudo em homenagem à PADROEIRA. Finalizando, um BOLO ENORME, com direito a PARABÉNS, muitas Palmas e Foguetório.
Uma característica dessa procissão é a presença de andores de todos os SANTOS PADROEIROS DAS CAPELAS DO MUNICÍPIO. Cada andor, acompanhado dos fiéis de sua comunidade e enfeitado com muito carinho. Por tradição, a família CONEGLIAN enfeita o de Nossa Senhora.
De onde vem a nostalgia que dá título a esta página? Vem das lembranças do povo da zona rural, que vinha em peso para esta e outras festas religiosas. Vinham na carroceria de caminhões, nas carretas de tratores, à cavalo, não importava o meio de transporte, o importante era a FÉ, era estar presente. Apesar de não ter uma capela na Fazendinha, seu povo não deixava de vir para a cidade. Quando isto acontecia, a professora também vinha e pegava uma carona na volta. Não gostava das voltas antecipadas, mas era para poupar meu pai.
No dia 15 de setembro de 2014, a história se repetiu. Os fiéis corresponderam ao AMOR DA MÃE, REZANDO e LEVANDO FLORES. Parabéns ao Monsenhor Carlos, que resgatou com força total esta tradição. Fez, ao longo dos anos, um trabalho de formiguinha, refazendo e documentando oficialmente toda a história da nossa Padroeira, desde a doação das terras, primeira imagem, etc. No livreto preparado para a Semana das Graças deste ano, apareceu pela primeira vez, além das orações,  dados históricos da Festa da Padroeira, inclusive o Programa de Festa mais antigo que se tem notícia.

domingo, 28 de setembro de 2014

O MILAGRE DA VIDA

Da Fazendinha para o Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista. Deste, para o Antonieta Grassi Malatrasi, e, finalmente, Esperança de Oliveira. Já em final de carreira dá-se o meu reencontro com a Alice, a menininha da foto. Agora, mulher feita, Professora Efetiva, casada, mãe de duas filhas: Daniela e Débora. A história se repete. Agora seria professora de suas filhas. Sempre tive predileção por quarto ano. Alice se tornou especialista em alfabetização, primeiro ano. Leoni recebia os alunos da Alice no segundo ano. Miria recebia, por sua vez, os alunos da Leoni no terceiro ano. Finalmente, chegavam ao quarto ano, e durante um ano eu os preparava para a quinta série. Nosso trabalho era muito bonito e reconhecido. Éramos muito profissionais. As histórias brotam em minha cabeça. Fico ansiosa. Espero não decepcionar ninguém quando relato tantas lembranças. Peço desculpas por alguma falha. Agora mesmo sei que cometi uma. Eu, a Alice, a Miria e a Leoni não éramos as únicas professoras no Esperança, éramos apenas muito unidas em nosso  trabalho.
Daniela, a filha mais velha da Alice, foi quem passou primeiro pelas minhas mãos. Nossas classes eram sempre muito numerosas, trinta e oito alunos ou até mais. Cheguei a ter salas com mais de quarenta. Como a mãe, era aluna exemplar. Destacava-se em todas as matérias. Cadernos muito caprichados, caligrafia perfeita, enfim, tudo lembrava a menininha da foto. Tenho na memória o lugar que ocupava na sala de aula, na fileira lateral, quase no fundo. Daniela era de estatura alta. Geralmente colocava os mais altos nas laterais para não impedir a visão dos menores.
Plantas era o assunto que estávamos estudando. No fundo da sala havia o Cantinho de Ciências, onde fazíamos nossas experiências. Estudando as plantas podíamos experimentar tudo. Era muito legal. Em meio a tantas experiências, eis que surge a Daniela com alguma coisa em suas mãos, dizendo: Minha mãe mandou perguntar se a senhora se lembra disso? O que Daniela trazia em suas mãozinhas com tanto cuidado?  Eram sementes da Ficheira, a àrvore que produzia as fichas que usávamos para contagem, lá na Fazendinha, quando sua mãe era criança. Propus à Daniela que a plantássemos para vê-la germinar. Nem eu acreditava que isso pudesse acontecer. A semente era tão dura, seca! Para nossa surpresa, um belo dia, o milagre da vida aconteceu! Cuidamos da nova plantinha com o maior carinho até ser levada para o lugar de onde veio a semente. Foi uma experiência maravilhosa!

sábado, 27 de setembro de 2014

A FICHEIRA

Havia na Fazendinha uma árvore conhecida como ficheira. Suas sementes eram grandes, chatas e ovaladas. Eram de cor marrom. Eu usava como recurso para ensinar a contagem e as operações matemáticas, principalmente, com o primeiro ano. Tinha caixas desse material. Além dos “pauzinhos”, as fichas eram muito úteis. Era um recurso barato, a própria natureza oferecia. Brincando com as fichas, eu ia introduzindo os principais conceitos: contar de dois em dois (números pares), de três em três, quatro em quatro, cinco em cinco, (as tabuadas), ia ensinando adicionar, subtrair, multiplicar, dividir, etc.
Os adultos de lá costumavam usar as fichas para marcar os pontos no jogo de baralho, uma das diversões preferidas à noite. Eu sempre tive aversão ao jogo de baralho, porém, tanto na casa de Seu Diogo, como na casa de Seu Aurélio com quem morei, os primos se reuniam para jogar. Eu ficava observando.
Outra diversão era ouvir jogo de futebol pelo rádio. Rádio era de PILHA. Não havia energia elétrica. A energia produzida lá era fraca, era energia de dínamo. Seu Diogo adorava um rádio. Programa político era com ele. Eu levava sempre um radinho portátil, era um mimo, presente de minha avó Josefa, sempre preocupada com o meu bem estar. Quando havia jogo, todos ficavam em volta dele.
Fumo de corda, produzido lá mesmo pelos filhos de Seu Paschoal, picado e enrolado em palha de milho, era o cigarro consumido por todos que tinham o vício. Pitavam e soltavam longas baforadas. Era tão forte que o cheiro parece estar no meu nariz até hoje.
Outro deleite dos adultos que cresceram trabalhando no engenho, era a PINGUINHA que produziam. Era de excelente qualidade. Todo final de tarde bebiam, riam, enquanto jogavam conversa fora. Tenho muitas saudades.
Na casa de Seu Diogo tinha um cômodo pequenino, que eu usava para preparar minhas aulas, quando não fazia isso na escola. Era do lado da varanda. A casa ficava no alto. Tinha uma vista muito bonita. Era distante da escola. Para chegar nela, eu tinha que passar obrigatoriamente pelo engenho e atravessar um riacho. Quando passava pelo engenho, eles assoviavam, mexendo comigo. Eu ria e continuava. Era uma intimidade saudável. Morei um ano e meio na Fazendinha. As amizades que fiz lá conservo até hoje. Sinto saudades dos que já partiram. Obrigada a todos!

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

UMA FOTO

As lembranças que recebi de meus alunos, principalmente, cartões, fotos, guardo com muito carinho. Vira e mexe, entro no túnel do tempo e faço viagens fantásticas. Foi numa destas viagens que encontrei e separei uma foto de uma menininha muito bonitinha, de véu branco, com uma coroinha de flores na cabeça, ajoelhada num genuflexório, e, ao seu lado, a figura de JESUS com um Cálice em uma das mãos e a Hóstia na outra. Era tão linda a imagem que parecia real.  Tomei-a nas mãos e reconheci imediatamente a menininha. Era uma lembrança de Primeira Comunhão, daquelas feitas por fotógrafo profissional. O que me surpreendeu, era o que estava escrito na parte interna da lembrança, PRIMEIRA TURMA PREPARADA POR MIM PARA A PRIMEIRA COMUNHÃO - FAZENDINHA, 1964. Mais abaixo, os dizeres: TODO AQUELE QUE ENSINAR UMA PEQUENA VERDADE SOBRE O REINO DE DEUS AOS PEQUENINOS, SERÁ CHAMADO GRANDE NO REINO DOS CÉUS!
Preciso encontrar urgente a menininha. Quero lhe dizer que pela primeira vez minha memória falhou. Não consigo lembrar como foi essa preparação. A única hipótese que tenho é que realmente isso aconteceu porque a menininha ia mudar para a cidade, para morar com seu avô e fazer o quarto ano. Esta menininha se chama ALICE MARIA DOS SANTOS CONEGLIAN, a ALICE DO GILDO, hoje, com uma importante missão na Igreja. É responsável pela Equipe de Liturgia.
Obrigada pela lembrança. Vai continuar no meu baú. Na minha trajetória profissional, cruzei muitas vezes com ela. Mas isto é assunto para outras páginas!
Em tempo. Liguei para sua mãe e descobri que preparei não só a Alice, como também outras crianças, e a Primeira Comunhão não foi na cidade, mas em uma capelinha chamada Santa Cruz. As crianças foram de caminhão, felizes da vida. Cantaram durante todo o trajeto. EDITE, a mãe da ALICE, nos acompanhou. GLÓRIA A JESUS! 




quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O DIA D

O Dia D finalmente chegou. Chamo de Dia D, o tão esperado dia de escolher minha Cadeira Prêmio. Às vésperas de ir a São Paulo, eu estava na frente de minha casa, quando Seu Elzo e Dona Maria passaram, fazendo o mesmo caminho que faziam todos os dias. Voltavam para casa depois de mais um dia de trabalho. Pararam para conversar comigo e me desejaram uma boa escolha. Lembro-me das palavras de Seu Elzo: “Você vai escolher em Lençóis”. Dona Maria retrucou: “Não, em Lençóis não tem vaga”. Mesmo assim, alimentava no coração a esperança de pelo menos não escolher muito longe daqui.
Na véspera do dia marcado para a escolha, eu e a Toninha Portes fomos para São Paulo. Ficamos hospedadas na casa de uma parente dela. DIA D, lá estávamos nós, muito ansiosas. O regulamento para escolha funcionava assim: eram chamadas três formadas com média nove no Curso Normal e uma com média nove no Curso de Aperfeiçoamento. Sendo assim, eu fui passando à frente da Toninha. Realmente, na relação de vagas havia uma vaga no Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista, o grupo onde a D. Maria era Diretora. O destino brincou com a Toninha. Morando em Areiópolis, escolheu uma vaga na Barra Bonita, a mais próxima.  Ela assumiu na Barra Bonita, mas nem esquentou a “cadeira”, pois, por permuta, trocou com uma professora da Barra que estava em Areiópolis. Moral da história: alcançamos nosso objetivo, conquistamos nossa ”Cadeira Prêmio”.
A batalha ainda não estava ganha. Tínhamos que passar por um rigoroso exame de saúde, só assim seríamos nomeadas. No dia determinado, lá estávamos nós. Passamos por exames de tudo que é especialidade, nem os dentes foram poupados. Cada médico na sua especialidade. Eu gozava de boa saúde. Não tinha com o que me preocupar. Porém, vejam o que aconteceu comigo. Eu usava óculos. Sempre tive uma “miopia acentuada” no olho direito. O Oftalmologista começou justamente a me examinar pelo olho direito. Vendo o “grau da miopia”, soltou com todas as letras: COMO PODE UMA CEGA QUERER SER PROFESSORA? Vocês não imaginam a dor, a humilhação de ser tratada daquela maneira. Feito o exame do outro olho, ele me dispensou. Pela minha cabeça passava tudo, principalmente, a dor que causaria a meus pais se fosse barrada. Tínhamos que voltar para casa com o laudo nas mãos. Foi um calvário esperar pelo mesmo. Graças a Deus, o oftalmo foi consciencioso, eu tinha sim, condições de exercer a profissão pela qual lutara tanto.
Há coisas que acontecem na vida da gente, que ao invés de nos jogar para baixo, nos animam a continuar. São verdadeiros DESAFIOS!

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A ARTE DE ENSINAR

Se eu tivesse que escolher novamente uma profissão, escolheria SER PROFESSORA. Se tivesse opção, gostaria de trabalhar não só com as crianças, mas também com os futuros professores. PRÁTICA DE ENSINO seria a minha opção. Meu marido sempre falou: ”o governo desperdiça o melhor recurso que tem para melhorar a qualidade da educação”, os professores em final de carreira. A experiência acumulada ao longo dos anos deveria ser colocada a serviço dos mais novos. Porém, todas as reformas de educação vieram de cima para baixo, só tínhamos conhecimento quando já era Lei. Então, suspendiam aula, exigiam estudo do texto, sugestões, críticas, para quê, se tudo já estava consumado? Só restava ao professor colocar em prática. Sempre foi assim. Nunca fomos ouvidos.
O ensino da matemática foi me projetando. Lembrei- me de um convite, desta vez, feito pelo SEROP de Jaú (Serviço de Orientação Pedagógica). Isto aconteceu quando eu lecionava no Paulo Zillo ou Malatrazi, não me lembro. Estávamos estudando frações, quando recebemos a visita de um supervisor. Ele ficou interessado e me ofereceu a oportunidade de trabalhar em Jaú, pois Lençóis, na época, pertencia à Delegacia de Ensino de lá, para fazer exatamente uma das coisas que eu também gostava. Se aceitasse, iria trabalhar com uma equipe de professores orientadores, dando suporte aos professores em sala de aula. Só não aceitei porque tinha os filhos pequenos e teria que viajar todos os dias. As oportunidades foram surgindo, mas a minha realização estava na sala de aula. Ali eu era a rainha, tinha liberdade de ação. Gostava muito do que fazia. Até hoje tenho reconhecimento pelo trabalho que fiz.
Quase no final da carreira, prestei concurso para Diretor de Escola. Relutei muito, pois não queria sair da sala de aula. Minhas amigas iriam prestar e acabei me envolvendo também. Fiz a inscrição, prestei o concurso e fui aprovada. Outro dilema. Já tinha a liquidação de meu tempo nas mãos. Minha vontade era me aposentar, mas colocaram tantos motivos para que eu não fizesse isso, que acabei esperando e ingressando como Diretora. Desta vez fui parar em Pratânia. Não podia ter ingressado em lugar melhor. Fiquei apenas dois meses lá e já estava de volta. Cumpri o tempo que precisava e me aposentei como Diretora de Escola, em Alfredo Guedes, mas meu cargo era em Pratânia.
Exerci, realmente, a função de Diretora, quando fui trabalhar na APAE de Lençóis Paulista. Foi uma das experiências mais gratificantes de minha vida! Administrar uma Escola de Educação Especial é um SACERDÓCIO. Exige muita força, coragem, determinação, doação, e, principalmente, muito AMOR!
Hoje estou aposentada. Curto a vida me dedicando à família e aos amigos. Meu blog é uma curtição. Amo as minhas lembranças e tenho prazer em registrá-las. Maior prazer encontro quando compartilham comigo. Um abraço carinhoso.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

“AS CASINHAS“

Com o professor Nelson Brollo aprendemos as técnicas para trabalhar os conteúdos de Matemática. O PROGRAMA DO ENSINO FUNDAMENTAL detalhava série por série, não só o conteúdo, como também a metodologia de todas as matérias. Era sobre ele que me debruçava para dominar o que ainda me faltava. Matemática era o meu xodó. Alunos inteligentes, pais que acompanhavam e cobravam o trabalho do professor, me motivavam a crescer. Tempo eu tinha, por isso sempre me dediquei muito. Para ensinar o conteúdo do sistema de numeração decimal, adotava o processo das casinhas e associava a uma historinha da família. Cada unidade representava um membro da família: o pai, a mãe, o primeiro filho, o segundo filho, e assim por diante. As quantidades iam aumentando, até que não cabiam mais na casa. Era preciso, então, mudar de casa. Para não perder ninguém na mudança, iam todos juntinhos, abraçadinhos, amarradinhos. A casa só comportava 9 pessoas, toda vez que chegava a décima, era preciso fazer a mudança para uma casa maior. A primeira casa tinha o nome de CASA DAS UNIDADES, a segunda casa, CASA DAS DEZENAS e assim por diante. O processo de mudança se repetia toda vez que a casa ficava pequena. Assim, íamos avançando no processo de formação das dezenas, centenas, unidade de milhar, aprendendo a contar. Até aí, tudo era assimilado concretamente.
Havia uma vantagem de trabalhar com três séries ao mesmo tempo. Os alunos mais rápidos ficavam sempre prestando atenção no professor e acabavam dominando conteúdos das séries mais avançadas. Alguns conteúdos eu conseguia trabalhar com a primeira e segunda séries juntas, ou segunda e terceira. Eu nunca subestimei meus alunos. O desafio sempre foi uma forma de levá-los ao crescimento.
Foi Seu Alberto Rezende, Inspetor Escolar, que voltando várias vezes na minha escola, me convidou para dar palestras para outros professores, ensinando-os a trabalhar com o Sistema de Numeração Decimal. Na época, dei palestra até em São Manuel. Aonde eu ia, levava as minhas casinhas feitas de caixas de papelão. Por muito tempo trabalhamos assim. Depois, com tanta mudança no ensino, o termo casinha foi substituído por LUGAR: lugar das Unidades, lugar das Dezenas, lugar das Centenas, etc.
Os “tronquinhos” foram substituídos por palitos de sorvete, as “casinhas”, pelo Cartaz Valor de Lugar, o “barbante” para amarrar a “família”, pelo elástico, mas a essência continuou a mesma.
Muito obrigada, Seu Alberto! Tiro o chapéu para o Senhor!

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

BENTINHO – JOSÉ PEDRO DE OLIVEIRA

Nobre Vereador da Câmara Municipal de Lençóis Paulista! Alguém sabe a história do popular Bentinho? Creio que não, pelo menos, do menino Bentinho, pouca gente sabe. Bentinho, como carinhosamente é chamado hoje, foi meu aluno na Escola Mista de Emergência do Bairro Fazendinha. Estava no terceiro ano do primário, quando fui encontrá-lo no Bairro de Pirapitinga, bem distante da Fazendinha. Era um longo caminho a ser percorrido por uma criança para frequentar a escola. Vinha à pé, junto com sua irmã e outras crianças. Frequentou direitinho enquanto eu fui professora. Toda vez que olho para o Bentinho, com seu pescoço tortinho, me lembro de uma história linda chamada Flor de Maio, cujo final feliz bem poderia ser aplicado ao Bentinho.
O livro Flor de Maio conta a história de uma borboletinha que nasceu com a asa defeituosa e por causa disso não podia voar. Vivia triste porque não era igual às outras. Por mais que tentasse, não conseguia. Subia nos lugares mais altos, dava impulso e nada. O máximo que conseguia era se esborrachar no chão. Os outros bichos morriam de pena dela. Um dia, seus amiguinhos trouxeram a boa notícia. Havia em um lugar da floresta, um doutor que poderia curá-la. Porém, era preciso vencer muitos obstáculos. Com a ajuda dos amiguinhos, começou a luta. Realmente, tiveram que matar muitos leões até chegar ao dito doutor. A cura estava em conseguir uma pétala de uma flor chamada Flor de Maio, para fazer um remendo na asa da borboletinha. Encontrada a pétala, foi feito o remendo e, em pouco tempo, ela estava pronta para voar. Foram várias tentativas até conseguir. Feliz da vida, saiu cantando: “quando virem uma borboletinha voando TORTINHA por aí, não tenham pena, pois sou eu que finalmente consegui! TORTINHA, MAS FELIZ!”
Bentinho, o menino que enfrentava chuva, sol, frio, caminhadas à pé para chegar à escola, deve ter sofrido muito preconceito. O destino também deve ter sido cruel em alguns momentos de sua vida. Porém, com a ajuda de pessoas do bem, se recuperou. Tem casa, amigos, emprego, é muito respeitoso e educado. Conhece todo mundo. Quando me encontra, faz questão de parar, conversar comigo. Ao contrário de muitos políticos, tem uma postura de fazer inveja. Impecavelmente vestido, anda pela cidade toda. Sabe se apresentar em qualquer ambiente. Bentinho aprendeu que educação não se aprende na escola, é fruto de muita convivência com pessoas que realmente sabem respeitar a diversidade. Vamos em frente, Bentinho! Estou orgulhosa de você!

domingo, 21 de setembro de 2014

PROFESSOR, GIZ E LOUSA

A minha primeira sala de aula contava com três fileiras de carteiras duplas. Em cada fileira eu ajeitava uma série. À frente de cada série havia uma lousa. A da primeira série era de madeira e apoiada num tripé; a da terceira série era um quadro na parede. Entre as duas, havia uma lousa improvisada, feita de tábuas unidas por ripas de madeira. Esta era a lousa do segundo ano. Foi com esses recursos que comecei a dar aula. Eu tinha mais de trinta alunos. Alfabetizei toda a turma do primeiro ano. Promovi todos do segundo ano, como também todos do terceiro. Aí aconteceu um fato inusitado. Os pais dos alunos promovidos para o quarto ano, deveriam trazê-los para a cidade. O quarto ano não podia ser feito em escola isolada. Foi, então, que a pedido dos pais e por uma grande abertura das autoridades escolares, foi permitido que, no ano seguinte, trabalhasse com quatro séries ao mesmo tempo. Comecei o ano com quatro alunos na quarta série. O meu Diário de Lições era a lousa deles. Explicava tudo direto na carteira. O retorno era fantástico. Era uma classe mais que especial. Dominavam tudo. Era cem por cento de aproveitamento. Poucos tiveram oportunidade de prosseguir os estudos. Dali poderiam ter saído engenheiros, professores, doutores, dentistas, tal a capacidade que tinham para aprender. Cada vez que recebíamos a visita do Inspetor Escolar, nos sentíamos mais estimulados a prosseguir.
ALICE DO GILDO, como carinhosamente é conhecida, pertenceu a esta leva de alunos. Neta do Seu Diogo, quando o avô se mudou para a cidade, veio junto para fazer o quarto ano e prosseguir os estudos. Formou-se professora, ingressou no magistério, e se dedicou ao mesmo até se aposentar. Ainda hoje é muito procurada pela sua habilidade na alfabetização. Dá aulas particulares. Maria Ocléris, filha de Seu Diogo, também se tornou professora. Hoje está aposentada. De vez em quando sou surpreendida por ex-alunos que me reconhecem e compartilhamos belas lembranças.

sábado, 20 de setembro de 2014

ALBERTO REZENDE, INSPETOR ESCOLAR

Em 1.964, quando comecei a dar aula, além da figura do diretor, havia a do inspetor escolar. O diretor de escola, segundo palavras do Diretor Aposentado Edo Jesus Coneglian, tinha a função de fazer cumprir o Regimento Escolar. Pude experimentar o quanto ele foi fiel a isso. E o que definia bem o papel do Inspetor Escolar era fiscalizar o cumprimento do Regimento. Quem pensa que trabalhar longe da vista de um ou de outro favorecia o descaso com o cumprimento dos deveres, está redondamente enganado. Vou descrever como éramos surpreendidas em sala de aula, na zona rural, com a chegada do inspetor. Ele nunca avisava o dia da visita, quando percebíamos, já estava dentro da classe. O carro que o trazia ficava estacionado bem longe da escola. Ele vinha sorrateiramente à pé. Ao penetrar os umbrais da escola, cumprimentava o professor e os alunos, e em seguida inspecionava tudo. Quando saía, pedia o livro de Termo de Visita para escrever a Ata da Visita. Suas atas começavam sempre assim “Ao adentrar os umbrais desta escola...”. Deixava atas minuciosas, descrevendo tudo que havia constatado: escrituração escolar, planejamento das aulas, material didático, cadernos dos alunos, orientações pedagógicas, etc. Quando encontrava tudo certo, fazia termos maravilhosos. Outro dia, em Bauru, passei por uma rua com o seu nome. Preciso pesquisar se realmente esta homenagem foi prestada a ele.
Se Jânio Quadros teve um sósia, com certeza foi o Seu Alberto Rezende. Mesma estatura, mesmo físico, até os óculos que usava! Porém, só na aparência. Vou contar um caso que aconteceu numa das visitas de Seu Alberto. Era início de ano, estava trabalhando o Sistema de Numeração Decimal com o segundo ano. Para fazer os agrupamentos de dez em dez, formando as dezenas, pedia às crianças que cortassem pauzinhos de plantas, representando as unidades. Estávamos exatamente nesse processo, quando ele chegou para uma visita. Ele ficou tão empolgado com a facilidade das crianças trabalhando as dezenas, que imediatamente entrou na aula e conversando com elas, lançou a pergunta: se cada dezena é um feixinho desse tamanho, qual será o tamanho da centena? Sem titubear, o menorzinho deles juntou as mãos e formou um círculo com os braços! Claro, formar uma centena com pauzinhos cortados no mato, só podia dar uma braçada. Seu Alberto ficou encantado. José Plácido era o nome desta criança esperta, inteligente, que não admitia ser corrigida. Por causa de seu temperamento difícil, até conhecê-lo melhor, passei um tremendo sufoco. Certa vez, fugiu da sala de aula e embrenhou-se canavial adentro. Não foi fácil trazê-lo de volta. José Plácido, um pedacinho de gente, que até hoje ocupa um lugar no meu coração! Na verdade, cada aluninho que conheci lá, deixou lembranças lindas. Valeu! Faria tudo de novo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

MINHA PRIMEIRA TURMA DE ALUNOS

Lecionar na zona rural era dar aula para o primeiro, segundo e terceiro anos ao mesmo tempo e no mesmo período. O professor era responsável pela matrícula. Era preciso percorrer a redondeza e arrebanhar os alunos em idade escolar. Havia um mínimo exigido por lei. O prédio da escola da Fazendinha era muito simples, de alvenaria. Não era forrado, motivo pelo qual tinha que ser lavado com frequência. Não havia água encanada, mas tinha um córrego ao lado dele. Era de lá que baldeávamos água. Não havia banheiro, apenas uma “casinha”, isolada da sala de aula, com uma privada de buraco. A escola era cercada com fios de arame farpado. Na porta de entrada da classe havia uma pequena área coberta e uma varanda onde era servida a merenda. Era na casa de Seu Diogo que a mesma era preparada. Quando dava a hora do recreio, uma das filhas vinha trazer. Eu dava aula à tarde, mas passava toda a manhã na escola. Aproveitava para preparar as aulas, corrigir cadernos, preparar material didático, etc. Professor na zona rural era responsável por tudo. Eu tinha um zelo muito grande por minha escola, por meus alunos.
Lembro-me perfeitamente dos meus primeiros aluninhos. Dei aula para os netos de Seu Diogo: Paulo Roberto, Renato, Marlene, Alice. Preparei a Maria Ocléris, sua filha, para o exame de admissão ao ginásio. Também foram meus alunos os filhos mais novos do Seu Paschoal. Na minha primeira turma, havia além dos Martins, alunos da família Oliver, Biazi, Gutierres todas proprietárias de sítios ali em volta. Poucos colonos.
Na época, havia aula aos sábados. Tínhamos férias em julho, mês inteiro. As férias do final do ano começavam em 15 de dezembro e iam até 15 de fevereiro. Pasmem, dois meses! Aos sábados, eu dava aula de manhã. Meu pai ia me buscar no meio do dia. Quando o Seu Diogo vinha para a cidade no domingo, eu aproveitava a carona e voltava com ele. Até hoje sinto certa nostalgia nos finais de tarde de domingo. A volta antecipada no domingo me impedia de ir ao cinema e curtir mais um pouco a minha família. O que me consolava era o carinho que recebia de todos os novos amigos. Até hoje me relaciono muito bem com as famílias que me acolheram. Na Fazendinha pouca gente ficou. O prédio da escola ainda existe, mas não funciona mais. O engenho foi desativado. Os mais velhos faleceram, os mais novos mudaram para a cidade. Cheguei a voltar algumas vezes lá para matar a saudade.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

TURMA LEGAL

Tenho uma turma formada por onze professoras. Esta turma foi batizada, por uma delas, de TURMA LEGAL. Surgiu de nossa convivência no trabalho ao longo dos anos. Começamos a nos reunir para comemorar o Dia do Professor. Convidávamos não apenas os colegas da mesma escola, mas outros com quem já havíamos trabalhado. Estes encontros aconteciam na chácara da minha sogra. Passávamos o dia comendo, bebendo, nadando, jogando bingo e conversa fora. Com o passar do tempo, esta turma, que era grande, foi se dispersando. Encontraram outras formas de comemorar o nosso dia. Porém, um grupo permaneceu fiel, e o que era um acontecimento casual, tornou-se uma tradição para nós. Já passamos pela dor de perder uma amiga muito querida, a DINORAH, que sempre esteve presente nesses encontros. Eu, a Dinorah e a Nancy éramos muito unidas, muito amigas, além de trocarmos experiências profissionais, partilhávamos tudo que acontecia em nossas vidas: casamento, família, filhos, estudos, etc. Meu primeiro contato com a Dinorah e a Nancy, aconteceu quando eu ingressei no Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista. As duas já davam aula lá. A escola funcionava no prédio do Jardim Elisa de Barros. Dinorah, na época, já tinha duas filhinhas: a Ilce Helena e a Rosa Maria. Para poder trabalhar, deixava as duas no Lar da Criança D. Angelina Zillo, que era vizinho do nosso segundo grupo. Na hora do recreio, as duas meninas vinham até a cerca para ver a mãe. Esta é uma cena que jamais esqueci. Dinorah e Adolfo, Nancy e Edo, duas grandes Professoras, dois grandes Diretores. A maioria de nossa turma é da época do Paulo Zillo. Maria Nilza Brollo Nege, Maria Ângela Trecenti Capoani, Miria Breda Langoni, Youli Basso Orsi, Jeanice Therezinha Moretto Matos, Leoni Nelli Simioni, Sueli Cintra Amaral, Marilda Minetto, Marilene Cordeiro, Nancy Scimini Coneglian, e eu, formamos a Turma Legal. Além de nos reunirmos no Dia do Professor, comemoramos todos os aniversários juntas. Em Setembro, acontece o aniversário da Nancy. Ela é como uma irmã para mim. Nossa amizade vai além de todos os limites possíveis. Uma sempre amparou a outra nos momentos mais difíceis, seja no trabalho, nos estudos, na família. Sou muito grata a Nancy. É madrinha de Crisma de minha filha Cássia Regina. Daria um livro, se eu fosse detalhar quanto cada uma foi e continua sendo preciosa para mim. Escolhi as duas mais velhas para homenagear. A Dinorah, de quem sentimos muita saudade, e a Nancy, com quem vamos festejar o dom da vida hoje. Sei que vou ser cobrada pelas outras, mas não vai faltar ocasião para falar de cada uma!
TURMA LEGAL é o nome de Batismo que a Jeanice deu para o nosso grupo! Só mesmo a Jeanice, com seu jeito brincalhão, poderia ter encontrado esta forma tão carinhosa de nos chamar. Em todas as homenagens que prestamos, assinamos TURMA LEGAL, e quem não nos conhece, quer logo saber quem é a TURMA LEGAL.      

Parabéns NANCY!

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ESCOLA MISTA DE EMERGÊNCIA DO BAIRRO FAZENDINHA

17 de fevereiro de 1.964, meu primeiro dia de aula como Substituta Efetiva na Rede Oficial de Ensino, e como Regente de uma Escola de Emergência. O que era uma Escola de Emergência? Era uma escola situada na zona rural, onde o professor deveria morar e permanecer a semana toda. Não podia viajar. Recém-formada, isto só foi possível pela minha nota de conclusão do Curso Normal. Reuni tudo que precisava, e sem conhecer absolutamente nada daquela nova realidade, no dia determinado, estava a postos. A única condução que meu pai tinha era um caminhão, e foi nele que me levou. Era uma segunda- feira, chovia muito. A estrada era de terra, o caminhão patinava, demorou muito para chegar. Quem nos recebeu foi um dos donos da Fazendinha, o Seu Diogo Martins. De ascendência espanhola, vendo uma professora tão jovem, ele deve ter pensado que eu não daria conta do recado e tratou logo de colocar os pingos nos “is”. Meu pai conversou o que precisava e, para meu desespero, me deixou lá.
Por que desespero? Porque era a primeira vez na vida que eu estava deixando a casa de meus pais, para morar em outro lugar, com uma família que eu jamais ouvira falar. Os desígnios de Deus são insondáveis. Jamais podia imaginar quanta felicidade estava reservada para mim ali.  Encontrei no Seu Diogo e na sua família, todo o apoio que precisava. Aos poucos, ele foi me conhecendo e eu ganhando a sua confiança. Um traço marcante de sua personalidade era a conversa fácil. Era de pequena estatura, muito magro, porém, muito perspicaz. Inteligência aguçada, discutia qualquer assunto. Quando começava a falar das famílias de Lençóis, ficava admirado por eu não conhecer todo mundo. Dona Palma, sua esposa, era muito quieta. Raramente falava alguma coisa. Era muito enérgica, muito prendada. Seu Diogo teve cinco filhas mulheres. Conheci todas. A mais velha, Edite, já era casada na época, e tinha uma filha. Morava num sítio próximo. Quem não conhece a ALICE DO GILDO? Alice era sua filha, portanto, neta de Seu Diogo. Nega era outra filha casada, mas morava no mesmo local. Paulo, Renatinho e Marlene eram seus filhos. Nega era casada com Seu Aurélio Biazi. As outras filhas eram solteiras: Tarcila, Emília e Maria Ocléris. Era interessante notar como tudo funcionava naquela casa. Cada uma das filhas tinha tarefas bem definidas. Lembro-me da Emília descendo na mina com a trouxa de roupa para lavar logo de manhãzinha. Ali pelas dez horas, o varal já estava cheio. Enquanto isso, Tarcila limpava a casa. A mãe era poupada desses serviços pesados. Dona Palma cuidava das refeições. Na casa havia uma despensa. Nela estava a provisão para a família. A carne de porco conservada na banha, a fornada de pão e os demais mantimentos. Da horta vinham os legumes, as verduras, isto sem falar das frutas do pomar. Mas o que me dá água na boca é me lembrar do vinagre feito da garapa fermentada. Não preciso dizer que fui muito feliz em ser acolhida por esta família. Durante a semana, era a minha casa.
Ao lado de Seu Diogo, morava seu irmão, Seu Paschoal. Tinha uma família numerosa. As meninas ajudavam a mãe nos serviços domésticos e os homens no engenho e na plantação de fumo. Eu conhecia muito bem um engenho. Os Boso foram famosos nesse ramo. Porém, a produção de fumo, eu não conhecia. Era lá, na casa de Seu Paschoal, que acontecia a destala das folhas, o processo de secagem e posterior processamento dos rolos de fumo. Esse fumo era consumido pela família. Não lembro se era vendido também.
O sonho de Seu Diogo era morar na cidade. Construiu uma bela casa e se mudou para Lençóis. Nega, Aurélio e seus filhos ficaram lá e passaram a morar na casa deixada pelo pai. No ano seguinte, voltei a lecionar na Fazendinha e permaneci morando na mesma casa, agora com a família de uma das filhas do Seu Diogo. 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

CADEIRA PRÊMIO - GRANDE ESTÍMULO PARA O MAGISTÉRIO

O ano de 1963 marcou o final desse grande estímulo para os alunos do Curso Normal. O que era a Cadeira Prêmio e quem tinha direito a ela? Era um cargo de professor e quem obtivesse, nos três anos do normal, a maior média, igual ou maior que nove, tinha direito a ela. Quando iniciamos o curso, sabíamos de um forte candidato a ela. Era o Geszer Pires de Camargo. Competir com ele era impossível, mesmo assim, éramos alunos aplicados, não estávamos fazendo um curso por fazer. Nós nos dedicávamos muito. Tenho em mãos o meu Diploma de Habilitação para o Magistério Primário, onde aparecem as médias finais do primeiro, segundo e terceiro anos, respectivamente, 8,74; 8,87 e 9,51; média final 9,04. A Cadeira Prêmio seria minha se não houvesse nenhum outro aluno com média maior. Mas e o Geszer, o que aconteceu com ele? Afrouxou nos estudos? Claro que não. Era competente demais para que isso acontecesse. O Geszer estava em outra parada. Havia prestado concurso para o Banco do Brasil. Como foi aprovado, assumiu uma vaga em São Paulo. Se não me engano, isto aconteceu no segundo ano. Eu não tinha média nove até então, mas poderia lutar para conseguir compensar no terceiro ano os décimos que faltavam. Foi assim, que com muito esforço, fechei o terceiro ano com média 9,51 e 9,04 de média final. Legalmente, eu havia conquistado a tão sonhada Cadeira Prêmio.
Analisando as notas obtidas no terceiro ano do Magistério, verifico que todas foram muito altas, com exceção de Desenho Pedagógico, cuja média foi 7,80. Houve uma mobilização tão grande de minha turma para conscientizar a professora de desenho, que com aquela nota injusta, ela estava pondo a perder uma conquista tão grande, mas ela ficou irredutível. Esta professora não nos conhecia como os demais professores. Não se sensibilizou com a situação.  Graças a Deus e a força que recebi de meus colegas e demais professores, venci! Agora era só esperar a chamada para inscrição e escolha. Novas dificuldades. A Lei estava sendo mal interpretada. Alguns achavam que ela já havia expirado no ano anterior e que eu não tinha mais direito à Cadeira Prêmio. Lembro-me de uma mobilização de professores da região de Lençóis, São Manuel, Botucatu, que haviam conquistado tal direito. Levou um ano e meio para sermos chamadas para a escolha, mas era um direito legal. A partir de 1.964, este Prêmio deixou de existir.
Depois do curso normal, havia mais um ano de aperfeiçoamento para quem quisesse. Não era obrigatório. Este curso também premiava com uma cadeira o aluno com média igual ou acima de nove. A professora Toninha Portes, de Areiópolis, foi a ganhadora no mesmo ano que eu. Diante da demora, muitos duvidaram que conseguiríamos, mas esta é outra história. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O MEU CONTATO COM A LITERATURA INFANTIL

Foi o professor Célio Pinheiro quem nos introduziu no fantástico mundo dos Grandes Clássicos da Literatura Infantil. Não tenho vergonha de dizer que não conhecia praticamente nenhum clássico. Tínhamos pouco acesso a livros infantis, motivo pelo qual devo ter guardado como uma joia o livro “Rosinha Chinesa“, que ganhei no segundo ano do grupo escolar. Nossos livros de textos eram todos de muita qualidade, porém, se prestavam aos objetivos da educação na época. Eram as famosas fábulas com fundo moral, ou então, textos com máximas, ou biografias e muita poesia de qualidade, com  destaque para Olavo Bilac, Casemiro de Abreu, e muitos outros. As lições que tirávamos dos textos eram tão edificantes, que é impossível esquecê-las. Na exposição de materiais didáticos, por ocasião do Centenário do Esperança de Oliveira, pude pegar um desses livros em minhas mãos. Era o Seleta Escolar do segundo ano. Não me contive e pedi permissão para xerocar algumas partes do mesmo. Foi como voltar na infância. Que delícia recordar seus textos! Por apenas um real e vinte centavos, xeroquei o livro de Máximo de Moura Santos, do segundo ano, da livraria Francisco Alves. De novo, a ansiedade tomou conta de mim e, enlevada, me entreguei à sua leitura. As poesias que estão nele permanecem em minha memória. Muitas vezes, recitei-as para meus netos, sabia de cor.
Toda vez que vejo uma criança pequena montada num cabo de vassoura lembro “Montado em seu cavalinho, que era um cabo de vassoura, galopava o Miguelzinho, pondo tudo em dobadoura. – Upa! Upa! Meu ginete! gritava alegre a saltar; era mais um diabrete, de fazer atordoar...” Era a poesia Guapo.
O ambicioso tudo perde, era a máxima que vinha logo depois da leitura da poesia “Ovos de Ouro“ de Lafaiete Rodrigues Pereira.
A Boneca, de Olavo Bilac, é outra que espontaneamente vem, quando vejo as crianças brigando por causa de um brinquedo. “Deixando a bola e a peteca, com que inda há pouco brincavam, por causa de uma boneca, duas meninas brigavam. Dizia a primeira: é minha! - ”é minha! a outra gritava, e nenhuma se continha, nem a boneca largava...
Ave Maria, de Olavo Bilac, traz a minha lembrança o menino ajoelhado aos pés da cama, no final do dia, rezando. Quanta ternura! “Meu filho, termina o dia... A primeira estrela brilha... Procura a tua cartilha, e reza a Ave Maria! O gado volta aos currais... O sino canta na igreja... Pede a Deus que te proteja e que dê vida a teus pais! Ave Maria!... Ajoelhado, pede a Deus que, generoso, te faça justo e bondoso, filho bom, homem honrado;...
Minha Terra, de Baltazar Godói Moreira, traz sobre o contorno de um mapa do Brasil, a figura de uma menina com um laço de fita na cabeça, exatamente como minha mãe me arrumava para tirar fotografia. Uma delas foi levada por um fotógrafo que fazia quadros para decorar a parede das salas. Se eu dominasse toda a técnica de colocá-la na telinha, iríamos nos divertir muito com essa foto! A poesia começa assim: Minha terra é muito linda, tem galas e encantos mil, o céu não cobriu ainda, terra melhor que o Brasil! Era puro civismo!
Sinto que, mesmo com tanta tecnologia, nossas crianças continuam amando a linguagem poética. São sensíveis e adoram as rimas. Vejo muita poesia em suas vidas. Lembro sempre de minha mãe cantando canções que falavam de coisas muito ternas, eram as famosas cantigas de roda, de ninar, brincadeiras, etc. Ela envelheceu e continua encantando os netos e bisnetos com as mesmas coisas. A criança que existe dentro dela não morreu. É tão bom recordar! Não devemos sufocar a criança que também vive dentro de nós!                   

domingo, 14 de setembro de 2014

DO FUNDO DO BAÚ

Voltei ao baú. Quando comemoramos os quarenta anos de formatura, promovemos um encontro muito legal entre os formandos de 1963 e professores desta turma. A maioria veio, inclusive nosso diretor. No final da festa, cada um recebeu um formulário para preencher. Além dos dados pessoais, profissionais, endereço, havia uma pergunta: TEM ALGUMA LEMBRANÇA MARCANTE DE NOSSA ÉPOCA DE ESTUDANTE? Vou agora relacionar algumas respostas:
- Professor Ailton Ganzelli, excelente pontaria com giz na cabeça dos alunos que faziam bagunça no fundo da classe (Mário Sílvio Baptistella)
- As brincadeiras feitas com a Júlia no laboratório (Cacilda E. Coneglian Baptistella)
- Cleide, uma aluna muito estudiosa; Flávio, com seus belos olhos verdes, que encantavam a todas; a brincadeira do trenzinho com S. Ailton (Maria do Carmo Nunes de Moraes)
- As malandragens do Bin; as aulas da Adelaide; as chamadas orais da Maria Isabel; as correções de português do S. Célio; as graças da Maria Aparecida imitando o Mazaropi (Maria Ângela Trecenti Capoani)
- A suspensão que a classe inteira levou por ter faltado os três primeiros dias da Semana Santa (Maria Irinéia Fernandes Ribeiro)
- Um zero que levei da D. Maria Isabel Jacon, referente a uma aula que não soube ou fiquei com medo de dar (Catlen Mari Paschoarelli)
- As aulas no laboratório e as malvadezas dos meninos (Cleide Aparecida Cicconi Lorenzetti)
- O toc-toc da Júlia na porta de vidro do armário; as aulas vagas, quando descíamos para dançar na churrascaria “Bambu” ao lado do UTC; as provas surpresa da D. Maria Isabel; as repreensões carinhosas de S. Mário; a nossa turma incrível (Zuleika Boso Radichi)
- Acordar o Geszer para estudar Psicologia, Sociologia, Pedagogia, às 5 horas da manhã, nas dependências da Igreja Presbiteriana, ao lado da casa onde morava (Ricardo Rossi)
- Lavar a “jardineira do Titão” no Paradão (Antonio Humberto Vicente, vinha de Macatuba para estudar em Lençóis)
- Várias, mas a que me marcou foi a cola que comi na prova do S. Célio (Maria Stella Campanari)
Era ou não era incrível a nossa turma?
Essas lembranças foram colhidas há onze anos. Queríamos ter feito um novo reencontro quando completamos cinquenta anos de formatura. Ainda não foi possível, mas acontecerá com certeza. Enquanto vivermos, teremos sempre motivos para comemorar. Que Deus nos abençoe!

sábado, 13 de setembro de 2014

O ESQUELETO DA JÚLIA

Fizemos o Curso Normal em uma sala adaptada. O prédio do Virgílio já se tornava pequeno para o grande número de alunos. Ocupamos o laboratório. Nele havia uma grande bancada azulejada, com pia, própria para experiências nas aulas de ciências, física, química. Nunca experienciamos nada. O mais divertido de tudo era a presença da Júlia, um esqueleto humano, que de dentro de um armário da sua altura, ficava o tempo todo assistindo às aulas conosco. Se fosse só isso não teria importância. Medo não tínhamos, o cômico era o que os futuros professores conseguiam fazer com ela. As meninas, geralmente, ocupavam as carteiras da frente. Os meninos gostavam de ficar mais para trás. Quando podiam, colavam nas provas. Aprontavam muitas artes. Mas por incrível que pareça, nunca eram flagrados. A arte mais engraçada era praticada com a Júlia, o esqueleto humano. A porta do armário onde ficava era de vidro. A arte começava com uma linha de anzol, um fio de nylon, portanto, transparente, que era amarrado nas extremidades de suas mãos ou de seus pés. Este fio era levado até as carteiras de trás onde sentavam os arteiros. Eles escolhiam a dedo o momento de puxar o fio e fazer a Júlia bater no vidro. Geralmente, era quando reinava silêncio absoluto. O toc-toc da mão da Júlia no vidro fazia a classe desabar de tanto rir. Nunca pegaram os malandros. Não me lembro de nenhum castigo, a não ser as broncas leves de S. Mário. Brincadeiras saudáveis. Quanto à Júlia, teve um final feliz. Hoje descansa em paz. Eu estava um dia no cemitério Paraíso da Colina, quando o Orlando, professor de Geografia, chegou do meu lado e perguntou se eu me lembrava da Júlia. Respondi que sim. Venha, vou lhe mostrar o que fizeram com ela. Júlia havia ganhado um jazigo e sido enterrada com toda dignidade. Descanse em paz, Júlia, e nos desculpe por tudo que fizemos com você!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

NOVA ETAPA

Curso Primário, Curso Ginasial e agora o Curso Normal, ou seja, o Curso de Formação de Professores Primários. Uma nova etapa tem início. Eram quinze disciplinas voltadas para a formação da criança. As básicas para a formação do professor apareciam nos três anos, algumas só no primeiro e outras só no terceiro. Ao longo dos três anos, houve pouca alteração na turma. Ganhamos duas colegas novas: a Maria de Nazareth e a Iêda Ferraz Helene. No último ano, perdemos o Geszer, que nos deixou para assumir um cargo no Banco do Brasil, em São Paulo. Na época, ele já namorava a Odila. Não tenho palavras para descrever os PROFESSORES que tivemos. Eram todos excelentes. Nessa altura, tínhamos quase todos radicados em Lençóis. Só para citar alguns: Maria Isabel Jacon, Nelson Brollo, Adelaide Andretto,  Célio Pinheiro, Ailton Ganzeli, Fernando de Barros, Murray de Carvalho, entre outros.  Eram verdadeiros doutores em suas matérias. Tínhamos que estudar muito. Conhecíamos cada professor como a palma da mão. Ficávamos na porta da sala de aula para ver como eles vinham se aproximando. Quando a D. Maria Isabel trazia um calhamaço de folhas nas mãos, já sabíamos, era prova surpresa. D. Maria Isabel nunca marcou data para prova. Era preciso ter sempre a matéria em dia. Quando não era prova, era chamada oral. Tudo isto sem falar nos óculos espelhados, nunca sabíamos para quem estava olhando. Mesmo assim, amávamos e respeitávamos nossos mestres. Guardo com carinho a forma como o S. Célio pedia para eu ler em voz alta. Gostava da minha voz. E tantas outras singularidades. Gostoso para nós, para mim, de modo especial, era ouvir S. Nelson Brollo discorrer sobre os filósofos: Platão, Sócrates, Aristóteles. Havia tanta paixão na fala do professor, que conseguia nos transportar para a época. O método Socrático, a Maiêutica, a forma como ele levava os seus discípulos à verdade, como esquecer? Seu Nelson se tornou Doutor em Educação. Era muito dedicado aos estudos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

DO FUNDO DO BAÚ

Há dias que desejo pegar, entre as coisas guardadas no fundo do baú, uma pasta muito especial. Chegou o dia. Nela estava o que eu procurava: uma flâmula de seda, com o nome de toda turma de Licenciados de 1960, do Colégio Estadual e Escola Normal “ Virgílio Capoani “. Novamente a emoção tomou conta de mim. Na época, era comum decorar a parede do quarto com flâmulas, e os motivos eram os mais variados. Por essa razão, em nossa formatura, adotamos a mesma para ficar como lembrança de toda a turma. Artisticamente dispostos, aparecem os nomes da classe toda. Esta flâmula permanece guardada com o maior carinho. Vou listar agora os licenciados de 1960, minha turma, ano da Fundação de Brasília.
São eles:

Cacilda Ermelinda Coneglian
Antonino Giacometti
Catlen Mary Paschoarelli
Carlos Zillo
Cleide Aparecida Cicconi
Dumas Vicente Casagrandi
Dileika Baptistella
Edélzio Moretto
Maria Ângela Trecenti
Flávio Fontes Marinelli
Maria Aparecida Paccola
Geszer Pires de Camargo
Maria Aparecida Profeta
Hermes Augusto Baptistella
Maria do Carmo Nunes
Leopoldo Andretto
Maria Stela Campanari
Marcos Augusto Baptistella
Maria Irinéia Fernandes
Mário Sílvio Baptistella
Odila Moreira de Souza
Marcos Langoni
Soely Paccola
Milton Moretto
Teresa Peres Santiago
Temer Féres
Zuleika Boso
Renato Andretto
Antonio Humberto Vicente
Ricardo Rossi

Éramos trinta licenciados. Não tenho muitas lembranças da festa de formatura. Com certeza houve missa, sessão solene e baile. Do baile, me lembro sim, principalmente do vestido branco, presente de minha avó paterna, nona Josefa. Era de um tecido muito bonito, comprado na Casa Paccola. Foi feito pela D. Alzira, prima irmã de meu pai, mãe da Nilcéia. Fazia vestidos lindíssimos. Na época usava muito sobressaia. Para completar o modelo, um cinto bordado com pérolas e miçangas. Passado o baile, desfilávamos pela Rua 15, nos finais de semana, usando o “modelito”. Tempo bom, que não volta mais. Só mesmo no Túnel do Tempo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

COMO NASCEU O MEU BLOG

Estímulo dentro de casa e um sonho na cabeça: colocar no papel toda a minha trajetória profissional. Foi assim que meu genro, o Paulo, casado com a Viviane, pai do Marcelo, em um dos raros momentos de folga, se propôs a criar um blog para mim. Ele e a Viviane são os responsáveis pela parte técnica. Eu fiquei assustada num primeiro momento. Estava diante de um dilema, por onde começar a narrativa. Foi do convite feito no ano anterior para participar da comissão de festejos do Centenário do Esperança de Oliveira, que me veio a ideia de tomar como ponto de partida, minha trajetória escolar, desde o curso primário, até concluir o curso normal, ou seja, alcançar meu grande objetivo, me tornar professora. Comecei, então, a colocar no papel, tudo que estava gravado em minha memória, meu fantástico computador pessoal. Adquiri dois cadernos e comecei. Por que dois cadernos? Porque a Viviane, minha filha, tornou-se minha revisora dos textos. Nos finais de semana, levava um dos cadernos, revisava, digitava e publicava. Enquanto isso, eu escrevia no outro. Em cada final de semana acontecia isso. Meu genro não se conformava e insistia para que eu fizesse direto no computador. Não foi fácil dar esse salto. Hoje, já digito meus textos. Além disso, estou aprendendo todo o processo de selecionar, copiar, colar e enviar por e- mail para a minha filha fazer a revisão. Gosto muito de falar das pessoas que me marcaram na vida. Dia desses, fiz um muito especial para o S. Mário Antonio Paccola. Por uma distração, me esqueci de salvar. Chorei, porque jamais conseguiria fazer outro igual. O Fernando, meu filho, vasculhou todos os arquivos e nada. O Paulo também. Todo mundo queria encontrá-lo. Não foi achado. Se tivesse no meu rascunho manuscrito, não teria que refazê-lo. Fiquei com uma dívida com o S. Mário, mas já paguei. Espero que vocês tenham lido a página nova. Quantos obstáculos venci em tão curto espaço de tempo, e quanto compartilhamento. Cada dia que passa, fico mais surpresa com a reação das pessoas, algumas com quem não tinha contato há décadas, outras que eu sequer conhecia. O contato com meus ex-alunos me enche de alegria. Muitos se relacionam comigo através do facebook da minha filha. Acham mais fácil. De qualquer forma, fico muito feliz por me incluir neste mundo virtual. Até a próxima página!

terça-feira, 9 de setembro de 2014

A GERAÇÃO DOS BOTÕES, A DOS MEUS NETOS

Júnior, Maria Eduarda, Ana Luiza, Caroline e Marcelo, a geração mais nova, respectivamente, vinte, catorze, seis, seis e três anos. É a geração que eu chamo “dos botões”. Comandam as suas vidas apertando botões. Júnior, o mais velho, e Maria Eduarda foram meus primeiros professores de informática. Júnior continua até hoje a me socorrer. A Maria Eduarda foi quem começou a me dar aulas, mas tem muitas obrigações e pouco tempo. Atualmente, quem está me ensinando é a Ana Luiza. Com seis anos, já lê e me transmite tudo que está aprendendo na escola. Já sabe ligar o computador, tem seus jogos preferidos, entra no skype, conversa com seu priminho, Marcelo, que mora fora, e muitas vezes me surpreende com tudo que já sabe. Caroline, muito antes da Ana Luiza, já “mandava” no meu computador. Quando estão em casa é uma farra. O quarto vira um clube de diversões. Quando há consenso, tudo bem, porém, quando um quer cantar, o outro quer jogar, ou ainda dançar, salve-se quem puder. O Marcelo, que é o mais novo, tecla desde que nasceu. Muito inteligente, só de observar aprende. Tem apenas três anos e chama atenção pelas habilidades que tem. Seu pai, um expert na área, vive em apuros com seus equipamentos. Seus dedinhos ágeis passeiam pelo tablet, celular, e fica muito bravo se alguém tentar ajudá-lo. Aceita explicações, mas é ele quem tem que fazer. É uma nova geração, chega a assustar os professores. Transmitir conhecimentos já era. Ainda bem que as escolas estão se modernizando. Essa é a nova geração com quem estou aprendendo. Que saibamos ser presentes em suas vidas, para que a utilização dessas ferramentas seja sempre direcionada para o bem! 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

ERA DIGITAL

Até outro dia me autodenominava “analfabeta em informática“. Olhava para o computador e tinha medo de me aproximar. O teclado era o grande obstáculo. Sabem por quê? Quando o professor Célio Pinheiro e o professor Luís Carlos vieram para Lençóis, montaram uma escola de Datilografia, e nós, seus alunos, nos matriculamos nela. Eram professores jovens, muito bonitos e cheios de sonhos. Nós, principalmente as meninas, éramos atraídas por eles. Foi por isso que me matriculei no curso. Depois de algum tempo, o abandonei. Tinha horror ao teclado. Dominei as principais noções, como a posição das mãos, a correspondência entre as letras e os dedos, olhar para o texto e não para o teclado, mas levava cada enfiada de dedo entre as letras do teclado, que acabei abandonando o curso. Depois disso, não senti mais necessidade da datilografia. Os anos foram passando, os filhos vieram, e a datilografia se fez uma necessidade em suas vidas. O pai tem até hoje seu diploma de datilografia. Para ele, técnico em contabilidade, sempre foi uma ferramenta de trabalho. Com a era digital, o teclado se tornou uma coisa tão banal, que toda vez que via os netos no computador, eu me sentia envergonhada por não ter coragem de me aproximar. Durante toda a minha vida, escrevi muito. Tinha o hábito de estudar escrevendo. Utilizava o verso das folhas dos talões de nota fiscal da firma do meu pai. Quando fui ser Diretora da Escola de Educação Especia,l da APAE, eu pude contar muito com a Suélem, que sentada ao meu lado, digitava tudo que eu precisava, e foi com ela que eu comecei a adquirir todo o vocabulário básico de informática. Às vezes perdia a paciência. Dizia para ela: Suélem, se eu estivesse fazendo a mão, já estaria tudo pronto! Mas ela, pacientemente, seguia em frente, sabia que era a única forma de produzir o que eu estava querendo. Sou muito agradecida a esta menina, modo de dizer, pois já é mãe e continua excelente profissional na APAE. E assim, aos poucos, fui adquirindo meus rudimentares conhecimentos de informática, tão necessários no mundo de hoje!        

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

PROFESSORES E PROFESSORES

Depois dos professores de História, lembrei-me do professor de matemática, S. Ailton Ganzeli, que também tivemos oportunidade de rever na festa de quarenta anos de formatura do Curso Normal. Excelente professor de Matemática. Acho que aprendi com ele a técnica de fixação de conhecimentos: exercícios, muitos exercícios de fixação. Eu, a Odila, o Geszer e o Ricardo nos reuníamos muito para resolvê-los. Tinha sempre um cantinho disponível na casa da Odila. Conforme o assunto, estudávamos em dupla, eu e a Odila, o Ricardo e o Geszer. Acredito que essa convivência aproximou tanto a Odila do Geszer, que acabaram namorando e casando. Como não poderia deixar de ser, eu fui madrinha de seu casamento, por sinal, uma cerimônia lindíssima na Igreja Presbiteriana de Lençóis Paulista. Lembro-me das palavras do Pastor: “Um verdadeiro LAR se faz com Labor, Amor e Religião”. Isto nunca faltou na união deles.
Falando do professor Ailton, lembrei-me do professor de Matemática, Edwaldo Roque Bianchini. Por que não foi meu Professor? Só fui encontrá-lo mais tarde, quando me atrevi a dar algumas aulas no Virgílio Capoani, para o magistério. Como tinha o curso de Pedagogia, pude dar, claro, aulas de matérias pedagógicas. Dei aula até de Estatística Aplicada à Educação. Sempre gostei muito de Matemática. Foi, então, que tive um contato mais próximo com ele e com a Elza, sua esposa, também professora. Bianchini, como carinhosamente é chamado, é muito querido e respeitado. Além de grande professor, trabalhou incansavelmente na edição de livros didáticos de Matemática. Milhares de alunos continuam a desenvolver o gosto pela matéria por causa de sua didática. Bons professores sabem reconhecer o valor de sua obra, adotando seus livros. Quando fiz o ginásio, o autor adotado de primeira a quarta série era Oswaldo Sangiorgi. Gostava muito também.
A minha paixão pela matemática cresceu ainda mais no curso normal, com o Professor Nelson Brollo, quando na matéria Prática de Ensino, nos ensinou como trabalhar a mesma com as crianças. Foi a descoberta mais sensacional saber o porquê de todas as noções que adquirimos ou aprendemos ABSTRATAMENTE. Enquanto professora, fiz o impossível nas minhas aulas para demonstrar CONCRETAMENTE o porquê de tudo. Também me lembro do Programa Fundamental de Ensino, em vigor na época, e sobre o qual me debrucei para aprender a ensinar tudo que eu não sabia ainda. Era um verdadeiro manual de ensino.
Com a publicação desta página, quero homenagear todos os professores de Matemática, de modo especial, um Inspetor Escolar, ALBERTO REZENDE, que ficava encantado com os meus aluninhos da ESCOLA MISTA DE EMERGÊNCIA DO BAIRRO FAZENDINHA. Deixava lindos termos de visita e voltava sempre para se deliciar com seus avanços! Esta escola marcou a minha vida. Formei-me no ano de 1963 e, no primeiro dia letivo de 1964, já estava em sala de aula. Permaneci ali, um ano e meio. No segundo semestre de 1965, ingressei no Magistério Público Oficial no Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista, atual Dr. Paulo Zillo, reencontrando, agora na direção, aquela que havia sido minha professora no terceiro ano do grupo escolar: MARIA DA CONCEIÇÃO VIEGAS GARBINO. Esta merece páginas e páginas pelos lindos anos de sua administração. 


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Dificuldades com História

Sempre tive dificuldade com a matéria. Nosso primeiro professor de História no ginásio foi o S. Osvaldo. Vinha de Agudos para lecionar em Lençóis, tínhamos notas baixíssimas, mas ele não ficou com uma imagem negativa em nossa memória. Quem ficou foi D. Diva. Tinha mania de colocar, nas provas, questões tiradas do rodapé dos textos de nosso livro de História. Além de saber todo o conteúdo, tínhamos que decorar as citações de cada página, que não eram poucas. Eu ficava muito nervosa nas provas. Certa vez, percebendo o meu nervosismo, colocou-me sentada na primeira carteira. Foi muito pior. Achei que ela estava desconfiando de mim. Eu sempre fiz questão de sentar nas primeiras carteiras. Havia professores tão desconfiados, que na hora da prova trocavam os alunos de lugar. Ela era uma. Esta aversão à História me acompanhou por muito tempo. Poderia ter me causado um grande prejuízo, pois precisaria dela para o resto de minha vida. Graças a grandes mestres, que não vou citar nomes agora, convivo muito bem com ela. Como poderia ser diferente, se tenho dentro de casa uma professora de História, formada com a mais alta distinção no seu curso? Seu trabalho dignifica o verdadeiro papel do educador: fazer germinar, mesmo nos solos mais áridos, a semente do saber. Poderia ter contrariado sua vocação, mas a escolha foi dela. SER PROFESSOR ESTÁ NO DNA DE NOSSA FAMÍLIA. Uma é professora de História e, a outra, é de Português/Inglês. A nora, que resolveu começar agora, depois de quase vinte anos em outra profissão, está se saindo muito bem. Foi contaminada e parece que não tem volta. Parabéns! Quando existe empatia entre professor e aluno, o caminho está aberto. Ao trabalho, pois.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

D. LÁZARA e S. JOÃO, AVÓS MATERNOS da BEL, nossa PREFEITA

Não consegui todas as cópias das atas de minha turma do curso ginasial. O que percebi foi que todo ano se mexia na classe. Não sei qual era o critério. Agora me deparo com uma classe feminina, com pouquíssimas alunas, apenas dezesseis. A escola do “Quitinho”, “Francisco Garrido”, atraía os meninos, pois dava a formação direcionada para o comércio. Era conhecida como Escola de Comércio e também oferecia o curso noturno. Era outra opção para quem queria fazer contabilidade para trabalhar em escritório, ou prestar concurso para banco. Talvez isto explique a evasão dos meninos. Nós, meninas, ficamos firmes no curso ginasial, pois queríamos ser professoras. O Colégio das Irmãs, de Agudos, que funcionava em regime de internato, também era uma opção. Para poder frequentá- lo, era preciso ter dinheiro. Tenho várias amigas que estudaram lá e contam histórias incríveis do que aprontaram na época, mas se tornaram excelentes profissionais. Entre as dezesseis alunas desta segunda série feminina,  encontro uma,  que a partir de então, tornou-se uma amiga muito especial. Trata-se da Odila Moreira de Souza. Éramos como duas irmãs. Frequentava a sua casa e ela a minha. Estudávamos juntas. Sua família era muito legal. Quero falar um pouco de cada um de seus membros, começando pelos seus pais: D. Lázara e S. João. D. Lázara era da família Bernardes, irmã do S. Luciano, do S. Nelson e outros. Os Bernardes eram de temperamento forte e muito engajados na política. Na minha casa, não se falava tanto de política, o máximo que lembro era que a família dos Cavassuti era ademarista roxa e palmeirense. Eu sempre afirmei que em política e religião, cada um com sua opinião, mas também éramos ademaristas e palmeirenses. D. Lázara não tinha nada a ver com minha mãe, era completamente diferente. Na época de eleição, seu sangue fervia. Saía às ruas e, quando encontrava papos que afinavam com suas ideias, voltava entusiasmada, do contrário, virava um leão. S. João, ao contrário, era de temperamento muito tranquilo, era um paizão, muito amoroso. Tenho na lembrança seu jeito calmo de providenciar as coisas. Muitas vezes dormi em sua casa, principalmente quando tinha que estudar História. Eu e a Odila levantávamos de madrugada, e assim que o padeiro passava e deixava o pão, a mesa era posta, fazíamos um brevíssimo intervalo para comer e de novo continuar. S. João nos acompanhou por muito tempo nessa rotina de pai zeloso, mas faleceu bem antes de D. Lázara. A “guerreira e incansável batalhadora”, D. LÁZARA, viveu muitos anos cercada pela enorme família que constituiu, mas não viveu para saborear o maior trunfo político de sua vida: VER SUA NETA, ISABEL CRISTINA CAMPANARI LORENZETTI, ELEITA PREFEITA DE LENÇÓIS PAULISTA. Conheci todos os filhos de D. Lázara. Meu carinho para a Gertrudes, mãe da Bel, Mercedes, Zezé, Aparecida, Odila, Divino, Pedrinho e Cacá. Alguns já “in memorian”. Odila, minha grande amiga, tornou-se professora como a maioria de nós. Casou-se com o Geszer, foi para São Paulo e, raramente nos vemos. Tenho sempre notícias através de suas irmãs. O Antonio Carlos, o Cacá, também se dedicou à Educação. Tornou-se escritor e já lançou livros aqui em Lençóis. D. Gertrudes tem seu nome ligado ao Hospital Nossa Senhora da Piedade, pelo trabalho voluntário que ali faz. Gertrudes e Mercedes também são muito engajadas nas pastorais de nossa igreja. Esta família continua participando ativamente da História do Município. Dona Lázara e Seu João sorriem agradecidos lá do alto, abençoando a todos. Amém.