Foi o professor Célio Pinheiro quem nos introduziu no
fantástico mundo dos Grandes Clássicos da Literatura Infantil. Não tenho
vergonha de dizer que não conhecia praticamente nenhum clássico. Tínhamos pouco
acesso a livros infantis, motivo pelo qual devo ter guardado como uma joia o
livro “Rosinha Chinesa“, que ganhei no segundo ano do grupo escolar. Nossos
livros de textos eram todos de muita qualidade, porém, se prestavam aos
objetivos da educação na época. Eram as famosas fábulas com fundo moral, ou
então, textos com máximas, ou biografias e muita poesia de qualidade, com destaque para Olavo Bilac, Casemiro de Abreu,
e muitos outros. As lições que tirávamos dos textos eram tão edificantes, que é
impossível esquecê-las. Na exposição de materiais didáticos, por ocasião do
Centenário do Esperança de Oliveira, pude pegar um desses livros em minhas
mãos. Era o Seleta Escolar do segundo ano. Não me contive e pedi permissão para
xerocar algumas partes do mesmo. Foi como voltar na infância. Que delícia
recordar seus textos! Por apenas um real
e vinte centavos, xeroquei o livro de Máximo de Moura Santos, do segundo ano, da livraria Francisco Alves. De novo, a
ansiedade tomou conta de mim e, enlevada, me entreguei à sua leitura. As
poesias que estão nele permanecem em minha memória. Muitas vezes, recitei-as para
meus netos, sabia de cor.
Toda vez que vejo uma
criança pequena montada num cabo de vassoura lembro “Montado em seu
cavalinho, que era um cabo de vassoura, galopava o Miguelzinho, pondo tudo em
dobadoura. – Upa! Upa! Meu ginete! gritava alegre a saltar; era mais um
diabrete, de fazer atordoar...” Era a poesia Guapo.
O ambicioso tudo
perde, era a máxima que vinha logo depois da leitura da poesia “Ovos de
Ouro“ de Lafaiete Rodrigues Pereira.
A Boneca, de Olavo
Bilac, é outra que espontaneamente vem, quando vejo as crianças brigando
por causa de um brinquedo. “Deixando a bola e a peteca, com que inda há pouco
brincavam, por causa de uma boneca, duas meninas brigavam. Dizia a primeira: é
minha! - ӎ minha! a outra gritava, e nenhuma se continha, nem a boneca
largava...
Ave Maria, de Olavo
Bilac, traz a minha lembrança o menino ajoelhado aos pés da cama, no final
do dia, rezando. Quanta ternura! “Meu filho, termina o dia... A primeira
estrela brilha... Procura a tua cartilha, e reza a Ave Maria! O gado volta aos
currais... O sino canta na igreja... Pede a Deus que te proteja e que dê vida a
teus pais! Ave Maria!... Ajoelhado, pede a Deus que, generoso, te faça justo e
bondoso, filho bom, homem honrado;...
Minha Terra, de
Baltazar Godói Moreira, traz sobre o contorno de um mapa do Brasil, a
figura de uma menina com um laço de fita na cabeça, exatamente como minha mãe
me arrumava para tirar fotografia. Uma delas foi levada por um fotógrafo que
fazia quadros para decorar a parede das salas. Se eu dominasse toda a técnica
de colocá-la na telinha, iríamos nos divertir muito com essa foto! A poesia
começa assim: Minha terra é muito linda, tem galas e encantos mil, o céu não
cobriu ainda, terra melhor que o Brasil! Era puro civismo!
Sinto que, mesmo com tanta tecnologia, nossas crianças
continuam amando a linguagem poética. São sensíveis e adoram as rimas. Vejo
muita poesia em suas vidas. Lembro sempre de minha mãe cantando canções que
falavam de coisas muito ternas, eram as famosas cantigas de roda, de ninar, brincadeiras,
etc. Ela envelheceu e continua encantando os netos e bisnetos com as mesmas
coisas. A criança que existe dentro dela não morreu. É tão bom recordar! Não
devemos sufocar a criança que também vive dentro de nós!
Que alegria encontrar esse seu relato maravilhoso. Aqui encontrei o que tanto procurava, há tempos. Encontrei com muita alegria o nome do autor do meu inesquecível livro do segundo ano do primário. Muito mais, encontrei uma citação sobre minha poesia preferida " Guapo ". Foi a primeira poesia que memorizei e recitei na escola. Era 1961, no Grupo Escolar de Ocauçu, no estado de São Paulo. Há anos procuro pelo nome do livro, do autor e editora. Ensinei essa poesia para meus quatro filhos e meus dois netos. Agora quero comprar o livro. Se alguém souber como consegui - lo por favor comunique - me. Parabéns pela sua publicação. Acho que tivemos uma infância e educação parecidas. Fiquei muito feliz quando li seu texto.Meu nome é José Raul e sou professor de matemática aposentado.Lecionei no curso de magistério ( curso normal) durante 20 anos em Brasília e aposentei- me em 2003. Tenho muitas histórias e muita saudades.Bj a todos.
ResponderExcluirQue lindo, como isso veio parar em minhas mãos? Meu DEUS, já não me lembrava, só no quando li: SE ALGUÉM SOUBER... é que lembrei - me que esse texto era meu. Confesso que fiquei emocionado com o retorno. Amo as poesias do meu tempo de grupo escolar.
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