Lecionar na zona rural era dar aula para o primeiro, segundo
e terceiro anos ao mesmo tempo e no mesmo período. O professor era responsável
pela matrícula. Era preciso percorrer a redondeza e arrebanhar os alunos em
idade escolar. Havia um mínimo exigido por lei. O prédio da escola da Fazendinha
era muito simples, de alvenaria. Não era forrado, motivo pelo qual tinha que
ser lavado com frequência. Não havia água encanada, mas tinha um córrego ao
lado dele. Era de lá que baldeávamos água. Não havia banheiro, apenas uma
“casinha”, isolada da sala de aula, com uma privada de buraco. A escola era
cercada com fios de arame farpado. Na porta de entrada da classe havia uma
pequena área coberta e uma varanda onde era servida a merenda. Era na casa de
Seu Diogo que a mesma era preparada. Quando dava a hora do recreio, uma das filhas
vinha trazer. Eu dava aula à tarde, mas passava toda a manhã na escola.
Aproveitava para preparar as aulas, corrigir cadernos, preparar material
didático, etc. Professor na zona rural era responsável por tudo. Eu tinha um
zelo muito grande por minha escola, por meus alunos.
Lembro-me perfeitamente dos meus primeiros aluninhos. Dei
aula para os netos de Seu Diogo: Paulo Roberto, Renato, Marlene, Alice. Preparei a Maria
Ocléris, sua filha, para o exame de admissão ao ginásio. Também foram meus
alunos os filhos mais novos do Seu Paschoal. Na minha primeira turma, havia
além dos Martins, alunos da família Oliver, Biazi, Gutierres todas proprietárias de
sítios ali em volta. Poucos colonos.
Na época, havia aula aos sábados. Tínhamos férias em julho,
mês inteiro. As férias do final do ano começavam em 15 de dezembro e iam até 15
de fevereiro. Pasmem, dois meses! Aos sábados, eu dava aula de manhã. Meu pai
ia me buscar no meio do dia. Quando o Seu Diogo vinha para a cidade no domingo,
eu aproveitava a carona e voltava com ele. Até hoje sinto certa nostalgia nos
finais de tarde de domingo. A volta antecipada no domingo me impedia de ir ao
cinema e curtir mais um pouco a minha família. O que me consolava era o carinho
que recebia de todos os novos amigos. Até hoje me relaciono muito bem com as famílias
que me acolheram. Na Fazendinha pouca gente ficou. O prédio da escola ainda
existe, mas não funciona mais. O engenho foi desativado. Os mais velhos
faleceram, os mais novos mudaram para a cidade. Cheguei a voltar algumas vezes
lá para matar a saudade.
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