sexta-feira, 19 de setembro de 2014

MINHA PRIMEIRA TURMA DE ALUNOS

Lecionar na zona rural era dar aula para o primeiro, segundo e terceiro anos ao mesmo tempo e no mesmo período. O professor era responsável pela matrícula. Era preciso percorrer a redondeza e arrebanhar os alunos em idade escolar. Havia um mínimo exigido por lei. O prédio da escola da Fazendinha era muito simples, de alvenaria. Não era forrado, motivo pelo qual tinha que ser lavado com frequência. Não havia água encanada, mas tinha um córrego ao lado dele. Era de lá que baldeávamos água. Não havia banheiro, apenas uma “casinha”, isolada da sala de aula, com uma privada de buraco. A escola era cercada com fios de arame farpado. Na porta de entrada da classe havia uma pequena área coberta e uma varanda onde era servida a merenda. Era na casa de Seu Diogo que a mesma era preparada. Quando dava a hora do recreio, uma das filhas vinha trazer. Eu dava aula à tarde, mas passava toda a manhã na escola. Aproveitava para preparar as aulas, corrigir cadernos, preparar material didático, etc. Professor na zona rural era responsável por tudo. Eu tinha um zelo muito grande por minha escola, por meus alunos.
Lembro-me perfeitamente dos meus primeiros aluninhos. Dei aula para os netos de Seu Diogo: Paulo Roberto, Renato, Marlene, Alice. Preparei a Maria Ocléris, sua filha, para o exame de admissão ao ginásio. Também foram meus alunos os filhos mais novos do Seu Paschoal. Na minha primeira turma, havia além dos Martins, alunos da família Oliver, Biazi, Gutierres todas proprietárias de sítios ali em volta. Poucos colonos.
Na época, havia aula aos sábados. Tínhamos férias em julho, mês inteiro. As férias do final do ano começavam em 15 de dezembro e iam até 15 de fevereiro. Pasmem, dois meses! Aos sábados, eu dava aula de manhã. Meu pai ia me buscar no meio do dia. Quando o Seu Diogo vinha para a cidade no domingo, eu aproveitava a carona e voltava com ele. Até hoje sinto certa nostalgia nos finais de tarde de domingo. A volta antecipada no domingo me impedia de ir ao cinema e curtir mais um pouco a minha família. O que me consolava era o carinho que recebia de todos os novos amigos. Até hoje me relaciono muito bem com as famílias que me acolheram. Na Fazendinha pouca gente ficou. O prédio da escola ainda existe, mas não funciona mais. O engenho foi desativado. Os mais velhos faleceram, os mais novos mudaram para a cidade. Cheguei a voltar algumas vezes lá para matar a saudade.

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