domingo, 21 de setembro de 2014

PROFESSOR, GIZ E LOUSA

A minha primeira sala de aula contava com três fileiras de carteiras duplas. Em cada fileira eu ajeitava uma série. À frente de cada série havia uma lousa. A da primeira série era de madeira e apoiada num tripé; a da terceira série era um quadro na parede. Entre as duas, havia uma lousa improvisada, feita de tábuas unidas por ripas de madeira. Esta era a lousa do segundo ano. Foi com esses recursos que comecei a dar aula. Eu tinha mais de trinta alunos. Alfabetizei toda a turma do primeiro ano. Promovi todos do segundo ano, como também todos do terceiro. Aí aconteceu um fato inusitado. Os pais dos alunos promovidos para o quarto ano, deveriam trazê-los para a cidade. O quarto ano não podia ser feito em escola isolada. Foi, então, que a pedido dos pais e por uma grande abertura das autoridades escolares, foi permitido que, no ano seguinte, trabalhasse com quatro séries ao mesmo tempo. Comecei o ano com quatro alunos na quarta série. O meu Diário de Lições era a lousa deles. Explicava tudo direto na carteira. O retorno era fantástico. Era uma classe mais que especial. Dominavam tudo. Era cem por cento de aproveitamento. Poucos tiveram oportunidade de prosseguir os estudos. Dali poderiam ter saído engenheiros, professores, doutores, dentistas, tal a capacidade que tinham para aprender. Cada vez que recebíamos a visita do Inspetor Escolar, nos sentíamos mais estimulados a prosseguir.
ALICE DO GILDO, como carinhosamente é conhecida, pertenceu a esta leva de alunos. Neta do Seu Diogo, quando o avô se mudou para a cidade, veio junto para fazer o quarto ano e prosseguir os estudos. Formou-se professora, ingressou no magistério, e se dedicou ao mesmo até se aposentar. Ainda hoje é muito procurada pela sua habilidade na alfabetização. Dá aulas particulares. Maria Ocléris, filha de Seu Diogo, também se tornou professora. Hoje está aposentada. De vez em quando sou surpreendida por ex-alunos que me reconhecem e compartilhamos belas lembranças.

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