sábado, 27 de setembro de 2014

A FICHEIRA

Havia na Fazendinha uma árvore conhecida como ficheira. Suas sementes eram grandes, chatas e ovaladas. Eram de cor marrom. Eu usava como recurso para ensinar a contagem e as operações matemáticas, principalmente, com o primeiro ano. Tinha caixas desse material. Além dos “pauzinhos”, as fichas eram muito úteis. Era um recurso barato, a própria natureza oferecia. Brincando com as fichas, eu ia introduzindo os principais conceitos: contar de dois em dois (números pares), de três em três, quatro em quatro, cinco em cinco, (as tabuadas), ia ensinando adicionar, subtrair, multiplicar, dividir, etc.
Os adultos de lá costumavam usar as fichas para marcar os pontos no jogo de baralho, uma das diversões preferidas à noite. Eu sempre tive aversão ao jogo de baralho, porém, tanto na casa de Seu Diogo, como na casa de Seu Aurélio com quem morei, os primos se reuniam para jogar. Eu ficava observando.
Outra diversão era ouvir jogo de futebol pelo rádio. Rádio era de PILHA. Não havia energia elétrica. A energia produzida lá era fraca, era energia de dínamo. Seu Diogo adorava um rádio. Programa político era com ele. Eu levava sempre um radinho portátil, era um mimo, presente de minha avó Josefa, sempre preocupada com o meu bem estar. Quando havia jogo, todos ficavam em volta dele.
Fumo de corda, produzido lá mesmo pelos filhos de Seu Paschoal, picado e enrolado em palha de milho, era o cigarro consumido por todos que tinham o vício. Pitavam e soltavam longas baforadas. Era tão forte que o cheiro parece estar no meu nariz até hoje.
Outro deleite dos adultos que cresceram trabalhando no engenho, era a PINGUINHA que produziam. Era de excelente qualidade. Todo final de tarde bebiam, riam, enquanto jogavam conversa fora. Tenho muitas saudades.
Na casa de Seu Diogo tinha um cômodo pequenino, que eu usava para preparar minhas aulas, quando não fazia isso na escola. Era do lado da varanda. A casa ficava no alto. Tinha uma vista muito bonita. Era distante da escola. Para chegar nela, eu tinha que passar obrigatoriamente pelo engenho e atravessar um riacho. Quando passava pelo engenho, eles assoviavam, mexendo comigo. Eu ria e continuava. Era uma intimidade saudável. Morei um ano e meio na Fazendinha. As amizades que fiz lá conservo até hoje. Sinto saudades dos que já partiram. Obrigada a todos!

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