Havia na Fazendinha uma árvore conhecida como ficheira. Suas sementes eram grandes,
chatas e ovaladas. Eram de cor marrom. Eu usava como recurso para ensinar a
contagem e as operações matemáticas, principalmente, com o primeiro ano. Tinha
caixas desse material. Além dos “pauzinhos”, as fichas eram muito úteis. Era um
recurso barato, a própria natureza oferecia. Brincando com as fichas, eu ia
introduzindo os principais conceitos: contar de dois em dois (números pares),
de três em três, quatro em quatro, cinco em cinco, (as tabuadas), ia ensinando
adicionar, subtrair, multiplicar, dividir, etc.
Os adultos de lá
costumavam usar as fichas para marcar os
pontos no jogo de baralho, uma das diversões preferidas à noite. Eu sempre
tive aversão ao jogo de baralho, porém, tanto na casa de Seu Diogo, como na
casa de Seu Aurélio com quem morei, os primos se reuniam para jogar. Eu ficava
observando.
Outra diversão era
ouvir jogo de futebol pelo rádio. Rádio era de PILHA. Não havia energia elétrica.
A energia produzida lá era fraca, era energia
de dínamo. Seu Diogo adorava um rádio. Programa político era com ele. Eu
levava sempre um radinho portátil,
era um mimo, presente de minha avó Josefa, sempre preocupada com o meu bem
estar. Quando havia jogo, todos ficavam em volta dele.
Fumo de corda,
produzido lá mesmo pelos filhos de Seu Paschoal, picado e enrolado em palha de
milho, era o cigarro consumido por todos que tinham o vício. Pitavam e soltavam
longas baforadas. Era tão forte que o cheiro parece estar no meu nariz até
hoje.
Outro deleite dos adultos que cresceram trabalhando no
engenho, era a PINGUINHA que
produziam. Era de excelente qualidade. Todo final de tarde bebiam, riam,
enquanto jogavam conversa fora. Tenho muitas saudades.
Na casa de Seu Diogo
tinha um cômodo pequenino, que eu usava para preparar minhas aulas, quando não
fazia isso na escola. Era do lado da varanda. A casa ficava no alto. Tinha uma
vista muito bonita. Era distante da escola. Para chegar nela, eu tinha que
passar obrigatoriamente pelo engenho e atravessar um riacho. Quando passava
pelo engenho, eles assoviavam, mexendo comigo. Eu ria e continuava. Era uma
intimidade saudável. Morei um ano e meio na Fazendinha. As amizades que fiz lá conservo
até hoje. Sinto saudades dos que já partiram. Obrigada a todos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário