A minha primeira sala de aula contava com três fileiras de
carteiras duplas. Em cada fileira eu ajeitava uma série. À frente de cada série
havia uma lousa. A da primeira série era de madeira e apoiada num tripé; a da
terceira série era um quadro na parede. Entre as duas, havia uma lousa
improvisada, feita de tábuas unidas por ripas de madeira. Esta era a lousa do
segundo ano. Foi com esses recursos que comecei a dar aula. Eu tinha mais de
trinta alunos. Alfabetizei toda a turma do primeiro ano. Promovi todos do
segundo ano, como também todos do terceiro. Aí aconteceu um fato inusitado. Os
pais dos alunos promovidos para o quarto ano, deveriam trazê-los para a cidade.
O quarto ano não podia ser feito em escola isolada. Foi, então, que a pedido
dos pais e por uma grande abertura das autoridades escolares, foi permitido que,
no ano seguinte, trabalhasse com quatro séries ao mesmo tempo. Comecei o ano
com quatro alunos na quarta série. O meu Diário de Lições era a lousa deles.
Explicava tudo direto na carteira. O retorno era fantástico. Era uma classe
mais que especial. Dominavam tudo. Era cem por cento de aproveitamento. Poucos
tiveram oportunidade de prosseguir os estudos. Dali poderiam ter saído
engenheiros, professores, doutores, dentistas, tal a capacidade que tinham para
aprender. Cada vez que recebíamos a visita do Inspetor Escolar, nos sentíamos
mais estimulados a prosseguir.
ALICE DO GILDO, como carinhosamente é conhecida, pertenceu a
esta leva de alunos. Neta do Seu Diogo, quando o avô se mudou para a cidade,
veio junto para fazer o quarto ano e prosseguir os estudos. Formou-se
professora, ingressou no magistério, e se dedicou ao mesmo até se aposentar.
Ainda hoje é muito procurada pela sua habilidade na alfabetização. Dá aulas particulares.
Maria Ocléris, filha de Seu Diogo, também se tornou professora. Hoje está
aposentada. De vez em quando sou surpreendida por ex-alunos que me reconhecem e
compartilhamos belas lembranças.
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