quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O DIA D

O Dia D finalmente chegou. Chamo de Dia D, o tão esperado dia de escolher minha Cadeira Prêmio. Às vésperas de ir a São Paulo, eu estava na frente de minha casa, quando Seu Elzo e Dona Maria passaram, fazendo o mesmo caminho que faziam todos os dias. Voltavam para casa depois de mais um dia de trabalho. Pararam para conversar comigo e me desejaram uma boa escolha. Lembro-me das palavras de Seu Elzo: “Você vai escolher em Lençóis”. Dona Maria retrucou: “Não, em Lençóis não tem vaga”. Mesmo assim, alimentava no coração a esperança de pelo menos não escolher muito longe daqui.
Na véspera do dia marcado para a escolha, eu e a Toninha Portes fomos para São Paulo. Ficamos hospedadas na casa de uma parente dela. DIA D, lá estávamos nós, muito ansiosas. O regulamento para escolha funcionava assim: eram chamadas três formadas com média nove no Curso Normal e uma com média nove no Curso de Aperfeiçoamento. Sendo assim, eu fui passando à frente da Toninha. Realmente, na relação de vagas havia uma vaga no Segundo Grupo Escolar de Lençóis Paulista, o grupo onde a D. Maria era Diretora. O destino brincou com a Toninha. Morando em Areiópolis, escolheu uma vaga na Barra Bonita, a mais próxima.  Ela assumiu na Barra Bonita, mas nem esquentou a “cadeira”, pois, por permuta, trocou com uma professora da Barra que estava em Areiópolis. Moral da história: alcançamos nosso objetivo, conquistamos nossa ”Cadeira Prêmio”.
A batalha ainda não estava ganha. Tínhamos que passar por um rigoroso exame de saúde, só assim seríamos nomeadas. No dia determinado, lá estávamos nós. Passamos por exames de tudo que é especialidade, nem os dentes foram poupados. Cada médico na sua especialidade. Eu gozava de boa saúde. Não tinha com o que me preocupar. Porém, vejam o que aconteceu comigo. Eu usava óculos. Sempre tive uma “miopia acentuada” no olho direito. O Oftalmologista começou justamente a me examinar pelo olho direito. Vendo o “grau da miopia”, soltou com todas as letras: COMO PODE UMA CEGA QUERER SER PROFESSORA? Vocês não imaginam a dor, a humilhação de ser tratada daquela maneira. Feito o exame do outro olho, ele me dispensou. Pela minha cabeça passava tudo, principalmente, a dor que causaria a meus pais se fosse barrada. Tínhamos que voltar para casa com o laudo nas mãos. Foi um calvário esperar pelo mesmo. Graças a Deus, o oftalmo foi consciencioso, eu tinha sim, condições de exercer a profissão pela qual lutara tanto.
Há coisas que acontecem na vida da gente, que ao invés de nos jogar para baixo, nos animam a continuar. São verdadeiros DESAFIOS!

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